Depressão infantil: o mal do século não escolhe idade

Atualmente, a patologia da depressão é um agravante na saúde pública que tem crescido absurdamente o número de pessoas maleficiadas pela doença, “o que nos propõe, num primeiro instante, uma reflexão sobre o tema”, comenta Abigail M. Faria, psicóloga.
Ela ainda explica que “de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 11 – F33), a depressão é um distúrbio que gera tristeza profunda, perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor, que podem acabar em pensamentos suicidas. E em concordância com os dados da Organização Mundial da Saúde, 5,8% da população brasileira têm depressão”.
Especialistas afirmam que a depressão infantil não é um tema tratado com muita frequência e o reconhecimento da existência desta patologia na infância é recente no ramo da psiquiatria, justamente pela dificuldade que a criança tem para falar o que sente.
“Sendo assim, os diagnósticos médicos não eram precisos quanto à depressão, e as crianças que sofriam de ‘comportamento ruim’, ‘tristeza com choros constantes’, ‘birras’, dentre outros sintomas, que eram compilados e tratados como transtorno, síndrome, mas não como depressão”, esclarece.
A Classificação Internacional de Doenças classifica no diagnóstico infantil como Transtorno Depressivo de Conduta, com persistente e marcante Depressão do Humor, pelo fato da criança não obter biologicamente seu aparelho cerebral amadurecido, e suas emoções passíveis e acessíveis para controle e mudança, sendo esta forma de diagnosticar pertinente até os dias atuais.
Em se tratando de criança, o diagnóstico de transtorno depressivo é relevante, uma vez que a idade de aprendizagem e mudança é na infância.
Entretanto, a negação da existência e da possibilidade de uma criança ter depressão contribuiu para o aumento da patologia na população infantil, por outro lado, a busca pela compreensão dos sintomas possibilitou o reconhecimento da depressão infantil como uma questão a ser estudada no âmbito da saúde pública.
Todavia, cabe salientar que a criança com seu pouco entendimento do mundo e consequentemente de suas emoções, não possui maturidade suficiente para relatar um problema explicitamente como um adulto. Porém, seus comportamentos são os vieses pelos quais podem ser identificados os conteúdos problemáticos da existência da patologia da depressão”, acrescenta a especialista.
“A Organização Mundial da Saúde apontou em dados estatísticos que a depressão atualmente atinge cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo; desta população geral, aproximadamente, 8% são crianças (meninos e meninas) no mundo, e no Brasil estima-se que dentre a população total, 3% dos atingidos são crianças – algo perto de oito milhões de crianças e adolescentes sofrem de depressão”, explica a especialista.
Através destes dados, “refletimos a dominância alarmante da doença entre crianças e adolescentes, e percebe-se a preocupação que devemos ter na educação, no ensino dos valores sociais e a importância da função do afeto na maturação dos indivíduos em desenvolvimento”, acrescenta.

Sintomas
Os sintomas da depressão (e/ou transtorno depressivo) em crianças são basicamente os mesmos encontrados nos adultos. Mas, a percepção e formas como são lidadas por cada indivíduo é única e singular. Podem apresentar:
– irritabilidade, humor depressivo, perda do interesse na maioria das atividades ou incapacidade de sentir prazer nelas;
– dificuldade de raciocínio e de concentração;
– falta ou excesso de apetite;
– dificuldades no sono;
– ideias de culpa, ou de menosvalia;
– diminuição das atividades psicomotoras (das ações motoras dependentes de estimulação mental);
– sensação de falta de energia;
– ideias de morte, suicídio ou tentativas de suicídio.

Causas
Assim como nos adultos, múltiplos fatores predispõem à depressão, sendo estes:
– genéticos, quando o indivíduo possui predisposição biológica para ter depressão;
– violência intrafamiliar, inclui todos os âmbitos da violência, além de negligências por parte dos cuidadores, maus

Abigail M. Faria, psicóloga graduada pela Universidade Paulista – UNIP. CRP 06/140725. Contato 19 99356-0327. Email: bigafaria@yahoo.com.br

tratos e falta de cuidados essenciais;
– bullying, um tipo de violência física e psicológica que inclui xingamentos e agressões sofridas pela criança no âmbito escolar ou social;
– luto por perdas de entes queridos.

Tratamentos
“Os tratamentos psicoterápicos e medicamentosos são essenciais para o auxílio do enfrentamento da doença, assim como são utilizados estes tratamentos em adultos não se difere os mesmos tipos de tratamentos para a população infantil”, afirma a psicóloga.

Considerações finais
“A partir deste levantamento dos dados estatísticos, percebemos o crescente número de crianças e adolescentes que sofrem de depressão no país. Infelizmente, esta realidade é assustadora pela quantidade exacerbada de depressivos, e o que nos leva a refletir sobre a precariedade da educação, do ensino dos valores sociais e da importância do afeto para o amadurecimento da criança e adolescente em desenvolvimento.
A necessidade e falta explícita no âmbito dos atendimentos aos que sofrem não só de depressão, mas de qualquer outra doença mental também é um agravante social, que contribui para o aumento das patologias na nossa sociedade.
Com os dados apurados pela Organização Pan-Americana da Saúde, apenas 10% da população afetada por depressão recebem tratamento. A ineficácia e ineficiência incluem a falta de recursos, de profissionais especializados, além da barreira do estigma social associado aos transtornos mentais, denotando preconceito na busca por atendimento”, explica Abigail.
Em países de todos os níveis de renda, as pessoas com depressão frequentemente não são adequadamente diagnosticadas, e outras que não possuem a doença também são diagnosticadas incorretamente, recebendo intervenções desnecessárias.
“O mal do século tem obstruído o nosso pensar sobre nosso papel social enquanto educadores e cuidadores de nossas crianças e adolescentes, que mesmo em idades de desenvolvimento estão à mercê de sentir tristezas profundas e não terem recursos emocionais suficientes para lidar com a dor. Com esta reflexão sobre o tema, introduz uma ruptura do estigma social das patologias mentais, pois a depressão infantil existe, e depressão não escolhe idade” conclui.