Um verdadeiro turbilhão. Assim podemos pensar e refletir a respeito de um período peculiar na vida de uma mulher: o puerpério.
Este período, tão demarcado por alterações e mudanças, é tema de trabalhos acadêmicos, publicações científicas e livros. Muito se pode discorrer e debater a respeito, contudo, nestas breves linhas, sem menosprezar a importância das alterações fisiológicas, vamos focar os aspectos de natureza emocional que se manifestam e suas repercussões na vida de uma mulher.
O puerpério tem uma duração de aproximadamente três meses, e as mamães de plantão, talvez, possam fazer coro: quanta turbulência!
A chegada de um bebê é a firme expressão da realização de um desejo, contudo, se há realização de desejo, por que tanto alarde? Acontece que se trata de um período de extrema ambivalência; a mulher pode sentir-se realizada e desesperada ao mesmo tempo.
Uma excelente ilustração disso é o momento em que se deixa a maternidade em direção ao lar. O ambiente, todo estruturado para essa finalidade, fica para trás, e agora, quem vai dar banho no bebê? Não vai machucar? Da sensação de ciúme à sensação de pavor, tudo se passa em velocidades que desafiam as leis da física.
Embora façamos vários ensaios com nossas bonecas e com brincadeiras de mamãe e filhinha, nada se compara à situação real, que não tem nada de brincadeira. O bebê dorme, que alívio! Mas, não estará dormindo demais? E a cor do cocô? Sim, a cor do cocô! Está normal, doutor?
Em segundos, ocorrem sucessivos deslocamentos entre sentimentos de onipotência e total impotência. O bebê idealizado cede ao bebê real que muda de alojamento, do ventre para os braços, destes para o berço, para a cama do casal e para o colo das visitas que anseiam por pegar o bebê. A mulher, que até então tinha as rédeas de sua vida, torna-se refém de um ‘nanico’, e sente profundas inseguranças quanto à sua capacidade de discernir as necessidades de seu bebê e atendê-las de forma adequada.
Uma nova e irreversível identidade se apresenta, e ao contrário do que as mentes mais inocentes possam pressupor, não tem nada de automático, mágico ou instantâneo no apropriar-se desta identidade. É uma crise! Assumir a identidade de MÃE impõe renúncias e profundas renegociações com a vida. O trabalho, a casa, a carreira, os círculos sociais e o próprio corpo, esse tão perseguido corpo idealizado desta cultura, com silicones, botox, plásticas, luzes e balaiagens, tudo isso fica para depois, bem depois… Até o inofensivo cineminha ficará adiado por tempo indeterminado.
Não há manual que dê conta de tantas questões e angústias. Cada bebê é único, cada configuração mãe – bebê, também. Sem dúvida, na chegada do primeiro filho, tudo isso é vivido com muito mais intensidade, dado o ineditismo da situação. E embora todo esse cenário seja inevitável, e por vezes eliciador de um quadro de Depressão pós-parto, é possível suavizar o caminho com atitudes de acolhimento, aceitação e facilitações (e em alguns casos, com ajuda de profissionais especializados).
Favorecer o transitar e a relação de uma mãe e seu bebê, com atitudes simples, como organizar visitas e auxiliar em afazeres domésticos são medidas ao alcance de todos. A parceria com um pediatra, com quem se possa fazer um bom vínculo, é essencial para que orientações pertinentes aos cuidados com o bebê possam produzir bons resultados. Além disso, o bom e velho “zíper na boca”, que protege de cobranças desnecessárias, críticas, angústias extras e conselhos dispensáveis, é muito bem-vindo. Sem querer ser rude, “muito ajuda, quem não atrapalha”.