De volta ao passado

Sobressaem aos olhares e memórias, os tijolos à vista, realçados pela intenso vermelho das terras cosmopolenses, confeccionados da velha olaria central, portadas de madeira estremando os acessos às casas, cercas de “taquara-bambu” demarcando os quintais, avultados de espécies frutíferas de árvores, aos parreirais de uvas e figos cultivados em arcos; ruas rejeitas de terra batida, jovens pedalando com suas admiráveis bicicletas, quem sabe levando uma namorada na garupa, várias crianças, livres brincando; os significativos canteiros centrais arborizados, realçados pelos icônicos  flamboyants, abalizando as entradas e saídas, aos pés de macaúbas, piúvas rosas e jambeiros. Com certeza, uma típica e saudosa colônia da Fazenda Usina Ester, um dos maiores complexos coloniais de São Paulo.

A imagem registra uma vista parcial da Colônia do Saltinho, fotografada em 1964, amadoramente pelos irmãos Tergolino, acervo do patriarca da família, o saudoso “Zé Tergolino”. Na imagem, em cada olhar uma perspectiva histórica, são as cocheiras ao fundo, na esquerda da foto, utilizadas para acomodar os animais empregados nos transportes dos colonos e carregamentos canavieiros, como cavalos, burros, bestas, aos bois de carro. Outro expressivo delineie são as fiações elétricas da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), e as pequenas luminárias públicas de ágata, quase desaparecendo na amplitude da imagem, devido as dimensões das arandelas e lâmpadas incandescentes.
A colônia Saltinho, com sua marcante Capela de São Sebastião, Sede, salão social da comunidade, foi totalmente demolida nos últimos meses de 2013, entre setembro e outubro. As constantes invasões das casas, muitas vezes realizadas com auxílios de movimentos sociais de outros estados e regiões, atos de vandalismos e aumento da criminalidade nos acessos ao complexo, assinalavam os processos de demolição da colônia.

História
A Colônia Saltinho surgiu como núcleo operário da Carril Agrícola Funilense, os moradores eram responsáveis pelas instalações das linhas férreas e construções de pontes sobre os rios Pirapitingui e Atibaia, entre 1890 e 1891. Nestas obras, realizadas pela sociedade dos primos Barão Geraldo de Azevedo e Cel. João Manuel de Almeida Barboza, proprietário da Fazenda Funil, ampliava as reservas hídricas da Represa Pirapitingui, assim como um meio de conter as águas para as obras das pontes, criando canais de pedras no Pirapitingui, surgindo o conhecido “Paredão do Saltinho”.
As colônias eram remanescentes da Fazenda Rio das Pedras, pertencente aos “Barboza de Oliveira”, pais de Maria Amélia Barboza de Oliveira, a Baronesa Geraldo de Rezende, familiares do ilustre jurista e político Ruy Barboza. O peculiar nome “Saltinho” da colônia e barragem é uma alusão paulista às pequenas cachoeiras das imediações, referidas como “saltinho d’água”, nomeando a região.
Os marcantes bambuzais e flamboyants nas adjacências aos acessos do Saltinho, antiga Estrada Campinas, abalizam as passagens das famílias Barbozas e Souza Rezende, sobretudo a Baronesa Maria Amélia, a qual introduziu as espécies para quadrarem como barreiras ao sol, formando sobreiros nos caminhos das suas fazendas.

Em 1898, com a compra da Fazenda Funil pela família Nogueira, a colônia era recriada e ampliada como núcleo de trabalhadores canavieiros e suas famílias, seguindo os projetos do escritório Ramos de Azevedo e Dumont Villares, responsáveis pelas obras dos complexos industriais, coloniais e demais edificações da Usina Ester.
A Capela de São Sebastião foi edificada nos anos 1970, idealizada pelo ministro Rodolfo Rizzo e comunidade católica da colônia. Nos decorrentes anos, aconteceram obras de reestruturação da capelinha, seguindo o mesmo modelo arquitetônico até sua demolição.

Adriano da Rocha (Curta e siga @AcervoCosmopolense) – Foto: Acervo Família Tergolino