Esta semana, a Gazeta de Cosmópolis realizou uma entrevista com o caldeireiro e vendedor de paletas, César da Silva, de 43 anos.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Onde nasceu?
César da Silva: Sou nascido em Santo André – SP. Vim para a cidade, junto de minha família, em 1981. Por ter vindo muito jovem, não me afetou muito a diferença de ritmos, mas conheço muito bem aquela realidade.
Quando viemos, meu pai era mestre de obras, mas, aposentado por invalidez, e minha mãe era do lar.
GAZETA: Conforme foi crescendo, como decidiu pela sua profissão?
César: Na realidade, o que faz a pessoa é a necessidade. Eu trabalhava em supermercado, fiquei bastante tempo na área, inclusive, trabalhei no Enxuto na área de hortifruti. Certa vez, tive a oportunidade de fazer um cursinho de lixador, em uma empresa aqui na região. Acabei gostando da área e, após conseguir um emprego, comecei a aprender mais e mais e a me classificar por conta própria. Conforme ia aprendendo, eu ia me dedicando e ganhando certo destaque, até chegar a refinador industrial e caldeireiro.
GAZETA: Quais as dificuldades que você enfrentou na profissão?
César: Na verdade, como eu gostava do que fazia, eu não enfrentei grandes dificuldades. É claro que havia a parte perigosa do serviço, onde mexemos com a lixadeira e corremos o risco de nos acidentar, inclusive, tive muito medo no início.
Graças a Deus, nunca sofri nenhum acidente e sempre busquei fazer tudo certinho para não acarretar nenhum problema.
GAZETA: Como era sua vida como caldeireiro?
César: Eu viajava bastante, já fui para o Paraná, Minas Gerais e vários outros estados.
GAZETA: Qual era o sentimento de ter que deixar sua família para ir viajar a trabalho?
César: Não era bom, era muito dolorido, na verdade. Sentia pelos filhos e pela esposa. Ficava preocupado, pois não sabia o que estava acontecendo com eles.
Para mim, o pior sentimento era saber que algo ruim poderia acontecer e eu não estaria por perto para ajudar.
Mas, o que faz a pessoa é a necessidade, por isso, aprendi a lidar com esse tipo de situação.
GAZETA: Atualmente, ainda trabalha no ramo?
César: Hoje em dia, eu estou desempregado, por isso, busquei uma opção viável para não ficar parado. Minha esposa começou a fazer paletas em casa e acabou chamando muito a atenção da minha irmã, que nos incentivou a vendê-las.
Começamos a fazer e vender para os vizinhos, que também gostaram bastante. A partir de então, percebemos que deveríamos expandir o negócio. Comecei a sair pelo comércio para oferecer as paletas e, até agora, tem sido um sucesso.
Atualmente, eu vendo nas ruas e minha esposa atende em casa. Tenho a pretensão de, no futuro, abrir uma sorveteria.
GAZETA: Vender nas ruas é algo difícil. As pessoas acabam sentindo-se inseguras de comprar com um estranho? Você sentiu esse impacto? Como você lida com os “nãos”?
César: Creio que tudo que acontece conosco possui um propósito no futuro. Eu sempre tive facilidade de lidar com as pessoas, nunca tive problemas em fazer amizade e me comunicar, e os empregos que tive me auxiliaram nessa área. É claro que há vezes que recebemos muitos ‘nãos’, mas sempre levo isso como uma força a mais para continuar lutando pelo meu objetivo. Além disso, sempre acreditei que vender é um bom negócio, cabe a nós acertar no produto e no momento que irá introduzi-lo ao público. Eu, por exemplo, vendo sorvete no verão, não tinha como dar mais certo!
GAZETA: Quais as dicas que você dá para quem está entrando na área comercial e quer melhorar a relação com o público?
César: Deve-se ter amor ao próximo, dar importância ao outro. Se você conseguir conciliar esse amor ao próximo com o seu negócio, com certeza, terá sucesso no que faz.
GAZETA: Como funciona a produção das paletas?
César: É bem trabalhosa. Eu ajudo minha esposa a fazer no período da tarde e, muitas vezes, ficamos produzindo-as até de madrugada. É uma paleta artesanal, fazemos uma por uma, então, é bem difícil! Temos que levantar cedo para desenformá-las e colocar nos saquinhos. Mas, graças a Deus, está fluindo e valendo a pena. Minha esposa tem certa facilidade nessa área de doces, então, acho que estamos nos saindo bem.
GAZETA: O que você aprendeu nessas viagens, principalmente, para a parte profissional?
César: Aprendi muito sobre a valorização das pessoas. Aprendi a respeitá-las da forma que elas são. Conhecer diversos locais do Brasil me mostrou diversas culturas diferentes, me ensinou a lidar com todo o tipo de gente, crença e opinião.
Uma das coisas que achei mais interessante foi ter aderido um pouco do costume de cada canto do país. Viver com o diferente nos muda muito.
GAZETA: E as experiências com os mais diversos tipos de pessoas estão te ajudando nessa nova jornada?
César: Sim, bastante. Como tive o contato com muita gente diferente, aprendi a entender os demais e ter empatia por todos. Cada um tem um sentimento dentro de si, devemos respeitar.
GAZETA: O que você pode concluir da sua vida até esse ponto?
César: Tenho muito o que agradecer a Deus. Se não fosse por Ele, não estaria aqui. Já passei por muitas coisas difíceis e, hoje, superei com muita coragem e ajuda de Deus.