O idoso deve celebrar a vida superando o envelhecimento e continuar sua caminhada. Muitos, entretanto, ainda consideram a velhice como uma fase negativa da vida, em que os problemas, tanto físicos quanto psicológicos, começam a aparecer.
A Psicóloga Patrícia Poletti explica como esta nova fase é recebida pelas pessoas e por que muitos ainda têm tanto medo de envelhecer. “O envelhecimento faz parte do desenvolvimento do ser humano, é nossa única certeza, porém, com o envelhecimento chegam outras angústias que, para algumas pessoas, são difíceis de lidar. Estar perto de idosos ou identificar em si mesmo marcas de que o tempo está passando, como as rugas, pode ser assustador e até gerar medo e ansiedade. A gerontofobia caracteriza a rejeição à velhice e, consequentemente, aos que estão passando por ela. Estas pessoas evitam contato com idosos ou o assunto e têm um medo exagerado de parecerem mais velhas, recorrendo a tratamentos e até cirurgias para não aparentarem a idade que realmente têm”, afirma.
Ela ainda acrescenta que os motivos que levam a essa recusa ao envelhecimento variam muito, já que dependem das experiências do indivíduo com a velhice e de como o idoso é tratado por quem está à sua volta ao longo dos anos. “Porém, em geral, vivemos numa sociedade que discrimina o idoso e não considera a velhice e o que ela traz como algo natural e inevitável. O estigma ligado às pessoas mais velhas está diretamente relacionado ao modo como lidamos em nossa sociedade com a velhice. No oriente ou em tribos indígenas, por exemplo, são sábios; já no ocidente, são vistos como pessoas que dão trabalho, que são lentas… Isso tudo gera recusa porque ninguém quer passar por isso”, expõe a Psicóloga.
De acordo com a profissional, não existe uma idade para despertar esse sentimento, que é inconsciente. “Contudo, a partir de certos momentos, quando começamos a perder pessoas próximas ou mesmo quando vemos nossos pais envelhecerem, e isso significa o nosso próprio envelhecimento, nos deparamos com o fim da ilusão de que a vida é eterna. Muitas pessoas não sabem lidar com as mudanças que cada fase traz, começam a pensar de forma fixa em como será a sua velhice, e é aí que está o problema”, observa.
A especialista informa que mulheres que estão perto dos 30 anos e ainda não casaram ou tiveram filhos começam a se achar velhas. “Essas mulheres são cobradas a todo momento por parentes e familiares, fazendo com que se cobrem também e, assim, despertando toda a angústia que essas cobranças podem gerar. Também ocorre para elas quando os filhos começam a sair de casa, sentem-se inúteis e não conseguem encontrar outro motivo para viver além dos filhos. Já para os homens, esse sentimento vem pelo lado profissional, quando não conseguem o status desejado ou ao se aposentarem. Sentem-se sem função, sem utilidade”, explica Patrícia.
A Psicóloga aconselha que é importante que, desde cedo, ensinemos e aprendamos que envelhecer é mais do que natural, assim como nosso fim. “É um processo biopsicossocial gradativo de diversas transformações, ocorridas ao longo da existência do indivíduo. Há inúmeras mudanças físicas e que são tão difíceis de aceitarmos de que não somos mais capazes de corrermos como antes, andarmos como antes, temos dores, ou seja, temos limites. No campo psicológico, também há alterações, principalmente, quanto às capacidades cognitivas, como memória em curto prazo, rapidez de raciocínio, atenção e concentração diminuem. O idoso, então, precisará de ajuda e, principalmente, aceitar que precisa de ajuda e se adaptar a este novo corpo e novo psicológico”, alerta.
A chamada “crise da meia-idade”, geralmente, ocorre após os 45 anos de idade, e é quando a pessoa se decepciona com o que se tornou sua vida e passa a responsabilizar os mais próximos pelas suas frustrações e fracassos. “A partir desta idade, acontece um processo de avaliação da vida até ali. Que metas a pessoa conseguiu atingir, o que ainda pretende atingir e conquistar, como se sente interiormente: satisfeita ou insatisfeita, se alcançou o que desejava em termos familiares, sociais e econômicos. Nesta avaliação, a pessoa começa a se dar conta de que a vida acaba. Pode se sentir frustrada, decepcionada com suas próprias escolhas e com o desenrolar de sua vida. Muitos casamentos acabam sendo desfeitos nesta fase, como também amizades, carreira.
Pelo fato de começar a se deparar com o limite de tempo e com a possibilidade da morte, a pessoa pode se tornar mais criteriosa em suas escolhas, decisões e no ‘valer a pena.’ Se a pessoa possui uma boa estrutura psicológica, boa autoestima e confiança em si mesma, com o passar do tempo, conseguirá abrir mão de alguns sonhos, idealizações e fantasias e conseguirá se satisfazer e valorizar tudo quanto conseguiu conquistar”, informa Patrícia.
A conhecida como “síndrome do ninho vazio” costuma surgir em mulheres a partir de 50 anos de idade, que é quando os filhos saem da casa dos pais, processo que ocorre cada vez mais cedo. “Dos 50 anos em diante, novos papéis podem surgir e a respectiva adaptação a estes novos papéis: avô, avó, sogro, sogra. Quando os filhos saem da casa dos pais, surge a oportunidade para o casal de aproveitar mais a vida, viajar, encontrar com amigos, reativar o relacionamento sexual. Se ocorrer a aceitação e, consequentemente, a adaptação às alterações do envelhecimento, o casal poderá viver bem e usufruir deste período. Agora, quando o casal permaneceu junto só com o objetivo de criar os filhos, quando estes saem de casa, o resultado pode ser problemático. As mulheres que só se dedicaram aos filhos e não a uma profissão, ou qualquer outra atividade produtiva ou criativa, apresentam sensação de vazio, ausência de motivações e sintomas depressivos”, diz a Psicóloga.
Além disso, nesta fase da vida, também ocorre o cuidado com os pais, que já estão idosos, podem estar doentes e necessitando de cuidados especiais. “A forma como cuidamos de nossos pais idosos vai determinar a forma como nossos filhos cuidarão de nós, ou de outros idosos. Servirá como modelo. Além do desgaste que toda doença acarreta, também teremos que lidar com nossas emoções”, adverte a especialista.
A forma como nossa sociedade encara a velhice prejudica muito como o idoso se enxerga e mudar isso inclui a maneira como todos encaramos a velhice. “Envelhecer não significa adoecer. Desde cedo, é preciso colocar crianças e jovens em convívio com as outras idades para perceberem que é uma coisa natural”, adverte a Psicóloga.
Para envelhecer com saúde, assim como em todas as fases da vida, é preciso estar ativo. “Seja brincando, estudando, trabalhando, cuidando de algo e sendo cuidado, isso também não deve mudar na velhice. É preciso manter-se ativo, e se sentir útil é importante. Tirar todas as atividades do idoso só o fará sentir-se pior. Porém, é preciso adaptar as atividades a esta nova fase da vida”, informa a especialista.
Patrícia ainda faz um alerta: “É importante salientar que sempre se deve procurar ajuda do psicólogo caso o idoso esteja tendo dificuldades nessa etapa da vida, seja em aceitar ou se adaptar ou encontrar um novo sentido para essa fase da vida”.