Entrevista com Juliana Kelli Jacon da Silva

Esta semana, a Gazeta de Cosmópolis realizou uma entrevista com Juliana Kelli Jacon da Silva, 34 anos, que, juntamente ao seu esposo, João José da Silva Neto, administram o depósito de bebidas Zero Grau. Ela conta como foi a dificuldade de abrir um negócio e como é ser mulher num ambiente onde a predominância é de homens.

GAZETA de COSMÓPOLIS: Como chegou a Cosmópolis? E como foi o período de infância?
Juliana Kelli Jacon da Silva: Nasci em Limeira e sempre morei em sítio. Quando casei, meu marido e eu abrimos o depósito de bebidas Zero Grau em Cosmópolis e mudamos para cá, mas, minha família toda é de Limeira.
Minha infância toda foi no sítio e sempre foi muito bom, era outra criação e tinha muita liberdade. Não trabalhava, mas, ajudava minha mãe. A parte mais difícil era estudar, pois, era longe e o ônibus não passava no sítio, então, tínhamos que pegá-lo na pista. Meus pais trabalhavam com laranja na época e minha irmã mais velha era quem ficava comigo.
Com o João, meu marido, já foi diferente. Ele era de Minas e trabalhou desde os 10 anos de idade, morava com a avó, pois, os pais eram separados.

GAZETA: E, hoje, criando seus filhos na cidade, o que reflete de diferente na vida deles?
Juliana: Um brinquedo e até um doce que eles veem na TV e querem. Eu não tinha nada disso, somos em quatro irmãos e minha mãe não tinha condições de comprar para todos nós. Hoje em dia, eu tenho condições de dar o que eles pedem ou veem na TV. Já na minha época, eu ficava tempos com vontade de comer chocolate e, agora, eles têm chocolate todos os dias.

GAZETA: Você seguiu alguma profissão?
Juliana: Ganhei bolsa no ISCA e me formei em Turismo, mas, não cheguei a exercer a profissão, pois, engravidei aos 21 anos e casei. Comecei a trabalhar com o João no depósito desde então.

GAZETA: Como foi mudar de cidade e começar um negócio?
Juliana: Vim para Cosmópolis com meu esposo há 13 anos. Vão fazer 15 anos que nós abrimos o depósito e é o segundo depósito que foi aberto aqui na cidade, hoje sendo um dos mais antigos.
No começo, nós tínhamos um sócio, e achei que não íamos conseguir levar o negócio por tanto tempo, que iríamos vender ou até deixarmos para o sócio, mas começou a dar certo e compramos a parte dele; foi fluindo a partir daí.
A minha família toda morava no sítio e sempre fui muito apegada a eles; mudar para cá e ficar longe de todo mundo foi muito difícil. Eu ia de 2 a 3 vezes por semana para Limeira de ônibus, pois, não sabia dirigir na época, e ainda com um filho pequeno, para ver minha mãe. Não podia ir muito porque ajudava o João no depósito.

GAZETA: E a parte financeira, como foi naquela época?
Juliana: O João trabalhou e se esforçou muito para conseguir tudo o que ele tem hoje. O que ele fez naquela época, dificilmente alguém faria hoje.
Moramos um tempo em Limeira. Então, ele enchia as caixas vazias, levava para Limeira, dormia em casa, passava na mãe dele, que era onde ele descarregava as caixas, pegava as caixas e voltava para Cosmópolis, ficando o dia todo aqui, e voltava 22h para Limeira. O lucro começou depois de 2 a 3 anos, quando começamos a pegar clientes fixos; antes disso, ele lutou muito.

GAZETA: Como é para você trabalhar em um lugar de predominância masculina?
Juliana: Eu já acostumei e eles também já acostumaram comigo. E por eu estar lá, atraí bastante mulheres, pois, talvez se eu não estivesse lá, poucas mulheres frequentariam. Nunca fui desrespeitada, a não ser por pessoas que não frequentam o local e não sabem que sou esposa do João. Evito dar atenção e desvio o assunto, se continuam insistindo, saio de perto, o João já percebe também e toma a frente. Porém, dificilmente, tenho esse tipo de problema.

GAZETA: O que você aprendeu ao longo dos anos dentro do Zero Grau?
Juliana: Eu aprendi a ser mais comunicativa, saber conversar mais, fazer muitas amizades e conhecer muita gente legal e isso é tudo do comércio. Ajudo muita gente e muitos me ajudam também.

GAZETA: Que dicas você pode dar para quem quer começar algum negócio?
Juliana: Ser paciente, porque comércio não é fácil, ter paciência com os clientes, pois, um cliente é diferente do outro. Se dedicar ao trabalho por amor e não só por dinheiro, fazer o que gosta e dar o seu melhor. Acreditar e esperar que vai dar certo.

GAZETA: Quais foram as dificuldades que vocês enfrentaram, principalmente, na vida pessoal?
Juliana: Do João, não acompanhar muito o crescimento dos filhos. Sou eu quem leva e busca nos lugares. Além de tudo isso, ainda me sinto na obrigação de ajudar no depósito e não posso cobrar muito dele, pois, ele fica o dia todo trabalhando, de domingo a domingo. Têm dias em que não é fácil, mas, temos que aproveitar a vida dando nosso melhor.

GAZETA: Tem algum futuro plano para o Zero Grau?
Juliana: O João abriu um Pit Stop recentemente em Artur Nogueira e pretendemos expandir o negócio futuramente, abrindo um outro depósito por lá.