De volta ao passado

Na terra dos canaviais, a semana foi assinalada pelo fim da primeira safra de cana de açúcar, distinta pelo recorde histórico da Usina Ester, Grupo Ester Agroindustrial, com a marca de 675 toneladas (ton/maq/dia), produzidos em quase sua totalidade, em terras cosmopolenses. Histórico número nos 124 anos da indústria açucareira, dentre as mais antigas em funcionamento ininterrupto no mundo, alcançado com a total modernização das operações, principalmente, a mecanização dos cortes, replantios e preparo dos canaviais

No passado cosmopolense, dias caracterizados pelas diversas celebrações populares e religiosas, iniciadas pelo soar das estridentes sirenes da Usina Ester, anunciando o término da safra e suas produções. As celebrações religiosas e populares traziam o Bom Jesus da Cana Verde, primeiro padroeiro das terras cosmopolenses, estabelecido pela família Villares de Almeida Barboza para a Fazenda do Funil, venerado pelas famílias Nogueira Ferraz e antigas gerações de paulistas. O Bom Jesus da Cana Verde, considerado o mais antigo padroeiro de São Paulo, recebia as preces e agradecimentos nos terços dos fornecedores de cana, conhecidas “rezas do Pinheirinho e Nova Campinas”, liturgias da comunidade católica, e a famosa festa da cana verde, a qual ressurgiu nos anos 1950, como a consagrada “Festa da Cana”.

Em destaque, uma imagem dos primeiros anos de 1910, registrando as chegadas dos “trenzinhos canavieiros”, o mesmo modelo da Praça dos Ferroviários, realçando seus vagões repletos de toneladas de canas, desembarcando nos pátios do complexo industrial da Usina Ester. Notabiliza-se na imagem, colorizada pelo Centro de Memória e Preservação Histórica de Cosmópolis, a antiga entrada comercial da Usina Ester, realçada pelos tijolos à vista, ornamentos, nome da companhia e fundação em alto relevo, esculpido em mármore paulista, e o imponente relógio central.

Projeto do renomado “Escritório de Arquitetura e Engenharia Ramos de Azevedo”, realizado em conjunto com outras concepções do ilustre arquiteto, como a primeira Igreja Matriz de Santa Gertrudes de Helfta, “Sobrado” (chalé e palacete Irmão Nogueira), e o armazém central da Carril Agrícola Funilense, futuro Mercadão de Campinas. Obras encomendadas pela família Nogueira Ferraz, familiares de Ramos de Azevedo, supervisionadas pelo jovem arquiteto Dumont Villares, sobrinho do inventor Santos Dumont, assim como do Cel. João Manuel de Almeida Barboza, acionista da Carril Agrícola Funilense, e antigo proprietário da Fazenda Funil.

Imagem que seria reproduzida pela Casa Garaux, importante empresa de tipografia especializada e postais de São Paulo, em cartões postais de circulação internacional, utilizados para promover a indústria e agricultura paulista no mundo, sobretudo na Europa. Nas versões de cartão postal internacional, com verso utilizado como “bilhete postal”, reservado para mensagens dos remetentes aos destinatários, as descrições da imagem possuíam legendas em francês e inglês.

A imagem em destaque acabou não sendo aprovada para os postais internacionais, propagandas da indústria açucareira e governamental, devido à ausência do trenzinho, moderno equipamento construído na Inglaterra, exclusivamente para as produções agrícolas da família Nogueira. A imagem foi arquivada no acervo pessoal da família, preservado no escritório central da Usina, permanecendo restrita durante mais de 100 anos, então somente digitalizada e divulgada para o público em 2016.

Texto: Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) – Foto: Acervo Ester Agroindustrial