Por várias décadas, os desfiles cívicos foram uma grande atração nas comemorações de aniversário da cidade. A festa movimentava centenas de pessoas pelas ruas de Cosmópolis, despertando patriotismo por onde iam. Para trazê-los de volta à memória cosmopolense, pedimos a dois ex-participantes que contassem um pouco da história dos remotos eventos cívicos.
A homenagem era, em especial, para a cidade de Cosmópolis. Todo dia 30 de novembro, ouvia-se o som de fanfarras por toda a Avenida Ester, sentia-se o calor da multidão que esperava ansiosamente por todas as atrações preparadas e o amor pela vida na cidade só aumentava. O aposentado Antonio Rodolfo Rizzo era um desses amantes, e por fazer parte do comitê de organização, acompanhava de perto todo o desenrolar do projeto.
Ele conta que, antes da festa em si, era necessária a formação de uma comissão. Os escolhidos reuniam-se com diretores escolares para discutir todos os arranjos do dia e providenciavam toda a demanda. “Os diretores mandavam uma listagem do que necessitavam para a decoração e nós íamos a Campinas comprar”, afirma Rodolfo.
Segundo o aposentado, era um processo trabalhoso. Via-se necessário manter controle de quem participaria, pois, além das fanfarras escolares cosmopolenses e regionais, recebia-se também a do Exército, os carros de trabalhadores rurais e muitas outras atrações diversificadas. A questão financeira era algo a se preocupar, mas, para Rodolfo, os principais problemas em que se viu preso relacionavam-se a conquista de confiança da população. “Queríamos deixar claro que os desfiles aconteciam em prol do amor pela cidade e nada mais”, confessa ele.
A professora Maria Amélia Carone Arruda também partilhava desse desejo e, sob um olhar mais emotivo, conta como as pessoas passaram a acreditar nesse voto de amor.
Também aposentada e ex-diretora da escola Rodrigo, ela começou a participar dos desfiles por volta da década de 60. “Era lindo! Fantástico, na verdade! O ‘batuque’ era eletrizante e fazia meu coração disparar”, conta com um brilho nos olhos.
Cada escola, conta Maria Amélia, era responsável por uma apresentação. “Costumávamos dar temas ao evento. Estados brasileiros, países do mundo, esportes e vários outros. Era divertido e deixava tudo mais bonito. Lembro-me de um em especial, sobre as estações do ano, onde as mocinhas representantes do inverno, mesmo sob um calor intenso, estavam todas de vestidos longos e chapéu astrakan (chapéu comum na Rússia de tecido grosso e aveludado)”, conta ela com orgulho. “Havia muito comprometimento e as pessoas ficavam impressionadas com isso”.
Inicialmente, apenas as escolas Dr. Paulo de Almeida Nogueira (GEPAN) e a EMEB Rodrigo Octávio Langaard Menezes participavam, mas, com o passar dos anos, algumas outras foram acrescentadas à lista, como Nicolau Nolandi (na época, E.E.P.G. de Cosmópolis), Célio Rodrigues, escolas rurais e a Dr. Moacir do Amaral, também conhecida como Escola de Comércio.
“Quando a Escola de Comércio entrou para os desfiles, a camada de estudantes com mais idade passou a participar também. Era lindo ver toda aquela gente, de todas as idades, juntas nos desfiles. E eles entraram para valer! Houve um episódio em que construíram um globo terrestre de um metro e meio de diâmetro. Ah, foi esplendido!”, conta, em meio a suspiros.
E as belas atrações não paravam por aí. Maria Amélia conta que já fizeram a Estátua da Liberdade! “Uma mocinha a representava e dela saiam todas as profissões, contido em um diploma grande”, conta a ex-diretora.
Quanto às roupas usadas, muitas vezes, eram feitas de papel crepom, o que, segundo ela, duravam apenas o tempo necessário para o desfile, já que, com o calor, estragavam rapidamente. A chegada da fábrica Taurus à cidade mudou a situação e as roupas passaram a ser de jersey (tecido semelhante a malha, de aspecto pesado e brilhoso). “Os pais das crianças, no caso das EMEI’s e EMEB’s, responsabilizavam-se pela compra, mas quando não era possível, nós emprestávamos de outras escolas ou entre coleguinhas mesmo. Fazíamos um excelente trabalho em equipe”.
Para que fosse possível a realização dos desfiles, eram necessários dois meses de ensaio com todas as crianças e adolescentes das escolas. A fanfarra ensaiava durante o ano inteiro, mas os demais alunos não precisavam de tanto. Ainda assim, a diretora e, por todos os anos em que dirigiu a escola, participadora dos eventos cívicos, fazia um trabalho incrível.
“Eu amava pegar a minha turma e, com comissão de frente, levá-la para o desfile. O coração batia muito forte, era extremamente emocionante. A comissão de frente levava as bandeiras com roupas apropriadas e luvas brancas, pois respeitávamos e tratávamos tudo com muita seriedade”, confessa Maria Amélia.
Extremamente rigorosa e disciplinada, a ex-diretora afirma que buscava, de todas as formas, motivar seus alunos a participarem. “Doeu-me o coração quando tudo acabou. Mas, ainda sonho que alguém vai encabeçar esse projeto e trazê-lo novamente a Cosmópolis”, desabafa a aposentada.
Além dos desfiles de músicas cívicas e apresentações temáticas, no período da noite, a cidade se via em constante festa. Para encerrar com chave de ouro, as noites eram repletas de feiras, barracas do que hoje conhecemos por “food truck” e música para o entretenimento da população.
Infelizmente, o tempo passou e os desfiles em homenagem à cidade deixaram de acontecer, restando apenas a nostalgia das manhãs passadas ao som de fanfarras na mente e coração de quem fez parte.