O mau encaixe da maxila (maxilar superior) e a mandíbula (maxilar inferior), chamada de má oclusão, é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o terceiro problema odontológico de saúde pública.
Segundo o dentistaPaulo Cézar de Melo Terra, cerca de 70% das crianças em fase de dentição decídua, dentes de leite, possuem algum tipo de má oclusão.
Devido a esse número e a gravidade do problema, ele destaca que é essencial que o cirurgião-dentista diagnostique e intervenha o mais precocemente possível, de forma que, previna o aparecimento de alterações mais graves na cavidade oraldurante a fase de desenvolvimento.
A má oclusão prejudica o desempenho do corpo como um todo. O especialista explica que essa má formação interfere no relacionamento da mordida, da Articulação da Mandíbula (ATM), nas funções da boca com a postura da cabeça e do corpo e com isso, estabelece um novo paradigma para os tratamentos das más oclusões dentárias, a partir da Ortopedia Funcional dos Maxilares.
Sendo assim, a má oclusão, aliada com a respiração bucal e suas repercussões orgânicas, desequilibra a organização muscular da face, do pescoço e da cintura escapular e compromete a posição ereta da cabeça, sendo que essa interferência, pode alterar as relações bio-mecânicas, crânio-cervicais e crânio-mandibulares, influindo no crescimento e na postura corpo do indivíduo. “Por isso, é importante que o profissional faça a interceptação dos desvios funcionais nos seus estágios iniciais”, destaca Paulo.
Entre as más oclusões diagnosticadas em crianças, a mordida cruzada se destaca pois tem maior índice de incidência, fazendo dela a mais comum.
Paulo explica que a mordida cruzada é caracterizada pela desarmonia da maxila com a mandíbula, sendo que a na maioria dos casos, a maxila encontra-se em menor que a mandíbula. “Para se entender melhor o exemplo de Mordida Cruzada, podemos imaginar uma caixa de sapato convencional, onde a tampa da caixa cobre sua base em todos os lados e assim conseguimos tampar facilmente a caixa. Entretanto, se a tampa fosse menor que sua base, não conseguiríamos tampar a caixa de forma alguma e a mordida funciona da mesma forma, o maxilar de cima deve sempre cobrir o maxilar de baixo nas laterais e na frente. Se o maxilar de cima estiver menor, a mordida vai cruzar de alguma maneira, causando sérios transtornos no crescimento e desenvolvimento dos maxilares”.
A mordida cruzada pode ser classificada como unilateral, bilateral e/ou anterior. Para cada uma dessas má oclusões existem protocolos específicos para a correção. Na execução do tratamento, o profissional pode optar por um tratamento preventivo, sem aparelhos, tratamentos interceptivos usam aparelhos removíveis ou fixos ou ainda, por tratamentos corretivos, normalmente feitos com aparelhos fixos na dentição permanente.
E alerta que embora o tratamento possa ser aplicado até ao final da adolescência, a melhor época para se realiza-lo é aos dos 6 anos de idade (fase em que o maxilar superior está em pleno desenvolvimento). Nessa idade, os incisivos superiores permanentes estão nascendo, estimulando o desenvolvimento lateral do maxilar superior.
Existem diversos tipos de aparelhos ortopédicos para o tratamento da mordida cruzada, dentre eles as placas expansoras removíveis e os disjuntores maxilares(Disjuntor de Haas e Hírax por exemplo). Os Disjuntores são extremamente eficazes. Ficam colados aos dentes de suporte transmitindo totalmente suas forças aos ossos maxilares. Proporcionam uma expansão rápida do maxilar superior, trazendo excelentes benefícios a oclusão e também ao sistema respiratório. Já as placas expansoras, exercem forças leves e expansão lenta da maxila, necessitando muito da colaboração do paciente no seu uso, pois são aparelhos removíveis, tendo alto índice de insucesso.
Contudo, Paulo alerta para a importância de um diagnóstico precoce das más oclusões em crianças e fortalece a necessidade da execução do tratamento quando necessária, para favorecer um crescimento equilibrando as estruturas ósseas faciais e consequentemente corporal.