Esta semana, a Gazeta de Cosmópolis realizou uma entrevista com o Luthier cosmoplense Fabio Augusto Pires, de 36 anos.
GAZETA de COSMÓPOLIS: O que exatamente faz um Luthier?
Fabio Augusto Pires: A palavra luthier é designada a pessoas que constroem e consertam instrumentos musicais. A princípio, era voltado para quem fazia o conserto de violinos, mas, com o tempo, passou a englobar todos os outros instrumentos.
GAZETA: Quantas horas, geralmente, você leva no conserto de um instrumento?
Fabio: Depende do instrumento e do trabalho a ser feito. Por exemplo, para regulagem, levo em torno de 1 hora. Para uma troca de trastes, levo duas horas para fazer apenas uma parte, que engloba montar e colar. Já a outra deixo para o dia seguinte, onde levo mais 1 hora e meia.
GAZETA: Em quais áreas um Luthier pode atuar?
Fabio: O ofício de Luthier possui um campo bem limitado, por isso, é uma profissão escassa. O trabalho que realizamos relaciona-se muito com a marcenaria, já que ambos sabem manusear bem a madeira, por isso, podemos trabalhar com a produção de móveis planejados, etc.
GAZETA: Quando decidiu ser um Luthier e quem foi a principal influencia?
Fabio: Eu trabalhei por 14 anos na Usina Ester. Desses 14 anos, 11 deles passei como administrador de compras. Além disso, toco violão desde os 14 anos de idade, por isso, frequentava muito a Loja da Música em Artur Nogueira, do Ronaldo Berni. Sempre tivemos muita amizade, e ele foi um dos meus principais influenciadores.
Por ser formado em eletrônica, tive facilidade em aprender a parte de conserto eletrônico. Já a madeira foi mais difícil, tive que me adaptar sozinho, pois, não havia quem me ensinasse. Fui treinando com meus instrumentos mesmo e, sempre que terminava um trabalho, o mostrava para o Ronaldo, este que sempre me elogiou e incentivou, afirmando que eu levava jeito para o ramo e que deveria seguir. Isso aconteceu há uns sete anos.
Um dia, enquanto eu observava os instrumentos musicais da loja (algo que todos adoram fazer), um pastor de uma igreja chegou com uma guitarra e um baixo a procura de um Luthier para consertar aqueles instrumentos. Ronaldo logo me indicou, me jogando na profissão de repente (risos).
Fiquei perdido a princípio, já que apenas consertava os meus. Não havia pensado em nenhuma relação de preços, nem soube o que falar para o homem, apenas peguei o telefone e disse que iria ver certinho a questão do valor. Por fim, contei com a ajuda do Leonardo Nemesio também, este que me deu muitas dicas de manutenção.
De repente, me vi trabalhando na Usina em horário administrativo (das 8h às 17h15) e, saindo de lá, duas vezes por semana – uma para buscar os instrumentos na loja para consertar e outra para devolvê-los e trazer uma outra remessa. Fiz isso durante três anos.
Depois, percebi o quanto apaixonado sou por esse ramo. Foi aí que resolvi sair do emprego e seguir apenas a carreira de Luthier.
GAZETA: Quais os tipos de instrumentos que você arruma?
Fabio: Os instrumentos de corda no geral, exceto os clássicos. Guitarra, violão, baixo, cavaco, viola, baixolão, etc. São os mais populares. Não mexo muito com a área de instrumentos clássicos, até porque já temos outro Luthier na cidade especializado neles. Então, os serviços de instrumentos mais populares sempre vêm para mim.
GAZETA: Para ser Luthier, precisa ser músico?
Fabio: Sim, precisa. Ou, pelo menos, ter um bom conhecimento de instrumentos. Não há necessidade de ser um musico excepcional, mas é necessário entender bem a área.
Esse conhecimento é importante, por exemplo, no momento de regular a altura da corda para o músico, pois, entendendo o modo que ele toca, ficará mais fácil de ajustá-lo ao ‘gosto do freguês’.
É curioso que muitas pessoas compram violão e não sabem da existência dessa profissão. Já soube de inúmeros casos de pessoas que venderam seus instrumentos por conta da dificuldade que tinham em tocá-los, sem nem imaginar que existe uma pessoa designada para fazer esse tipo de serviço, pois, nenhum instrumento, independente do preço, virá regulado ao modo de quem irá tocá-lo.
GAZETA: Como tornou-se Luthier de nomes famosos, como Edson e Hudson?
Fabio: O que me abriu as portas para consertar instrumentos de pessoas com maior influência no mundo da música foi justamente a Loja da Música, de Artur Nogueira. Lá, meu trabalho foi bem divulgado e logo me vi consertando instrumentos para a equipe da dupla Edson e Hudson. Por conhecer o assessor dos dois, Henrique Cavallari, tive a oportunidade de estar em contato com os instrumentos dos cantores mesmo, já que ambos iam gravar um novo DVD .
Fui contatado pelo Henrique, que costumo chamar de Presuntinho, para realizar o serviço. Por fim, eles adoraram e passaram a fazer a manutenção de seus instrumentos comigo frequentemente. Criamos amizade, já estive com eles algumas vezes e sinto que trabalhar para eles é um sonho realizado, apesar de nunca ter tido grandes ligações com a música sertaneja.
Além dos dois, também sou Luthier da dupla Zé Neto e Gabriel.
GAZETA: Já pensou alguma vez que seu trabalho chegaria a tamanhas proporções?
Fabio: Não, nunca mesmo! Eu não sou ambicioso, não tenho vontade de montar uma fábrica de instrumentos musicais. Sou feliz com o que tenho e acredito que o que vem, acrescenta. No caso dos famosos, foram pessoas que acabaram vindo para conhecer meu trabalho e que me depositaram confiança. Na verdade, isso é uma grande honra para mim.
GAZETA: Quais as dificuldades que você enfrentou dentro do ramo?
Fabio: A maior dificuldade que encontrei foi, principalmente, em achar alguém que me ajudasse no começo, pois, quando decidi ser Luthier, não havia quem me ensinasse o ofício. Me guiei sozinho e no escuro.
GAZETA: Há alguma faculdade ou escola técnica que forneça o curso do ramo?
Fabio: Há uma escola em Campinas que possui um curso da área, mas bem básico. E em Tatuí possui uma faculdade que forma luthiers. É uma área pouco vasta, por isso, o estudo dela também é.
GAZETA: Você dá cursos? Se não, pensa em lecionar?
Fabio: Na verdade, eu nunca cheguei a pensar nisso, até porque não é algo muito procurado, pois é um serviço instável. Às vezes, há bastante demanda e, outras vezes, não tem nada.
GAZETA: Quais as dicas que você dá para quem quer seguir a carreira?
Fabio: Tem que ser apaixonado por isso, pois, para regular um instrumento requer paciência e tempo. Se a pessoa tem mesmo vontade de seguir a carreira, deve procurar cursos, correr atrás de pessoas já especializadas, inclusive eu, que estou sempre disponível para dar dicas.