De volta ao passado

1993 –um domingo, há exatos 29 anos – Histórica esquina, cruzamento da velha “Estrada Campinas”, antigo marco da Rodovia Professor Zeferino Vaz, SP-332, com a rua Alexandrina Nogueira Ferraz, atuais ruas Campinas e Dr. Campos Salles.

A imagem registra o derradeiro armazém da região central, o qual encerrava suas atividades com o falecimento do seu último “vendeiro”, o comerciante Anthu Massud. Dias depois do registro, um conjunto de imagens, os novos proprietários realizavam os processos de reformas e modernização do prédio. Nas laterais, gigantescos quintais que cruzavam partes do quarteirão, seriam terraplanados para as construções de novos prédios comerciais.

Anos depois, o prédio sediaria a “Farmais”, a popular farmácia do saudoso Walter, onde, durante anos, trabalhou o conhecido “Gusto da Farmácia”. Na esquerda do extinto armazém, em 1994, era inaugurado no novo prédio, os estúdios e escritórios da “Rádio Frequência FM”, uma das primeiras emissoras de Cosmópolis, direcionada pelo empresário Valter Zacharias.

História

Durante mais de 60 anos, o histórico prédio estabeleceu a “Casa Massud”, famoso armazém de secos e molhados de Chafi e Anthu Massud, atualmente a loja “Realce Cosméticos”. Nos anos 1980 e início dos anos 1990, a edificação atraía os olhares pelo clássico projeto campineiro da arquitetura, estabelecimento e residência aos fundos, mas principalmente, pelas marcas do tempo no prédio. Parecia que o “tempo parou” naquele lugar, em todos os sentidos. Em local privilegiado, o prédio contrariava o “progresso” comercial e imobiliário de Cosmópolis, preservando características únicas na região, um segmento em fase de extinção, o último armazém central. Outros estabelecimentos insistiam ao progresso comercial e chegada das grandes redes, porém, o Armazém Massud permanecia recluso e intacto às modernidades, fossem elétricas e industriais, com mínimas modificações estruturais, sobretudo nos meios de vendas e produtos.

A edificação foi construída na década de 1910, pioneirismo do fazendeiro José Vieira da Silva, edificado inicialmente como residência para a numerosa família, conhecida pelos membros como “casa na villa”. Com a morte de “Zé Vieira”, em 1928, a família decide vender o prédio e investir em agricultura. Nas mudanças de proprietários, houve inúmeras intervenções na arquitetura, ampliações e melhorias, funcionando como hospedaria de viajantes, depósito de sacas de café e cereais, até ressurgir como casa comercial nos anos 1930, através do visionário “Zé Di Sacco”, recriando comercialmente a velha edificação. Nesta fase, “Zé Di Sacco” fundou a “Casa Esther”, um moderno comércio de produtos diversos, revendendo itens de mercearia, vestimentas, armarinhos e utilidades para o lar.

Nos anos 1940, a família Massud assumia a antiga “Casa Esther”, então direcionada pelo saudoso José Di Sacco e filhos, os quais seguiam outros segmentos comerciais, “passando o ponto” e prédio, aos imigrantes sírio-libaneses. As instalações, móveis comerciais, cores e arquitetura, interna e externa, permaneceram intactas até os últimos dias de funcionamento do armazém, com mínimas modificações no estabelecimento e residência aos fundos.

Os vendeiros Massud, Chafi e Anthu possuíam estatura mediana e marcantes traços árabes, pele morena clara e cabelos pretos, acentuados pelos enormes bigodes e sobrancelhas. Pessoas extremamente simples, todos da família possuíam uma voz grossa característica, especialmente o Anthu, notabilizadas pelo sotaque libanês em algumas palavras, realçadas nas transações comerciais e causos contados no balcão. Realmente, importantes figuras da história comercial cosmopolense, marcantes personagens nas vidas de muitos moradores, assim como o velho prédio, ainda resistente ao tempo e “progressos”.

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) /Foto Acervo Público Cosmopolense