De volta ao passado

Semana marcada pelas comemorações a São Pedro e São Paulo, últimos santos juninos católicos, exaltados mundialmente no dia 29/06, com marcantes festividades e celebrações religiosas. Atualmente para muitos paulistas e dirigentes culturais, a data e suas tradições em louvor ao Padroeiro raramente são lembradas nas festividades juninas do Estado, notabilizando a prática nacional para o dia 29/06, realizando as celebrações somente para São Pedro, o popular porteiro dos céus, fundador da Igreja Católica.

No passado cosmopolense, a data era referência regional pelas grandiosas festas e quermesses na Usina Ester, organizadas pelos colonos e diretores da secular indústria açucareira. Eram dias de muita fé e típicas tradições paulistas aos santos juninos, em especial, as celebrações ao padroeiro da Fazenda Usina Ester e patrono religioso do Estado, o Apóstolo São Paulo de Tarso. Desde os primórdios bandeirantes, o santo é religiosamente celebrado pelos paulistas, comumente exaltado nas capelinhas e mastros juninos, ao lado de Santo Antônio (13), São João (24), e o apóstolo São Pedro, o qual dividia o icônico estandarte com São Paulo.

Em terras cosmopolenses, a festividade evidenciava-se quando Esther Coutinho Nogueira realizava uma promessa para São Paulo, santo de devoção da família, pedindo pela intercessão divina no salvaguardo do filho, Paulo Nogueira Filho, o qual coordenava operações na Revolução Constitucionalista de 1932.

Em ação de graças pelo filho e os soldados constitucionalistas, o movimento revolucionário oficialmente culminou em 9 de julho, foram celebradas missas diárias em louvor a São Paulo, empreendidas na Igreja Matriz de Santa Gertrudes de Helfta. Cosmópolis era caminho obrigatório das tropas nos movimentos militares pela região e sul de Minas, sendo criado pelo Nogueira Filho, Paulito, uma central de comandos militares no “Sobrado”, assim como no complexo industrial da Usina Ester, utilizado para testes de fabricação da pólvora negra e munições.

Com o fim da Revolução, Paulito era exilado pelo Ditador Getúlio Vargas, juntamente com outros comandantes constitucionalistas, estando proibidos os regressos ao Brasil. A promessa seguia na fé da saudosa mãe, extremamente fervorosa, prometendo a construção de uma igreja dedicada para São Paulo na Usina Ester, quando o filho conquistasse o direito político de voltar para sua terra. Infelizmente, Esther não alcançou a graça em vida, falecendo devido às inúmeras sequelas geradas pela saudade do filho, em 1941. Paulito conseguiu o indulto em 1945, regressando no fim da Segunda Guerra Mundial, quando o ditador Getúlio Vargas foi deposto pelo comando militar brasileiro.

A construção da Igreja de São Paulo, promessa de Esther ao padroeiro da família e fazenda Usina Ester, somente aconteceria no início dos anos 1970, quando o projeto foi restabelecido pelos irmãos José Bonifácio Coutinho Nogueira e Paulo Nogueira Neto. A igreja surgiu como uma homenagem aos “Paulos” da família Nogueira, o pai dos irmãos, Paulo Nogueira Filho, recém falecido em 23/10/1969, e Dr. Paulo de Almeida Nogueira, esposo de Esther. As obras do templo celebravam os 100 anos de nascimento do Dr. Paulo de Almeida Nogueira, realizadas no mesmo período a remodelagem da antiga estrada da Carril Agrícola Funilense, acesso das locomotivas à Usina, recebendo o nome de “Avenida Centenário”.

As obras uniam as comunidades católicas cosmopolenses, sobretudo os fiéis dos complexos coloniais da Fazenda Usina Ester, responsáveis pelas organizações das festividades em prol da igreja, realizando inesquecíveis eventos em 25 janeiro, aniversário da cidade de São Paulo, e 29/06, data consagrada ao apóstolo. Em destaque, um dos primeiros registros da modernista Igreja de São Paulo, retratada em novembro de 1980.

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) / foto Ivonei Sala