Esta semana, a GAZETA de COSMÓPOLIS realizou a entrevista com Edneia Dolores dos Santos Arrebola Fernandes, de 62 anos. A atual presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) conta parte de sua trajetória até a chegada em seu atual cargo.
GAZETA de COSMÓPOLIS: É de Cosmópolis?
Edneia Dolores dos Santos Arrebola Fernandes: Não. Nasci em Guarulhos, mas morei por muitos anos em São Caetano do Sul – SP. Em Cosmópolis, estou há 27 anos. No começo, foi bem difícil me adaptar à cidade. Chorei por muito tempo (risos), mas, as coisas foram se ajeitando.
GAZETA: Por que veio para cá?
Edneia: Casei ainda em São Caetano do Sul, e toda a família do meu marido, uma família tradicional, morava em Cosmópolis, o que nos levou a migrar para cá também.
GAZETA: O que fez aqui nos primeiros anos?
Edneia: Bom, no começo, eu não trabalhei por desejo do meu esposo. Surgiu, então, a oportunidade de prestar o concurso da Prefeitura, e eu, sem nada melhor para fazer, me inscrevi e fiz a prova. Não esperava passar; fui aprovada e, dois dias após a liberação da listagem, fui chamada para trabalhar.
Acabei gostando muito da ideia, principalmente, por se tratar de um trabalho que envolvia pessoas. Sempre gostei muito de lidar com elas, inclusive, tentei cursar Pedagogia quando em São Paulo.
GAZETA: Com o que você começou a trabalhar?
Edneia: Na minha carteira de trabalho, estou registrada por serviços gerais, por isso, fiz de tudo. Trabalhei em creches, escolas e tudo mais. Nunca gostei de ficar parada, e ter um serviço dinâmico como este sempre me alegrou.
GAZETA: Como veio parar na APAE?
Edneia: Eu tenho um filho autista de 19 anos. Para colocá-lo na APAE, tive que brigar muito na cidade. Infelizmente, aqui não é dada muita importância para pessoas em condições como esta. Por isso, fui atrás de colocar meu filho em um local adequado.
Nos primeiros anos, me vi obrigada a levá-lo a Paulínia, onde ficou por 3 anos. Entretanto, naquela escola, ele aderiu costumes que não correspondiam a quem ele é, o que nos levou a trazê-lo de volta. Em Cosmópolis, meu filho foi levado a uma escola comum, que não possuía nenhuma estrutura para lidar com uma pessoa autista. Ele só não entrou mais cedo na APAE, pois não aceitavam crianças de 7 anos.
GAZETA: Antes da presidência, você já havia exercido algum cargo dentro da APAE?
Edneia: Não, eu era apenas mãe, mas, de alguma forma, sempre me envolvi com as coisas, sempre me dediquei a ajudar, sempre tive essa aptidão. E isso influenciou muito minha gestão aqui, já que, como mãe de aluno, pude ver as principais necessidades que eles possuem, algo que muitos outros gestores não viam.
GAZETA: Quando exatamente você assumiu a presidência do local? Como surgiu a oportunidade?
Edneia: Entrei como presidente em janeiro de 2017. Na verdade, eu já atuava como vice antes disso, o que me levou à presidência um pouco antes de montar a chapa. O antigo representante iniciou a campanha para vereador, o que o afastou do cargo e me deixou na gestão. Fiquei substituindo por seis meses, e neste período pude demonstrar um bom comprometimento. Quando iniciamos o período de eleições, montei uma chapa.
GAZETA: Você acredita que ser mãe de uma pessoa especial é importante para o cargo?
Edneia: Sim! É necessário, pelo menos, ter alguém próximo com alguma condição, pois, só assim se entende o que eles passam e precisam, o que os pais sentem e o que significa ter uma instituição como esta. Justamente por isso, nosso Conselho é composto, em sua grande maioria, por pais de alunos.
GAZETA: Ao longo desse período como presidente, mesmo já sendo mãe de uma pessoa especial, o que você foi aprendendo com esse conjunto de jovens, das mais diversas condições?
Edneia: Aprendi tanta coisa! Aqui me tornei mais humana, passei a pensar em conjunto e ser mais paciente.
GAZETA: Quais os planos futuros?
Edneia: Muitos! Já estou correndo atrás, na verdade. Recentemente, conseguimos uma Doblò para transportar os alunos que precisam jogar em algum lugar ou participar de algum evento – isso foi gratificante. Infelizmente, meu mandato acaba em um ano e há muitos planos pendentes, pois, não temos verba suficiente. Porém, eu, enquanto estiver aqui, buscarei alguma forma de reformar este local, dar aos alunos um pátio decente e seguro e construir uma fachada bonita que a APAE nunca teve.
GAZETA: Mesmo que ainda não tenha concluído todos os seus objetivos, você se considera uma pessoa feliz com o que vem realizando?
Edneia: Sim. Muito feliz. Cada evento que fazemos, onde me dedico a fazer tudo o que posso, é uma alegria diferente.