Independente da natureza dos motivos, o impacto que as dívidas causam na saúde emocional vai muito além de noites mal dormidas.
As dívidas são uma das maiores preocupações das pessoas, principalmente no contexto econômico de um país pós-pandemia, em que a maioria das pessoas está buscando se reerguer.
Existem diversos motivos para o endividamento, como ele surgir devido alguma despesa alta e inesperada, ou com os imprevistos, como a perda de emprego, problemas de saúde e afins. Pode também ser gradativo, com faturas atrasadas de cartão de crédito ou financiamentos, a famosa “bola de neve”. Fatores psicológico-emocionais, como aquele mal estar interno, também nomeado como tédio, vazio, angústias, que podem desencadear compras por impulso. Isto porque a sensação que o comprar causa traz um alívio quase que imediato a essas pessoas que estão vivenciando esses fatores emocionais. No entanto, a sensação de bem-estar e alívio passa na mesma velocidade com que chega. O ato de gastar, em muitos casos, é uma fuga psicológica de outro problema.
Na verdade, o cérebro percebe essa sensação prazerosa momentânea no mesmo local que é sentido, por exemplo, na dependência química de substâncias psicoativas. Local nomeado como “sistema de recompensa”. Por isso que comprar pode tornar-se um vício, assim como jogos, comida, sexo, entre outros.
Torna-se uma luta entre a emoção e a razão. A razão “diz” que é necessário poupar, que existem outras prioridades para o dinheiro, e a emoção tenta convencer com diversos argumentos que precisa daquela sensação novamente. Apesar da consciência do endividamento, as pessoas sucumbem à emoção. Nosso cérebro busca pelo prazer. Independente da natureza dos motivos, o impacto que as dívidas causam na saúde emocional vai muito além de noites mal dormidas.
Consequências
O medo, a preocupação, a insegurança e a incerteza constantes sobre como será o amanhã em relação aos recursos financeiros básicos afetam diretamente o estado mental da pessoa. Com isso, chegam o estresse, irritabilidade, mau humor e tristeza, que com o tempo podem causar problemas mais graves, como crises de ansiedade e depressão. Até a autoestima é afetada. Sintomas físicos também podem aparecer, como hipertensão, ganho ou perda de peso excessivo, anemia, dores de cabeça e de estômago e obesidade.
Identificação
É necessário estar atento aos sinais, tanto o endividado quanto as pessoas próximas, e buscar ajuda médica/psicológica diante desses quadros. Muitas vezes, a pessoa se isola e se cala, causando um efeito “panela de pressão”, explodindo com o desespero. Há casos graves de suicídio, em que a pessoa em grande desespero não consegue enxergar saídas para a sua situação.
Quando se está em extrema preocupação com problemas em alguma área da vida, nesse caso o financeiro, torna-se difícil se concentrar nas simples atividades rotineiras e até no trabalho. Relações sociais, familiares, amorosas também acabam por serem afetadas com conflitos e discussões. Quantos casamentos não terminam quando passam por essa dificuldade financeira? Mas, há pessoas que não conseguem gerenciar a sua vida financeira e estarão sempre devendo, e conseguem até “viver bem” com isso. Cada caso com seus motivos.
Organização
O endividamento em si pode ter várias soluções, é que alguém que se encontra dentro do olho do furacão não consegue visualizar. Costuma-se dizer que é preciso sair da ilha para conseguir vê-la na sua completude. Isso significa que talvez não se possa resolver o problema da noite para o dia, se puder bem, caso contrário conseguir manter o equilíbrio emocional para conseguir aguardar o tempo passar e ir acertando a dívida mês a mês. É nos momentos de maiores dificuldades e crises que mais se amadurece, isso quando se consegue tirar um aprendizado da experiência. Enfim, não tentar organizar apenas os números, e sim, os pensamentos que mantém o nível da ansiedade. Quanto mais se alimenta a preocupação, menor é a energia e força para reagir.
Maristela T. Lopes Ramos
Psicóloga
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