Nesta semana, a GAZETA de COSMÓPOLIS entrevista a professora da rede pública que, por 34 anos seguiu a mesma profissão que aprendeu com sua mãe, e deixa as salas de aula neste mês, Cássia Carone Dias Arruda Simoni. Com uma vasta história no município e lecionando em uma das mais tradicionais escolas, Cássia contou sobre o início da carreira, com 18 anos, e sobre as maiores satisfações que teve ao longo de todo esse tempo.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Conte-nos sobre sua história em Cosmópolis. Você nasceu aqui?
Cássia C. D. Arruda Simoni: Eu nasci aqui. Na verdade, era para eu ter sido a primeira bebê nascida por cesárea em Cosmópolis, o doutor Kuroba que iria realizar. Mas, nesse mesmo dia, houve um acidente e todos foram para o hospital prestar socorro. Nesse mesmo momento, minha mãe foi entrando em trabalho de parto e eu acabei nascendo às 5 horas da tarde de parto normal.
Desde então, me criei aqui, de uma família considerada tradicional na cidade. Minha mãe veio de fora e meu pai já era daqui, e na comunidade, seja na igreja, onde íamos com frequência, ou nos desfiles que a minha mãe participava, sempre estive presente.
GAZETA: Foram 34 anos de profissão. Quando é que você decidiu exercê-la?
Cássia: Minha mãe era professora e eu e a Janice [irmã]sempre a ajudávamos a corrigir prova, íamos juntas na escola e esse contato com o ensino foi se estendendo ao longo da minha vida. Quando eu resolvi fazer o magistério, inclusive, fui da primeira turma do magistério na cidade, gostava muito, tive uma boa identificação. Gostei muito de receber as crianças novinhas, sempre com ajuda das professoras mais experientes, e assim foi até chegar aos meus 34 anos de professora.
GAZETA: Sempre temos dificuldades, principalmente, por você ter começado a lecionar com 18 anos. Quais foram as principais dificuldades que teve no início?
Cássia: A primeira foi lidar com as crianças, não aprendemos isso na faculdade e em nenhum lugar. Então, conquistar a criança foi meu lema de trabalho. Falei até na reunião de pais que tivemos antes de eu me despedir das salas de aula. ‘A criança precisa gostar de ir até a escola, porque gostando já é meio caminho andado’.
Sempre pensei em como iria atrair os alunos para a sala de aula. Pensando nisso e vendo o carinho das crianças, fui fazendo bilhetes, figurinhas, doces e diversas outras coisas para trazer as crianças para dentro da sala de forma que elas sentissem prazer de estar lá.
GAZETA: Com o passar dos anos e das gerações, as coisas mudaram. Qual a maior diferença que você destaca da época que começou até hoje, tanto nas crianças quanto em você?
Cássia: Com as crianças, eu nunca tive problema, quer dizer, talvez com alguns, mas, as classes que eu pegava eram muito carinhosas. Eles sempre brincavam comigo e vice-versa, então sempre tive uma ótima relação.
Eu senti muita diferença em transmitir o conhecimento, sinto que, com o passar dos anos, o conteúdo que eles têm acesso na escola vai diminuindo. Tem a internet, televisão e vários meios de informação, mas o que eu dava no quinto ano antigamente, hoje só dou uma pincelada no conteúdo. Então, vejo que o conteúdo diminuiu.
GAZETA: Como você fez para se adaptar a essa diferença do conteúdo?
Cássia: Eu fui funcionária do Estado e prestava serviço para a Prefeitura Municipal de Cosmópolis. Aqui, nós deveríamos seguir a apostila do município. Só que eu sempre fui uma professora que ia além da apostila. Sempre fiz busca na internet, em livros e, enfim, tentava agregar um pouco de conteúdo a mais do que o da apostila. Mas, isso foi possível por conta da minha experiência como professora.
GAZETA: Qual a maior satisfação que você sente em fazer parte da educação de pessoas que conheceram você quando criança e hoje se tornaram adolescentes ou adultos?
Cássia: É uma gratidão imensa encontrar ex-alunos seguindo suas vidas e buscando realizar sonhos e conquistar um futuro melhor. Recebo depoimentos através das redes sociais da internet de ex-alunos dizendo que eu fiz parte da vida e de escolhas que eles fizeram – isso, para mim, é muito importante.
Sexta-feira, meu último dia na escola, foi um dia muito emocionante. Uma pessoa que me marcou muito foi o Gustavo Stuck – ele disse que tudo que é hoje deve a mim.
Fui uma professora que nunca tive preconceito, sempre busquei ajudar aquele que precisa e isso eu considero muito importante. Eu dei aula no ano passado para gêmeas que eram filhas de uma ex-aluna minha. Recentemente, eu recebi diversos alunos que eram filhos de ex-alunos.
GAZETA: Qual a maior satisfação que você sentiu durante todo esse período?
Cássia: O reconhecimento. Me sinto grata por isso. Os alunos na porta da escola me questionavam por que eu ia sair, diziam que queriam ter mais aulas comigo. Isso não tem preço.
GAZETA: E daqui para frente?
Cássia: Eu não quero mais trabalhar com escola, vou levar tudo isso para a memória. Mas, a educação, deixarei um pouco de lado. Esse carinho é muito gostoso, entretanto, não pretendo lecionar.
GAZETA: Ainda tem um sonho que você gostaria de realizar? Qual é?
Cássia: Viajar. Quero muito conhecer mais o mundo, minha mãe sempre me disse que o que a gente vê no mundo, ninguém vai tirar. Quero ver coisas que eu estudei ao longo da vida. Me lembro quando fui à Roma, andei durante três dias a pé com minha mãe e vi a ‘loba’ do conto ‘Rômulo e Remo”, isso me emocionou muito porque eu havia estudado isso no meu sétimo ano. Na hora que vi que ela era a mesma que estava no livro, senti muita gratidão. Então, é isso que quero fazer.
GAZETA: Você se sente realizada?
Cássia: Sim, completamente. Como professora e como filha, agradeço muito minha mãe por guiar meu caminho.
GAZETA: Deixe uma mensagem para todos que te conhecem e conheceram ao longo de todos esses anos.
Cássia: O amor que tive dos alunos e pais é muito gratificante. Claro que não foi tudo perfeito, mas esse sentimento foi o que me moveu a dar aula todo dia durante 34 anos. Se eu não gostasse, eu teria parado. A palavra que eu deixo é gratidão.