Dia de Santa Gertrudes: conheça a história e viagens realizadas no passado neste dia

No dia 16 de novembro foi comemorado o Dia de Santa Gertrudes. Para celebrar esta data, José Pedroso da Silva escreveu um texto, explicando a história da data e também contando sobre as viagens realizadas no trem da Sorocabana com destino à Campinas, quando a data era feriado municipal em Cosmópolis. Confira abaixo o texto:

História
A família Nogueira, sobretudo o Major Arthur Nogueira, confirmando a invocação e devoção à Santa Gertrudes, Padroeira dos Agricultores, efetivou, no dia 17 de Setembro de 1915, proclamação de Santa Gertrudes como Santa Padroeira de Cosmópolis e, nessa data, a Capela de Santa Gertrudes foi elevada à categoria de Matriz, sendo este ato solene presidido pelo Bispo Dom João Batista Correa Nery e demais autoridades locais.
A imagem de Santa Gertrudes foi encomendada e trazida da França pelo Major Arthur Nogueira, para o Distrito de Cosmópolis.
Santa Gertrudes nasceu no dia 06 de Janeiro de 1256, em Eisleben, na Alemanha.
Órfã dos pais, aos cinco anos de idade, ingressou no Monastério Santa Maria, em Helfta (daí o nome de Gertrudes de Helfta).
Foi uma Monge Beneditina, mística e teóloga alemã. Estudou e se especializou em Literatura e Filosofia; mais tarde, fez estudos das Escrituras e Teologia.
Demonstrava profunda devoção ao Sagrado Coração de Jesus; aos vinte e seis anos, entrou para a vida contemplativa e mística.
Produziu vários textos, sendo dois deles: Revelações do Amor Divino e Exercícios Espirituais. Faleceu em Eisleben, na Alemanha, em 15 de Novembro de 1302, com 46 anos de idade.
O dia de Santa Gertrudes é comemorado no dia 16 de Novembro, data da canonização pelo Papa Clemente XII, em 1677.

Viagem no
Feriado Municipal
Dia 16 de Novembro, dia de Santa Gertrudes, Padroeira do Município de Cosmópolis.
Até 1960, esse dia, feriado municipal, era um dos feriados mais aguardados pela população cosmopolense; não sei dizer se é por causa da comemoração da nossa Padroeira, ou por causa da viagem às compras em Campinas.
O fato é que, nesse dia, grande parte da população embarcava no saudoso trem da Sorocabana rumo à Campinas.
Costumeiramente, o trem transportava apenas dois, no máximo três carros de passageiros no percurso Campinas/Pádua Sales; mas, no dia 16 de Novembro, era necessário acrescentar mais cinco carros de passageiros, pois o povão que embarcava era demais.
A pequena Estação, desde às 6 horas, já estava abarrotada de gente a espera do trem que vinha de Pádua Sales. Por incrível que pareça, o trem já chegava lotado de passageiros de Conchal e Artur Nogueira.
Quando o trem encostava na estação, era um empurra-empurra que dava gosto; coitados do Salvador Vicas e do Chico Moraes, responsáveis pela organização do embarque.
Todos os carros, no total oito carros de passageiros lotados. Lá se vai o trenzinho rumo à Campinas, precisamente às 7h30min. 1ª Parada – Usina Ester, que loucura! Quanta gente! O chefe de trem Henrique João Rogge, com seu tradicional lenço branco no pescoço, todo preocupado, coçava a careca e dizia: “é hoje!”.
Enfim, todos os passageiros da Usina Ester embarcavam, mal cabiam no trem.
A maioria dos passageiros ficava em pé e não reclamava, mas, isso dificultava a venda das passagens feitas pelo chefe de trem, Henrique João Rogge.
Chegando a Campinas, na Estação do Bonfim, às 9h30min, aquele povão, já na Rua Governador Pedro de Toledo, descia quase que em procissão seguindo pela Avenida Andrade Neves, Rua Barreto Leme (Mercadão) e, por fim, Rua 13 de Maio.
Todos os comerciantes de Campinas aguardavam ansiosamente por esse dia, pois, o faturamento estava garantido.
O povão animadíssimo, alguns cumprimentavam até os manequins que ficavam postados na frente das lojas, outros, encantados com os bondes, distraídos, chegaram a perder um dos sapatos nos trilhos dos bondes.
As Sapatarias (hoje Loja de Calçados), lotadas, cujos vendedores não venciam emprestar as meias para os homens experimentarem os sapatos bico fino; nas Casas Pernambucanas, além dos cobertores, travesseiros, as moças aproveitavam para comprar os tradicionais enxovais (coisas da época), mesmo sem pretendente.
Loja Cecato, Casas Bongo, Pastelaria do Chinês, Mercadão Municipal, não vencia moer as canas, pois, o consumo do caldo de cana (garapa) com limão espremido era demais, rapaduras, melado, queijo, não sobrava nada.
No retorno para Cosmópolis, o trem saía da Estação do Bonfim às 16h30min.
O povão cansado, alguns com bolhas nos calcanhares, saía do Centro, passava na fábrica de guarda-chuvas na Avenida Andrade Neves, acabava com o estoque da loja. Todos, com sombrinhas e guarda-chuvas pendurados no braço, seguiam para a estação do Bonfim, embarcavam com seus pacotes amarrados com fitas azul e rosa (nessa época, não existiam sacolas) que mal cabiam nos bagageiros (parte de cima do assento) do trem, cansados, mas, felizes, riam das gafes cometidas nas lojas.
A volta para Cosmópolis era complicada; na saída da Estação José Paulino (Paulínia), durante a subida na região do “Funchal” (Bairro Cascata), o trem patinava e não conseguia subir. Nesse dia, viajava ao lado do maquinista do trem, o ferroviário José Gonçalves (o famoso Bomba), que descia da máquina com duas latas de areia e colocava sobre os trilhos do trem numa distância de 1 km. Os passageiros, curiosos, com as cabeças fora das janelas, não se importavam com os braseiros da máquina, que adentravam nos vagões, queimando, muitas vezes, suas roupas, não estavam nem aí, vinham rindo a viagem toda.
Chegavam a Cosmópolis às 18h30min, cansados, e ainda participavam da Procissão da Santa Gertrudes da Igreja Matriz.
Tudo que é bom, dura pouco…

Em de Junho de 1960, o governador Carvalho Pinto acabou com a ‘farra do boi’.
Conforme Projeto de Lei, o trem foi retirado de circulação do ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, no trecho Campinas/Pádua Sales.
As viagens, no dia 16 de Novembro, passaram a ser feitas pelas empresas de ônibus; mas, já não tinham mais graça.
Conforme Lei Municipal 437/64 de 27 de Outubro de 1964, o feriado municipal do dia 16 de Novembro foi revogado, passando a ser comemorado no dia 30 de Novembro, data da Emancipação do Município de Cosmópolis.
Hoje, tudo mudou; não tem mais passeio de trens, Lojas Pernambucanas, Mercadão, Lojas Bongo, Pastelarias.
Todo o comércio está concentrado nos grandes Shoppings. Não tem mais graça nenhuma.

O mais importante é que dia 16 de Novembro ficou exclusivamente dedicado para os festejos da nossa Padroeira “Santa Gertrudes”.

Por José Pedroso da Silva