Entrevista com Ieda Maria dos Anjos

Esta semana, a GAZETA De COSMÓPOLIS entrevistou uma das ícones do Lar dos Idosos, Ieda Maria dos Anjos, 52 anos. Na entrevista, ela contou sobre seus sonhos e desejos para o futuro, assim como seu prazer em cuidar de idosos.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Você é de Cosmópolis ou veio para cá? Se veio, quando chegou aqui?
Ieda Maria dos Anjos: Eu morava em Santa Fé do Sul, mas, fui criada no Paraná. Eu vim para Cosmópolis em 1990. Na época, minha filha tinha cinco meses; hoje, ela já está com 28 anos. Me lembro que, logo que cheguei aqui, me sentia muito deslocada, não conhecia ninguém. Meu marido veio para trabalhar como engenheiro na CBI, onde ele ficou por dois anos.
Então, aos poucos, fui me adaptado, longe de pai e mãe, distante da família em geral. Nesse período, eu abri mão de trabalhar para ficar com minha filha.
Quando ela completou 18 anos, eu voltei a trabalhar. Entretanto, minha história com o Lar dos Idosos começou antes disso. Eu havia feito um trabalho voluntário no ‘Lar’ por dois anos. Só então depois eles me chamaram para ser funcionária.
Com praticamente 30 anos de Cosmópolis, peguei um amor pela cidade. Digo que gostaria de ver a cidade até mais desenvolvida, bonita e com mais estrutura.

GAZETA: O primeiro trabalho que exerceu depois de chegar a Cosmópolis foi onde?
Ieda: Foi no Lar dos Idosos.
Eu dei aula na Arca de Noé, mas, foi só por uma semana, quando cobria o lugar de uma professora. Logo depois, fui chamada para trabalhar no ‘Lar’.
Sou formada em magistério, fiz curso de Letras, não terminei. Depois, com mais de quarenta anos, decidi fazer curso de enfermagem e, agora, aos 52, estou querendo voltar a estudar novamente.

GAZETA: Quando começou no ‘Lar’ as coisas eram diferentes. Conte sobre as diferenças que sentiu de lá para cá.
Ieda: Era diferente porque, na época, o ‘Lar’ teve uma mudança de funcionários. Nós éramos uma equipe nova que tentava resgatar, melhorar e qualificar o trabalho. Isso foi evoluindo e melhorando o serviço aos poucos.
Antigamente, ainda na Avenida Ester, eu morava praticamente do lado do ‘Lar’. Fiquei triste com a mudança porque lá tinha uma história muito importante. Porém também ficamos muito felizes porque a estrutura aqui é bem melhor para os idosos.

GAZETA: Por que escolheu enfermagem?
Ieda: Eu escolhi o curso quando comecei a trabalhar no ‘Lar’. Via a necessidade de eles terem profissionais e não ter o lado financeiro para estruturar a entidade na época. Pensei em fazer o curso para ajudar.
Como eu sempre fui de fazer trabalhos sociais, estar em algum lugar ajudando, vi a necessidade e resolvi fazer o curso.
Depois do curso, o ‘Lar’ me chamou para ser uma profissional junto deles. Foi aí que vi que era a escolha certa. Até hoje, devido ao meu curso, consigo ajudar muito.
Acredito que outra coisa que me influenciou a escolher o curso foi a curadoria dos meus pais, sogros e tias; agora, posso cuidar deles com mais segurança.
Fazemos o trabalho aqui dentro, mas, orientamos muitas pessoas de fora que nos procuram.

GAZETA: Você comentou que passou por diversas instituições. O que acredita que a prendeu no ‘Lar’?
Ieda: Sempre tive uma paixão enorme por idosos. Eu senti algo como ‘se não posso estar perto dos meus pais, ainda posso cuidar de alguém, dar alguma coisa de bom ou meu melhor a alguém’. E é assim que vejo o Lar dos Idosos, como uma segunda família.
Vejo a necessidade que eles têm, independente deles terem família ou não, eles são carentes.
Os idosos não pedem muitas coisas para você. E o mínimo que você faz eles já agradecem com muita sinceridade. O retorno que temos de todos os trabalhos é o amor, carinho e confiança – isso que faz valer a pena.
Cada dia que eu acordo, peço a Deus sabedoria e capacidade de cuidar. Isso é um dom que Deus coloca na nossa vida, pois, não é simples e não é fácil.
‘Ou você cuida com amor ou dá espaço para quem quer cuidar’. Por isso que no ‘Lar’ prezamos por isso, cuidar com amor e carinho.

GAZETA: É muito comum ouvirmos de nossos pais o conselho de que devemos aprender com ‘os mais velhos’. O que você aprendeu com ‘os mais velhos’?
Ieda: A gratidão. O idoso é muito grato por tudo que fazemos por eles. Esse trabalho foi uma escola para mim e o que aprendi aqui ninguém tira. Vejo como uma joia, ganhamos e lapidamos para nos tornarmos pessoas melhores.
Eles são muito gratos por tudo que fazemos, seja qual for ajuda, eles são imensamente gratos

GAZETA: Quais são os seus sonhos para o futuro em geral?
Ieda: Meu sonho era fazer medicina. Na nossa época, era tudo mais difícil e era muito difícil atingir nossas metas como hoje os jovens conseguem. Mas, atualmente, meu sonho é fazer o curso de serviço social. Vejo que é o meu perfil e eu gosto disso.
Quero continuar no Lar dos Idosos e continuar fazendo por eles. Alguém precisa fazer, que sejamos nós e de melhor qualidade possível.

GAZETA: Qual a sua vontade quando se tornar uma idosa?
Ieda: Eu quero ir para os bailes, estar no meio de pessoas e poder ajudar, principalmente, porque terei mais tempo para as entidades. Me sinto bem fazendo isso, é muito gostoso.
Temos que observar que fazer algo por alguém faz muito bem, melhor para nós que ajudamos do que para própria pessoa que está sendo ajudada.
Quero continuar do jeito que sou, de bom humor, acordar sorrindo e continuar alegre. Não quero reclamar da vida, e sim, vive-la da melhor maneira possivel.