De volta do passado

Seguindo as antigas tradições paulistas, primórdios da colonização portuguesa no Brasil, o ano começava no dia 06 de janeiro. Uma data santificada pela igreja Católica Apostólica Romana, sobretudo a religiosidade popular, repleta de simbologias, marcada pela fé e seus ritos, desde as penitências na busca da intercessão Divina, ao agradecimento pela graça alcançada.
As “Folias de Reis”, “Reisados” e “Janeiradas” estão entre os mais importantes patrimônios imateriais e culturais de São Paulo, difundido por todo o Brasil pelos desbravamentos Bandeirantes. Uma típica tradição cultural paulista, atualmente, praticamente extinta em terras cosmopolenses. Um dos poucos ritos populares, costumes tradicionais, preservados pelas famílias cosmopolenses, é a partilha da romã, primeiro alimento servido no dia 06/01.
Cada família possui sua própria tradição, simpatia, costume e crença, a mais habitual em Cosmópolis, é comer em jejum a romã, preservando os três primeiros “carocinhos” em pedido aos três Reis. Seus nomes são escritos em um papel, o qual embrulha-se as sementes, que serão guardadas na carteira ou depósito de alimentos. Segunda a velha tradição cosmopolense, a simpatia garante fartura durante o ano. Um dos motivos, principal, pela maioria das casas antigas de Cosmópolis, tempos da “Villa”, possuírem pés de romãs nos quintais e jardins.
Neste período, seguindo a tradição religiosa paulista, os presentes de Natal eram entregues somente no dia 6 de janeiro, dia consagrado aos “Santos Reis Magos”, Gaspar, Baltazar e Belchior. Assim como os Reis presentearam o Menino Jesus, os devotos celebrando e memorando a importante data, entregando presentes para as crianças. Um detalhe respeitável da tradição, os presentes são entregues anonimamente, não sabendo quem eram os benfeitores, realizadas as distribuições por voluntários homens, devotos em ação de graças e fé.

Olha na foto
06/01/ 1952 – Em destaque, grupo de foliões da Usina Ester, “Reisado”, frente musical de devotos, responsáveis pelos acompanhamentos musicais das passagens da “Folia de Santo Reis” nas colônias e bairros rurais. Na frente dos músicos, abrindo caminhos, seguiam as bandeiras em consagração aos reis, nascimento de Jesus, e o estandarte das ofertas, onde os devotos amarram no tecido as doações, “esmolas”, ofertas para as festividades do “Dia de Reis”. Pelos caminhos acompanhavam os icônicos e irreverentes palhaços, simbolizando os soldados romanos. A tradição iniciava na primeira semana de dezembro, seguindo até o dia 06, passando pelas colônias e casas de devotos.
A folia está passando na Fazenda Usina Ester, notabilizando ao fundo a extinta Colônia Botafogo. Histórica imagem captada por José Rodrigues, popular “Zé Rato”, conhecido fotógrafo das colônias.
Estão no registro os colonos, esquerda à direita: Alcides Rissi (primeiro com violão), Hélio Castiglioni (terceiro com cavaquinho), Álvaro de Carvalho (quarto com pandeiro), Luizinho de Carvalho (quinto usando lenço e violão), e Nico Ramos (sexto com batuque). Você reconhece mais algum folião?