De volta ao passado

1960 – há exatos 62 anos – “Paredãozinho”, “cachoeiras do Baguá”, famosas “caixinhas” da “Central de Captação de Água do Ribeirão Três Barras”, então instalada nas imediações do trecho final da atual rua Francisco Cesário de Azevedo. O sistema de vazantes, divididos em caixas d’água (motivo do apelido), empreendia os processos de limpeza das impurezas das captações no Três Barras, conhecido “Rio Baguá”, represando folhas, pedras e detritos diversos das águas. Juntamente com a central de captação e suas “caixinhas”, mantinham-se os viveiros municipais de mudas, encarregado nas formações de árvores nativas, frutíferas e flores, utilizadas nos projetos paisagísticos de locais públicos, arborizações e reflorestamentos, sobretudo nas margens do Baguá, evitando assoreamentos e erosões.

Inicialmente, as águas captadas seguiam em dutos para a “Central de Tratamento, Abastecimento e Distribuição”, a renomada “Casinha”, antiga sede do DAE- Departamento de Água e Esgoto – sendo tratada e reservada na “Caixa d’água Fulcral”, o icônico “Castelo”, histórico complexo de serviços públicos, localizado na “Praça do Castelo”, esquina das ruas Monte Castello e Cel. João Aranha.

Idealizado nos anos 1930, seguindo os programas de modernização e ampliação dos sistemas de saneamento paulista, o projeto somente foi estabelecido em 1946, através dos trabalhos do prefeito nomeado Gentil Bicudo, o qual conseguiu estruturar com as secretarias estaduais, os estudos e aprovação do governo. Somente em 1948, gestão de João Guilherme da Paz Herrmann, “João da América”, primeiro prefeito eleito pelo voto direto, realmente as aguardadas obras iniciaram, construídas e inauguradas em etapas, entre 1949 e 1951. A inauguração oficial, funcionamento de todo o complexo, aconteceu em 1951, com a visita do governador Lucas Nogueira Garcez, recebido com honras e celebrações na “Casinha”, onde conheceu todos os processos de captação, tratamento e abastecimento de água. Obras realizadas com recursos estaduais, municipais e privados, como o imprescindível apoio da família Nogueira, proprietários da Usina Ester, intermediadores dos financiamentos do grandioso e singular complexo de saneamento, como nas compras dos modernos maquinários, importados da Europa e Estados Unidos da América.

Com o aumento significativo da população, fim dos anos 1960, marco das obras de construção do polo petroquímico da Petrobras, em Paulínia, a captação do Baguá recebia ampliações, surgindo uma nova central de tratamento e distribuição de água, a base do “Bosquinho”, antiga “Olaria da Carril Funilense”. Mesmo com as ampliações, criação de nova base de tratamento e reservatórios, os complexos não suportariam o constante aumento populacional, principalmente os surgimentos de novas áreas urbanas, muitas em regiões afastadas das velhas tubulações de distribuição. Em 1974, iniciam-se as obras de construção da nova central de captação, tratamento e abastecimento, localizada na Represa Pirapitingui, parceria da Prefeitura de Cosmópolis e Usina Ester, implantada como uma das maiores reservas de água potável do Brasil.

Até sua inauguração oficial, em 30 de novembro de 1979, o Rio Baguá foi o principal responsável pelos abastecimentos de água em Cosmópolis. Somente no fim dos anos 1990, as centrais do Baguá, Bosquinho e Castelo, encerravam suas atividades, finalizadas em etapas, com as inaugurações da “Central de Tratamento e Abastecimento da Vila Cosmo”, conhecida Lagoa, e o novo reservatório da Garagem.

A poluição gerada pelo incessante despejo criminoso de esgoto nas águas do Baguá, desprezados pelos mais absurdos meios, encerravam o ciclo de abastecimento de água potável do Ribeirão, decretado pelos órgãos reguladores estaduais e federais, como impróprio para consumo humano. Séculos de muita história do Rio Baguá, quase desconhecida de inúmeras gerações cosmopolenses, conhecido pelas águas cristalinas, abundâncias de peixes, flora, fauna e suas famosas “biquinhas”, fontes naturais formadas nas suas inúmeras vertentes e nascentes.

 

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) / foto Acervo Público Cosmopolense