A curiosidade é talvez a ferramenta mais importante inata do ser humano, ela fez com que descobríssemos muitas coisas e passássemos a entender o mundo à nossa volta de maneira melhor. Com ela, também conseguimos desmistificar muitos segredos obscurecidos por respostas equivocadas. A curiosidade teve um papel fundamental, inclusive, em relação a esse lugar especial fixado no coração de Cosmópolis há 5 anos, digo especial pela história que se inicia desde quando a curiosidade era o sentimento que prevalecia fortemente entre esta vizinhança, ávidos por saber mais a respeito dos tais “alemães” que moravam nesse casebre de esquina no centro da cidade.
Olhares curiosos rasgavam à distância, buscando sequer um vislumbre do casal de velhinhos que moravam aqui. “Quem eram eles?”, “O que faziam?”, “De onde vieram exatamente?”, “Qual era sua história?”, perguntas curiosas que permeavam as cabeças dos vizinhos curiosos a respeito de um casal bastante reservado. É aqui que nasce a história da Bossa.
Após o falecimento do casal, a princípio, o Senhor Waldemar e, em seguida, sua esposa Elvira, houve uma grande comoção no bairro para “esvaziar” a curiosidade e, enfim, descobrir como era o interior da residência dos “alemães do bairro”. Muitos dos vizinhos foram até a casa para enxergar a realidade que eles acreditavam ser diferente da deles própria. Eis que então um cosmopolense, atraído pela beleza do local, que esbanjava características natas dos anos 70, decide comprar a residência enquanto idealizava em sua cabeça um negócio esteticamente inovador que abriria as portas para as mais luxuosas marcas de vestimenta do mercado inspirado pelo lado criativo e cultural do Rio de Janeiro. O cosmopolense era o Dalço Simoni, que possuía uma alma visionária e que foi capaz de erguer, com muito esforço, a Bossa.
Os planos de Dalço amante da conscientização, espaços criativos e apaixonado por cultura, eram ambiciosos para uma cidadezinha como Cosmópolis. Com muito cuidado, ele sonhou cada pedaço e cada detalhe estético e organizacional da loja que conhecemos hoje, trazendo uma equipe específica de Recife/PE para que pudessem traduzir seus pensamentos e sonhos em concreto e aço, modificando, incrementando e respeitando cada pedaço daquela casa simples de esquina, do famoso bairro de classe média alta da década de 70.
Mas talvez o feito mais interessante foi a mudança interna do local. Apesar de ser modificado o suficiente para que não houvessem muitas pistas de que o local um dia fora uma residência, o homem que concebeu toda aquela estrutura decidiu abraçar com muito carinho as origens do local e decorou o lugar com diversos objetos e itens que antes faziam parte da residência do casal “Lesman”, tornando o ambiente retrô e elegante, tudo como o próprio proprietário havia arquitetado, dando ênfase em manter todas suas raízes de estilo tradicional da casa dos anos 70.
A “casa”, e/ou a nossa loja, hoje é banhada por histórias, por cultura, por um amor discreto de um casal simples e pouco comunicável. Seu Waldemar, por exemplo, fora um grande engenheiro da Usina Ester, partes de itens decorativos de sua casa- e atual loja – foram nada mais e nada menos criadas pelo próprio, como os relógios espalhadas pelo local em que um destes ainda conta com uma história um tanto quanto peculiar: fora feito de um pedaço de bomba. Além de seu passatempo muito criativo e de bons “dotes”, seu Waldemar também criou uma réplica perfeita do navio em que veio embarcado para o Brasil, a preciosa réplica ficava em seu galpão, ao lado da casa-hoje utilizada como comércio também. Um amigo próximo da família acabou herdando a preciosa obra e poucos sabem qual fim levara.
Sabemos que cada pedacinho da cidade possui um pouquinho de uma cultura vinda de fora, somos formados por nações, países. Dona Elvira e seu Waldemar foram um casal de alemães foragidos da segunda guerra, vieram em busca da paz e, talvez, da descrição da nossa pequena cidade universo.
Hoje, 5 anos após a inauguração da loja, podemos afirmar que temos muito orgulho de nossas origens, fazemos parte de uma porcentagem mínima de empreendedores que, mesmo ao passar do tempo, optaram por não “demolir”, mas, expandir e “polir” o espaço cultural/histórico que faz parte.
Temos locais nada preservados e explorados dentro da cidade. Casas são demolidas com frequência, espaços são “tomados”, seja ele por pessoas ou por entulhos.
“Sai o velho e entra o novo” dizem os que migram, visando um novo comércio e investimentos dentro da cidade…
Temos amor por cada pedacinho histórico da loja, da casa, do casal! Mantivemos e manteremos toda cultura viva!
O nosso passado não nos representa, dizem também, mas eles fazem a nossa história! E essa é a nossa, uma breve sem tantos detalhes do quanto fora importante esse peculiar, discreto, e solitário casal de alemães.
Que ambos estejam em paz e orgulhosos do espaço que ainda vive!
Por Loja BOSSA