O quadro Entrevista desta semana é com Edinir Maria Marson de Brito, de 47 anos. Formada em Administração de Empresas e Pedagogia e pós-graduada em deficiência intelectual, Edinir conta como está sendo sua trajetória como professora e diretora da APAE de Cosmópolis.
GAZETA DE COSMÓPOLIS: Onde nasceu? Como foi seu período de infância e adolescência?
Edinir Maria Marson de Brito: Eu nasci em Campinas; morei em um sítio próximo ao pedágio e, quando estava com, aproximadamente, 5 anos de idade, nos mudamos para a cidade. Desde então, não me mudei de Cosmópolis.
GAZETA: Durante a sua adolescência, você teve a pretensão de seguir outra carreira que não fosse a qual segue hoje?
Edinir: Eu sempre tive vontade de fazer Pedagogia, entretanto, na época, se fazia o magistério primeiro, e era no período da manhã. Como eu trabalhava na roça e, depois, fui trabalhar em uma farmácia, eu não tinha disponibilidade para estudar de manhã. Acabei por fazer a segunda opção, que era Administração de Empresas, disponível no período noturno. Atuei no ramo por 15 anos, em uma distribuidora de combustível, que migrou para São Paulo. Antes disso acontecer, saí do emprego e fui cursar Pedagogia. Após me formar, lecionei por 10 anos e, hoje, sou diretora da APAE.
GAZETA: Quais as diferenças entre dar aula e ser diretora?
Edinir: É muito diferente. Dentro da sala de aula, os problemas que você possui são inteiramente da sala de aula. Caso você precise tirar dúvidas, consulta o coordenador. Seu trabalho é cumprir com as obrigações para com os alunos, e tudo fica restrito à classe.
Na direção, é bem mais amplo; não é só uma sala, é a escola inteira, incluindo, funcionários, desde motoristas a responsáveis pela saúde. Mas, no meu caso, por estar atuando como professora há 10 anos na APAE, eu já tinha noção dos problemas que o lugar enfrentava, o que não me impediu de ter dúvidas, mas me deu certa experiência, além de possuir facilidade no ramo administrativo por ter trabalhado na área.
GAZETA: Qual o seu sentimento em trabalhar com crianças especiais? O que mais você aprendeu com elas?
Edinir: O sentimento é que você não sabe nada e que aprende tudo com elas, todos os dias, porque elas ensinam. Nunca fiz distinção de ninguém e, para mim, nunca foi difícil entender as limitações das crianças. Diariamente, elas me mostram possuírem uma capacidade excepcional, uma humanidade rara. Elas entendem e percebem o que você passa, como se sente perante a tudo.
Eu sempre fui uma pessoa fechada e não compartilho meus problemas, mas, houve um período em que eu estava passando por muitas dificuldades. Um dia, cheguei à escola, no portão do nosso salão. No palco, estava um aluno que, ao me ver, veio direto ao meu encontro. Ao chegar, me perguntou se eu estava triste, o que respondi de forma negativa. Este aluno insistiu que eu não estava feliz naquele dia, pela simples alegação de que meus olhos não estavam brilhando como brilham habitualmente. No final, ainda me ofereceu seu ombro caso eu precisasse desabafar.
São pequenos gestos como esses que nos ensinam muito sobre os especiais. É uma experiência que só quem vive sabe falar do retorno. Você vê que, mesmo com todas as dificuldades, eles chegam dando risada, eles brincam, estão sempre felizes, e então você percebe que o seu problema não é nada perto do deles, mas que, mesmo assim, eles continuam sorrindo.
GAZETA: A APAE vem passando por muitas dificuldade nos últimos tempos?
Edinir: Ela já esteve em um estado muito crítico, mas, conseguimos estabilizar. Entretanto, ainda precisamos de convênios e associados que nos ajudem a crescer. Precisamos manter duas salas de aulas de alunos de mais 30 anos, totalizando 40 usuários, os quais não têm convênio, por isso, estamos buscando associados para poder manter as salas. Todos eles produzem artesanato ou realizam Terapia Ocupacional, por isso, não podemos desativá-la.
GAZETA: Você se sente satisfeita com sua vida até hoje?
Edinir: Sim, apesar de todas as dificuldades que enfrentei, me sinto satisfeita. Casei, tenho dois filhos e um neto. Me formei em Administração, depois eu fiz a Pedagogia Plena e ainda fiz duas pós-graduações e outras especializações. Sinto-me realizada com a minha vida, valeu a pena.