A imagem que temos do próprio corpo é entendida como uma representação que “desenhamos” em nossa mente. É uma construção com valores positivos e negativos que atribuímos a essa imagem. A pscicóloga Maristela T. L. Ramos explica que “os valores positivos estão relacionados a sentimentos e comportamentos saudáveis, como prática de exercícios, cuidados com o corpo, relações sociais estáveis e autoestima, e os valores negativos associados a outros casos clínicos como a depressão e a obesidade. Os problemas com a imagem corporal negativa podem progredir de uma insatisfação moderada para uma preocupação extrema com a aparência física, que é uma condição muito estressante. São os valores negativos que podem caminhar para o desenvolvimento de distúrbios de representação do corpo, como a dismorfia corporal”.
A dismorfia corporal é uma patologia que se enquadra nos Transtornos Dismórficos Corporais (TDC), conhecidas como doenças da imagem corporal. A especialista diz que “são mais prevalentes nos homens do que nas mulheres, embora não existam tantas estimativas sobre esses números. Acometem homens desde adolescentes até idosos e fazem parte das obsessões masculinas pelo corpo perfeito. São, muitas vezes, pessoas extremamente fortes e musculosas que se percebem fracas, magras, franzinas e com pouca massa muscular, demonstrando sério comprometimento de sua imagem corporal.
Nesses casos, aboliram o termo Anorexia Nervosa Reversa porque os homens portadores de Dismorfia Muscular não possuem distúrbio alimentar, e sim, alterações na percepção de seus corpos e até obsessões a respeito da musculatura. Outros termos sinônimos também são utilizados na literatura, como Bigorexia e Vigorexia. Independente do termo utilizado, trata-se de uma síndrome psicológica extremamente grave que causa muito desconforto aos portadores e, consequentemente, aos familiares e pessoas próximas”, comenta Maristela.
Sintomas
Os sintomas apresentados são uma preocupação de que o corpo não é suficientemente magro e musculoso, em ser muito pequeno ou medo de estar gordo. “Passam a incluir longas horas levantando peso e uma excessiva atenção com dietas. A pessoa abandona importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas para manter-se no esquema de exercícios e dieta.
Evitam situações onde o corpo é exposto ou as enfrenta com muito desconforto e ansiedade intensa.
Utilizam-se de substâncias para melhorar o desempenho e aumentar a massa muscular (esteroides anabolizantes), apesar de saberem dos riscos para a saúde, incluindo o perigo de morte”, alerta a especialista.
Consequências
“As principais consequências psicológicas da Dismorfia Muscular são depressão/ansiedade, deterioração das relações sociais (trabalho, estudos), das relações interpessoais e isolamento.
Consequências biológicas como mudanças metabólicas refletidas no fígado e sistema cardiovascular, colesterol elevado, dificuldades do sistema respiratório, disfunção erétil, aumento das mamas/próstata e ciclos menstruais irregulares nas mulheres.
E ainda outros como insônia, falta de apetite, irritabilidade, desinteresse sexual, cansaço constante, dificuldade de
concentração, problemas ósseos e articulares devido ao peso excessivo, falta de agilidade e encurtamento de músculos e tendões”, pontua a psicóloga.
Causas
Maristela diz que “acredita-se que o problema inicia-se na adolescência, fase de transição e muitas mudanças físicas, psicológicas e sociais, em que há a tendência a insatisfação com o corpo e a submissão aos padrões de beleza ditados pela cultura. A cobrança é para que as meninas sejam magras e os meninos fortes e musculosos. A maioria dos adolescentes sente essa insatisfação, o que não se espera é que desenvolva as obsessões por parte do corpo, porque são essas que desencadeiam o início dos transtornos”.
Maristela explica que “culturalmente, os homens têm dificuldade de expressar os sentimentos, as angústias, as indecisões. Esse aspecto pode dificultar a prevenção e o diagnóstico. Muitas vezes, quando os homens procuram ajuda médica ou psicológica já se encontram em avançado estado patológico, dificultando o tratamento. Por isso, é importante que as pessoas próximas, como familiares e amigos, estejam atentas ao desequilíbrio de uma pessoa em se tratando da obsessão que ela está apresentando com a sua imagem corporal. Talvez ela própria não consiga reconhecer que necessita de ajuda”.
Tratamento
“O tratamento recomendável inclui o medicamentoso com antidepressivo e terapia com psicólogo”, conclui.