Divórcio dos pais pode afetar no comportamento dos filhos

A capacidade de entender o que é o divórcio ocorre na fase dos 7 aos 12 anos

Maristela Lopes Ramos
Psicóloga
CRP: 06/136159
R. Santo Rizzo, 643
Cel: (19) 98171-8591

A grande preocupação quando se fala em divórcio em que existem filhos é como agir para que a separação dos pais afete o mínimo possível a saúde emocional dos filhos. Crianças ou adolescentes, cada um sentirá o divórcio de forma diferente, já que cada indivíduo sente e percebe o mundo e as experiências de forma singular. A isso damos o nome de subjetividade.
Tudo pode depender se o processo do divórcio ocorre de forma amigável ou muito conflituosa com agressões físicas ou verbais, se existe disputa por guarda e se conseguem ou não explicar a situação aos filhos. Muitas vezes, após o divórcio, os pais se afastam dos filhos, ou o filho, na maioria das vezes, acaba por ficar apenas e tão somente com um deles, e o outro se afasta, causando grande sofrimento pela ausência. As reações emocionais e comportamentais podem variar de acordo com a personalidade e a idade desses filhos.
Acredita-se que os efeitos de uma separação podem ocorrer desde quando o filho ainda está no ventre materno em que o estado emocional da mãe pode influenciar no desenvolvimento dessa criança. Até 1 ano de idade, um bebê é muito sensível e pode sentir os mesmos sentimentos de uma mãe depressiva, irritada e tensa por causa da situação, podendo ficar mais choroso, querer ficar mais tempo no colo e com dificuldades para dormir.
Na próxima fase (1-3 anos), ainda não são capazes de compreender o que está acontecendo, mas podem sentir que a situação não está bem. Apresentam comportamentos de medo e ansiedade, como pesadelos, medo de escuro, podem ficar irritados e agressivos.
No estágio que as crianças já entendem mais a situação (4-7 anos), é essencial que os pais possam explicar o que está acontecendo em uma linguagem de fácil compreensão para as crianças. Essa fase é crítica, pois elas podem pensar que a culpa é delas. Podem ocorrer dificuldades no aprendizado escolar e regressão na fala ou voltarem a fazer xixi na roupa ou cama.
A capacidade de entender o que é o divórcio ocorre na fase dos 7 aos 12 anos, mas, na maioria, não expressam opinião sobre isso. Podem apresentar muita tristeza ou raiva e problemas nas provas e atividades escolares. Após os 12 anos, a aceitação do divórcio pode tornar-se mais complicada ainda, já que estão em construção da própria identidade, e a ausência de um dos pais, que muitas vezes são seus modelos, pode interferir de alguma forma. Sentem-se inseguros quando perdem a proximidade, mesmo que mínima, da presença de algum dos pais. Suas referências e princípios podem ficar confusos, podem ter comportamentos de violação de regras.
Existem casais que irão postergar ao máximo chegar ao divórcio, sobretudo, aqueles pais de crianças pequenas e pré-adolescentes, justificando a preocupação com a reação dos filhos. A intenção de poupá-los pode ser genuína, mas, as consequências não são tão positivas como se imagina, pois, como descrito acima, as crianças, desde a gravidez, são sensíveis, e mesmo os bebês percebem o clima à sua volta, estão atentas a olhares e até mesmo as palavras não ditas. Os filhos também podem sentir o peso de terem sido responsáveis pela infelicidade dos pais, já que permaneceram casados por eles.
Por isso, conversar francamente com os filhos sobre o término do relacionamento, apesar da tristeza e frustração, pode trazer até alívio. Deixar claro que as coisas vão mudar sim e podem haver perdas, mas que isso não significa abandono ou desamparo. Que deixaram de ser marido e mulher, mas, que nunca deixarão de ser pai ou mãe dela.
Acredita-se que a forma menos dolorosa de uma família passar por um divórcio é passá-lo juntos. Um erro muito comum é fingir que está tudo normal, como se nada fosse mudar. É preciso apoiar esse filho, ouvi-lo e validar as emoções que aparecerem, como a tristeza, raiva e medo. São naturais e representam uma expressão do que estão sentindo. Os pais apenas precisam ficar atentos se a frequência e a intensidade das emoções aumentarem, necessitando de acompanhamento psicológico. A psicoterapia pode contribuir na compreensão dos sentimentos em todos os estágios da vida desse filho.