Esta semana, a Gazeta de Cosmópolis realizou uma entrevista com o dono da Papelaria Mil Cores, Ailton Cunha Claro, de 55 anos. O empreendedor conta como foi sua trajetória desde administrador na Usina Ester até possuir seu próprio negócio.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Como e onde foi a sua infância?
Ailton Cunha Claro: Nasci e vivi por muitos anos na Usina Ester. Na época, a Usina era dividida por colônias e nós morávamos na “Cachoeira”, onde fiquei até os 12 anos de idade. A partir dessa idade, nos mudamos para as colônias do Jaguari, onde permanecemos por até meus 20 anos de idade.
GAZETA: Como foi mudar para a cidade? Houve algum choque?
Ailton: Na verdade, isso era a expectativa de todo mundo. Por mais que gostássemos de morar e trabalhar na Usina, tínhamos muita vontade de mudar para a cidade e ter uma casa. E quando aconteceu conosco, foi uma conquista. Ter uma casa própria era o sonho do meu pai. Mas, tínhamos nossas raízes lá. Eu, por exemplo, trabalhei na Usina por 20 anos, e, então, tenho uma grande história por lá. Meu pai trabalhou na Usina Ester por cerca de 40 anos. Foi seu único emprego.
GAZETA: Quando você e sua família vieram para Cosmópolis, continuaram a trabalhar na Usina?
Ailton: Continuamos. Quando viemos para a cidade, eu, meu pai e meu irmão trabalhávamos lá. Após a aposentadoria do meu pai, eu ainda continuei. Temos muita gratidão pela Usina Ester, pois, conquistamos algumas coisas durante este período de trabalho nesta empresa. Muitos amigos, a casa própria e muita experiência.
GAZETA: Qual a sua formação?
Ailton: Sou formado em Administração de Empresas pela Universidade Paulista (UNIP).
GAZETA: Quando exatamente teve a ideia de abrir uma papelaria?
Ailton: Quando saí da Usina, trabalhei em uma empresa em Campinas e depois fui para São Paulo trabalhar em uma empresa exportadora de açúcar e álcool. Após alguns anos, esta empresa foi vendida para um outro grupo e, aos poucos, os funcionários foram se desligando desta empresa e, por estar próximo ao meu tempo de aposentadoria, também fui desligado da empresa.
Após me aposentar, vi a oportunidade de tomar a frente desse lugar, que já existia há muito tempo aqui na cidade, como Papelaria Estrela, do Dirceu e da Bete. Eles já queriam parar com a loja e eu consegui comprá-la. Isso aconteceu em 2014. A princípio, era muito mais para arrumar uma ocupação para mim que acabara de aposentar. Mas, as coisas começaram a crescer e, graças a Deus, ainda estamos aqui, aprendendo constantemente.
GAZETA: Administrar uma empresa como empregado e administrar um negócio próprio são situações completamente diferentes. Quais foram as dificuldades e os aprendizados com essas experiências?
Ailton: As maiores dificuldades, para mim, foram os problemas com a timidez. Eu sempre tive certa dificuldade em lidar com o público, em me doar, mas fui me adaptando.
Já na parte administrativa, de organização, eu também tive dificuldade, pois não tinha uma visão de comerciante, que é algo que se aprende com o tempo. Recebi ajuda de diversos amigos da área e continuo recebendo. Quatro anos de comércio não são muito para tornar-me o que nunca imaginei ser.
GAZETA: Quais as dicas que você pode dar para quem tem pretensões de entrar no mundo administrativo?
Ailton: Na atual situação do nosso país, entrar no comércio não é fácil. Deve-se saber exatamente o que se quer, entender a área que vai atuar e se vai ser algo que terá retorno. Por exemplo, se quero abrir uma loja de “artigos diversos”, preciso saber exatamente um lugar onde devo montar esse comércio, se terei demanda suficiente para isso. Não é algo simples, pois, uma coisa é abrir o comércio, e a outra é entendê-lo e administrá-lo corretamente. Se faz necessário uma pesquisa mercadológica do local.
Eu tive grandes experiências com a área de administração, fora a parte de graduação. Assim, aprendi muito a lidar com o funcionamento de empresas, o que me ajudou um pouco. Por isso, acredito que seja importante ganhar experiência.
GAZETA: E como foi iniciar um comércio em época de crise?
Ailton: Foi muito difícil. Quando eu entrei, ainda não tinha estourado a crise, já existia, mas não era tão eminente. Quando chegou o fim do ano, a situação se complicou muito. Minha sorte foi que, no início do próximo ano, tive a oportunidade de trabalhar fora e minha esposa ficava na loja. Durante os primeiros dois anos, eu não ficava muito na papelaria, só via a parte mais burocrática de organização e finanças. E foi assim que sobrevivemos no começo.
GAZETA: Quando percebeu que o lucro da loja poderia vir a ser o seu sustento?
Ailton: Quando parei de trabalhar fora e passei a me dedicar inteiramente. Atualmente, ainda faço assessoria a uma empresa, o que ajuda bastante. Um comércio possui custos altos, independente do que for, por isso, é importante se manter estável.
GAZETA: Atualmente, se considera satisfeito com a vida? Quais os planos para o futuro?
Ailton: Não posso dizer que não, serei injusto, pois tenho uma família maravilhosa. Uma grande esposa, um casal de filhos, ótimos amigos. Na verdade, sou satisfeito pelo que fiz e pelo que continuo fazendo, por isso quero continuar… Desejo crescer mais… como ser humano e também como empresário. Quero explorar minha carreira, pois, acredito que exista espaço para isso. Vale a pena acreditar no comércio local, uma vez que temos bons comerciantes na cidade. Precisamos ter bons produtos, preço acessível e, sobretudo, um bom atendimento – são fundamentais para qualquer empreendedor. Tento ser assim constantemente, e pretendo melhorar.
Posso dizer que Deus foi e continua sendo muito generoso comigo e com minha família, pois, apesar de todas as dificuldades, temos saúde, temos paz, temos o suficiente para levar uma vida digna e bons amigos.