De volta ao passado

Julho de 1932 – mês cultural e tradicionalista do povo paulista, semana notabilizada historicamente em 09/07, pelos 90 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, único feriado Estadual, data cívica mais importante do Estado de São Paulo.
Data marcada na memória e história, símbolo da união popular pelos direitos constitucionais igualitários para todos, maior luta civil da américa latina, revolução paulista em prol do povo brasileiro. O dia 09/07 é o marco da eclosão popular nos movimentos constitucionalistas, convocações e armamentos, então culminadas com as mortes dos jovens Claudio Bueno Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráuzio Marcondes de Sousa e Américo Camargo de Andrade, célebre acrônimo M.M.D.C, em 23/05/1932.

Os jovens estudantes, com raízes familiares em Campinas e região, foram feridos gravemente durante manifestações contra o autoritarismo do governo provisório militar, presidido pelo ditador Getúlio Vargas. As manifestações realizadas na região central de São Paulo, imediações da Praça do Patriarca, reivindicavam o retorno das eleições livres, redemocratização eleitoral e nova constituição, reunindo uma grande multidão das mais diversas classes e idades. Seguindo ordens superiores militares, estabelecidas pelos grupos apoiadores de Vargas, atiradores alvejaram sorrateiramente os manifestantes, ferindo drasticamente 11 pessoas, como o jovem Dráuzio, então com 14 anos de idade, primeiro dos mortos. Um quinto ferido, Orlando de Oliveira Alvarenga, faleceria após três meses de internação, estando no mesmo hospital onde morreram os jovens da sigla M.M.D.C.
A localização da “Villa Cosmópolis”, centrada nos caminhos de acesso férreo e viários para Limeira, Piracicaba, Mogi Mirim e sul de Minas, dentre as maiores bases militares constitucionalistas, transformou o pequeno distrito campineiro em passagem e ponto estratégico das tropas paulistas. A família Almeida Nogueira, proprietários da Fazenda Usina Ester, registrava oficialmente Cosmópolis na história da Revolução Constitucionalista, quando os irmãos José Paulino Nogueira Neto e Paulo de Almeida Nogueira Filho, Paulino e Paulito, assumiam comandos táticos nas ações militares.

O extinto Sobrado da Usina, popular Chalé e Palacete Nogueira, era transformado em central de inteligência militar, devido sua localização singular, projetada pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo, possibilitando olhares privilegiados da região. No complexo industrial da Usina Ester, então um dos mais modernos do mundo, realizaram-se testes para as fabricações de munições, materiais militares e a temida pólvora negra, principal base das balas e bombas militares. Após bombardeios de aviões Getulistas, resultando em mortes e destruição em Campinas, Dr. Paulo de Almeida Nogueira encerrou os testes na Usina, temendo retaliações inimigas no complexo industrial, as quais vitimariam incontáveis moradores das colônias e Cosmópolis. Os aviões de Getúlio, os famigerados “vermelhinhos”, constantemente sobrevoam os céus cosmopolenses, principalmente nas madrugadas, seguindo rotas aéreas para ações militares nos fronts paulistas da região, causando pânico e temor na população.

Nos quase quatro meses da Revolução Constitucionalista, 09/07 a 02/10, o período ficou assinalado nas memórias cosmopolenses, relatado como uma verdadeira guerra, a triste conflagração militar de brasileiros contra brasileiros. Max Hergert, então subprefeito do distrito de Cosmópolis, após votações da população, estabeleceu a prefeitura e Paróquia Santa Gertrudes como centrais militares na Villa, utilizando o campanário da igreja Matriz como receptora de rádio comunicação militar, e privilegiado observatório para os soldados. Com o fim da Revolução, após termo de “rendição” militar das tropas paulistas, houve a invasão de Cosmópolis pelos militares getulistas, tropas federalistas, registrando inúmeras histórias de abusos, saques, e diversas atrocidades geradas pelos espólios e despojos de guerra.
Em destaque na imagem, soldados paulistas manejando o temido canhão de artilharia, utilizado para abater aviões e impedir aproximações de tropas inimigas em Cosmópolis, instalado no Morro Castanho. Umas da raras fotos preservadas pelo saudoso Antonio Damiano, disponibilizada pela nora Rosmari Bernacchi.

Texto: Adriano da Rocha (Curta e siga @AcervoCosmopolense) – Foto: Acervo Família Damiano

*Errata: Na coluna ‘De volta ao passado’ da última edição, o texto dizia que São Pedro, na linguagem popular, foi o fundador da Igreja Católica. O único fundador da Igreja Católica é Jesus Cristo. São Pedro é considerado como o primeiro Papa. Pedimos desculpas pelo equívoco.