De volta ao passado

Julho de 1959 – há exatos 63 anos em Cosmópolis – Acentuada estiagem no Rio Jaguari, realçando as marcas da seca, baixa das águas, na extinta “Ponte do Funil”. Uma imagem repleta de memórias e saudades aos contemporâneos, e muitas curiosidades para as novas gerações. Foto raríssima, registrada sobre um barco nas turbulentas águas do Rio Jaguari, região de pedrarias e cachoeiras.

Com certeza, nas suas trilhas e aventuras pelas terras da secular Fazenda Usina Ester, você observou enormes pilastras nas imediações das cachoeiras do Jaguari, região dos poços fundos. Um conjunto de bases feitas de pedras, retiradas do próprio rio, grandes tijolos de barro, com diversas alças retorcidas de ferro maciço, evidenciados em muitos pontos. As ferragens expostas, alças e “vigotas” de aço maciço, são trilhos das estradas de ferro das companhias Funilense e Mogiana, forjados e reutilizados nas obras de sustentação da gigantesca ponte. Ferragens importadas pela “Cia Mogiana de Estradas de Ferro”, fabricadas sob encomendas em fundições da Inglaterra, juntamente com os trens das companhias, fornecidas para as obras da Funilense.

As bases são os últimos resquícios da histórica “Ponte do Funil”, também conhecida como “Ponte Azul”, nomeação que predominou nos anos 1960, após as reformas e ampliações das estruturas, devido aos pontos pintados em tinta óleo azul.

A ponte realizava os acessos férreos para os complexos industriais e coloniais da Usina Ester, como as colônias da Granja e Sobrado Velho, “Villa Americana”, e sobretudo as propriedades de grandes acionistas e associados das companhias férreas. A edificação é um projeto arquitetônico e férreo da Carril Agrícola Funilense, idealizado no fim dos anos 1890, surgindo como principal acesso férreo as fazendas dos coronéis José Guatemozin Teixeira Nogueira (Morro Alto), João Batista de Souza Aranha (região dos atuais bairros rurais Itapavussu, Uirapuru e Coqueiro), Francisco da Rocha (Fazenda São Luiz, região central de Paulínia), as terras dos Barboza de Oliveira (Rio das Pedras), e Barão Geraldo de Rezende (presidente da Funilense, e proprietário da Fazenda Santa Genebra, entre outras).

A “Ponte do Funil”, extinta Ponte Azul, pertencia a um conjunto de outras pontes férreas sobre os rios Jaguari, Atibaia e Pirapitingui, construída no mesmo período da famosa “Ponte de Ferro”, interligando as regiões da Funilense. As pontes férreas eram utilizadas como carreadores das produções agrícolas dos associados, sendo o atual “Mercadão de Campinas”, o armazém central dos produtos, que seguiam pelos trilhos das companhias Paulista e Mogiana, para a venda e exportação em São Paulo e Santos.

Na madrugada de 24/02/1970, há marcantes 52 anos, as intensas chuvas formavam a maior enchente da nossa história local, amanhecendo as terras da fazenda Usina Ester e acessos ao município de Cosmópolis, totalmente ilhados, isolados pelas águas dos rios Jaguari, Pirapitingui e Três Barras, o Baguá. A força das águas do Jaguari, transbordando pelas chuvas e enchentes “desaguadas” no rio, invadiam matas, casas próximas, provocando pânico e destruição com suas correntezas.

As águas cobriam uma ponte férrea em Paulínia, região do João Aranha, trazendo os gigantescos destroços de pedras e ferros para os cursos cosmopolenses. Na madrugada, os enormes destroços destruíram a base central de sustentação da Ponte de Ferro, praticamente coberta pelas águas, carregando os escombros para a “Ponte Azul”. Encoberta pelas águas do Jaguari, ainda com as chuvas dos dias anteriores, as estruturas não suportavam as arrasadoras passagens dos destroços, “rodando” a Ponte. Na linguagem paulista, “rodar” é levado pelo forte golpe, um verdadeiro evento “cascata”, o qual gerava o isolamento de Cosmópolis, já que as pontes sobre os rios Pirapitingui e Baguá ficaram encobertas pelas águas. A madrugada ficou conhecida como “a noite das águas”, marcada pela destruição da “Ponte Azul”.

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) / foto Acervo Usina Ester