De volta ao passado

24/08/1890 – há exatos 132 anos – Surgia oficialmente a “Companhia Carril Agrícola Funilense”, símbolo de todas as vertentes do progresso, marco do surgimento de cidades, sobretudo de uma das regiões mais importantes do Estado, principalmente para a economia e desenvolvimento nacional. Idealização dos célebres capitalistas agrícolas, o Barão Geraldo de Rezende, proprietário de inúmeras fazendas, destacando a renomada Santa Genebra, e o Cel. João Manuel de Almeida Barboza, herdeiro e desbravador da “Fazenda do Funil”.

O nome da companhia, criada para os transportes das produções agrícolas aos centros comerciais, é uma homenagem à histórica e gigantesca “Fazenda do Funil”, a qual deteria a maior passagem de trilhos nas suas terras, quase 30 quilômetros, assim como os custos para as obras, especialmente madeira.
Um audacioso projeto, quase impossível devido aos milionários custos das máquinas, assim como o ferro das estradas, todos importados do Reino Unido, fundições da Irlanda, fábricas da Inglaterra, mas principalmente, as obras estruturais de pontes sobre os rios, aberturas de matas, construções de estações, aos nivelamentos dos sinuosos terrenos.

Na concepção original, delineada nos primeiros anos de 1880, a companhia seria férrea e fluvial, utilizando de modernos trens para os transportes até as estações regionais próximas, como a Paulista e Mogiana, e embarcações agrícolas projetadas na França, as “Chalands”, as populares chalanas. As embarcações fluviais, movidas a vapor como os trens, eram muito utilizadas nos Estados Unidos da América, diminuindo os custos com as construções de estradas de ferro e as infraestruturas das obras, e maiormente, devido aos extensos rios, a logística tornava-se mais rápida e fácil.

Portos de embarque e desembarque de produções, estratégicos com as linhas de trens, seriam construídos pelos rios Atibaia, Pirapitingui, Jaguari e Três Barras, seguindo os mesmos projetos criados na Europa, França e Inglaterra, e as expansões comerciais fluviais americanas.
Porém, os rios Pirapitingui e Jaguari, demarcadores de divisas e maiores afluentes da Funil, impossibilitaram as passagens das chalanas em diversos pontos, em consequência das pedrarias e cachoeiras, em muitos pontos, quase intransitáveis pelas embarcações.

Após estudos, realizados por engenheiros especializados em obras férreas, contratados em parceria com a Companhia Paulista, os custos de infraestrutura para as construções de pontes e linhas férreas ultrapassaram os limites de capitais dos idealizadores, surgindo a necessidade de aberturas de capitais, acionistas e o amparo financeiro da Prefeitura de Campinas. Somente em 1890, as tratativas eram oficializadas pela prefeitura de Campinas, a qual financiava empréstimos para as obras iniciais, apoiados pelo Cel. José Paulino Nogueira Ferraz, então presidente da Câmara Municipal, e futuro acionista da Funilense.

Mesmo com os suportes financeiros, abertura de capitais, adesão de grandes fazendeiros regionais, dentre os maiores produtores de café e cereais do mundo, as obras e projetos eram interrompidos pela grande epidemia de febre amarela, intensificada com milhares de mortes em Campinas. Os surtos haviam surgido em 1889, vindos do litoral paulista, marcado com a morte da jovem suíça Rosa Beck, de 24 anos, que morreu em 10 de fevereiro. Então desconhecidos os reais meios de contágio, proliferação de mosquitos contaminados e falta de saneamento público, o caos tomou conta de Campinas e região. “Campinas tinha 27 médicos, mas 24 deles fugiram. Ricos e poderosos que escaparam da doença mudaram para outros lugares. Sobraram poucos políticos, como José Paulino e família, ex-escravos e imigrantes, sem condições de partirem”, conta Jorge Alves Lima, historiador campineiro.

Temendo a morte dos familiares, o Cel. João Manuel de Almeida Barboza decide vender suas ações da Funilense, assim como as terras da Fazenda do Funil, mudando-se para o Rio de Janeiro. Em 1898, oficialmente a fazenda era adquirida pelos irmãos Nogueira Ferraz, integrando as terras herdadas pela família, entrando como acionistas na Funilense, ao lado do Barão Geraldo, presidente e majoritário da companhia. Nesta nova fase, surgiam o complexo industrial açucareiro da Usina Ester, núcleos coloniais, “Villa Cosmópolis” e demais vilas, e as estações férreas da Funilense, sendo inaugurada oficialmente em Cosmópolis, em 1899, ainda com o nome de Barão Geraldo. Em destaque, registro de 1902, a chegada de uma locomotiva da Carril Agrícola Funilense na “Estação de Cosmópolis”, então localizada na atual Praça do Relógio Solar”, notabilizando de branco, o Major Arthur Nogueira Ferraz e ferroviários.

Texto Adriano da Rocha (Curta e siga @CentrodeMemoriaCosmopolis) – Foto: Acervo Usina Ester