Esse termo “adolescência” foi criado por um psiquiatra (Granville Stanley Hall) em 1898. Mas, essa palavra só começou a ser utilizada após a Segunda Guerra, quando nasceu o rock´in roll e a revolução cultural que afetou somente os mais jovens. Antes disso, a sociedade não concebia a ideia de uma fase transitória. “Naquela época, o indivíduo deixava de ser criança entre 10 e 14 anos e passava à vida adulta. De um dia para o outro, começava a imitar o jeito de vestir e falar dos adultos, além de adquirir as mesmas obrigações e gostos. Em latim, adolescente quer dizer aquele que está crescendo. No dicionário Aurélio é aquele que está no começo, que ainda não atingiu o vigor”, pontua a psicóloga Maristela Ramos.
A adolescência é o período em que ocorre uma grande metamorfose, “é um período evolutivo do desenvolvimento humano, e as características do seu comportamento são dependentes da cultura e da sociedade em que vive. Ocorre um rompimento da fase da infância e as mudanças são aceleradas e não são iguais para todos, não há uma regra”, explica Maristela. Ela ainda completa que “o adolescente se depara com uma fase em que não é mais criança e também não é adulto. Não pode mais agir como uma criança e nem fazer o que os adultos fazem. Isso causa no adolescente uma sensação de querer buscar sua identidade. Nesse momento, eles não sabem quem são de verdade”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência se inicia aos 10 e termina aos 20. “Alguns autores atuais consideram que a adolescência pode ter seu término até os 25 anos, já que pode ser estendida, isto é, não se pode determinar idades pré-definidas para em que momento a adolescência começa e termina, pois, cada indivíduo irá vivenciá-la de forma singular. Ela pode se iniciar antes da idade pré-definida por haver muita estimulação e terminar tardiamente por falta de amadurecimento”, explica.
Durante esse período, o corpo muda e as ideias também, e isso ocorre tudo ao mesmo tempo, sendo normal que ocorram os conflitos internos e externos. “As transformações físicas e biológicas ocorrem até a idade de 16 a 19 anos, fase que ainda mantém o crescimento. Também ocorre a puberdade, que é o amadurecimento sexual. Nas meninas, entre 10 e 14 anos, inicia-se a formação dos quadris, crescimento dos seios, mamilos e pelos pubianos. Nos rapazes, entre 12 aos 16 anos, surgem os pelos pubianos e aumentam o escroto e o pênis. No metabolismo de ambos, os hormônios se alteram completamente. Ocorre a produção de células responsáveis pelos espermatozóides e a testosterona conduz o surgimento de características típicas masculinas. Nas meninas, a produção da progesterona é a responsável pela regulação do ciclo menstrual”, pontua sobre as mudanças físicas.
Sobre as mudanças psicológicas, “possuem sentimentos de onipotência, ansiedade, desespero, desejo de liberdade, solidão, sensação de opressão, (não poder sair com os amigos, ter que ficar em casa), vivenciam as emoções mais intensamente, raiva e até ódio contra o mundo dos adultos. Podem passar repentinamente de um estado emocional a outro. O adolescente possui muita energia, aquele muito quieto é que talvez os pais tenham que ter um olhar mais observador, pois, eles precisam, sim, dessa etapa para viver suas crises. Quando um adolescente não quer fazer nada, ou só fica trancado no quarto, os pais devem ter um “termômetro” para ver até onde está normal a sua quietude, o seu sofrimento, o isolamento, o choro, pois, podem estar apresentando sintomas de depressão”.
Maristela adverte que até a criança mais dócil pode mudar na adolescência. “Querem mostrar que são diferentes. Os pais dizem ‘A’ e eles dizem ‘B’. Querem mostrar que possuem personalidade e suas próprias opiniões. Uma característica dos adolescentes é que andam em grupo. Deixam o grupo familiar e se juntam a grupos de amigos. Ganham força nesses grupos. Dentro dos grupos agem com um padrão de comportamento diferente de como agem em casa com a família, assim se sentindo independentes e libertos”.
Na adolescência é o momento crucial da vida em que começa o desprendimento dos pais (não precisa levar na escola, não querem mais beijos, eu posso escolher minhas roupas). “Para os pais, esse afastamento é uma vivência muito difícil, pois podem se questionar do porque não serem mais o referencial para o filho(a). Mãe e pai já não são mais os seus super-heróis. Amam e odeiam os pais ao mesmo tempo”, diz.
Maristela ainda explica que “para que o adolescente se torne um adulto equilibrado é importante que se viva as emoções da adolescência, e essa é cheia de “lutos” (perdas).
Quando um adolescente chega para o adulto e diz que terminou um namoro, por exemplo, e chora sem parar, esse momento é realmente o momento de chorar mesmo e viver essa perda, e não o momento de ser repreendido a parar de chorar ou engolir o choro”, diz.
Ela também afirma que “há de se viver esses picos de oscilação na adolescência, pois senão ocorrerão na idade adulta. Adolescentes que quando crianças tiveram tudo na vida, inclusive, a superproteção que os impediu de vivenciar o sofrer de seus lutos e perdas, quando adultos, não irão conseguir lidar com as inevitáveis frustrações da vida.
Aos pais, cabe sim chamar-lhes atenção e colocar limites. Só a maturidade lhes permitirá mais tarde entender que essas atitudes dos pais foram necessárias. Nesse momento, os pais pensam que os adolescentes são difíceis, mas o essencial é entender que é uma fase. Corrigir e orientar são o caminho. Demanda muita paciência dos pais”, conclui a especialista.