Entrevista com Maria José Ferreira Nogueira

O quadro Entrevista, da Gazeta da Cosmópolis, mostra a vida de Maria José Ferreira Nogueira, mais conhecida com Zeca. A pedagoga aposentada conta que o magistério nunca chamou sua atenção, o que a levou para a vida nos bancos. Após 13 anos em um emprego que amava, Maria José se viu sob algo novo: lecionar. Foi aí que descobriu o amor pela educação e pela mudança. Sua trajetória na escola estadual Célio Rodrigues Alves, como diretora, tornou-se um dos casos mais memoráveis de sua vida.

GAZETA DE COSMÓPOLIS: É cosmopolense? Conte um pouco sobre sua juventude.
Maria José Ferreira Nogueira: Sou de Cosmópolis. Aqui, tive uma infância muito satisfatória. Morei no Centro, que é onde minha mãe ainda mora. Naquela época, as ruas ainda não eram asfaltadas e todos se conheciam. Minha turma do colégio ainda é muito unida. Me casei em 1982, com Antonio Nogueira Filho, com quem tenho dois filhos, Antonio Pimentel Netto e Heloisa Ferreira Nogueira.

GAZETA: Qual a sua formação? Como decidiu por ela?
Maria José: Sou formada em pedagogia, mas devo dizer que minha vida profissional é bem complexa (risos).
Durante a adolescência, fiz o magistério, mas, não era tão fácil dar aulas como parecia, era um tanto burocrático. Por isso, fui parar no banco Itaú, onde trabalhei por 13 anos. Após o recesso bancário do Plano Collor, saí do emprego.
Fiquei mal por um tempo, até porque eu amava o que fazia, mas eu ainda precisava trabalhar, por isso, resolvi colocar para funcionar o certificado que eu tinha para lecionar. Iniciei, então, como estagiária na escola estadual Célio Rodrigues Alves. Passei altos e baixos por lá (risos).
Algum tempo depois, decretaram que, para lecionar, era necessário o diploma de pedagogia, o que me levou, no ano de 1998, para a graduação. Por já ter histórico de anos como substituta, não precisei de estágio, e, no término na minha faculdade, eu era coordenadora infantil.

GAZETA: Como chegou ao cargo de diretora?
Maria José: Fiz inscrição para o concurso de diretor, que estava acontecendo em Barão Geraldo, e passei na primeira fase. Como nada na minha vida é fácil (risos), eu fui enviada para um colégio em Francisco Morato, na Região Metropolitana de São Paulo, que possuía 2600 alunos. Foi um grande desafio, mas, os 6 meses que fiquei lá foram de muitos aprendizados.

GAZETA: O que foi aprendendo nesse trabalho com 2600 alunos?
Maria José: Tudo o que se possa imaginar, tanto na questão de secretaria quanto para administração pessoal. Eu sempre tive facilidade nesse âmbito, principalmente, por ter trabalhado por anos com público no banco Itaú. Lá, aprendi muito sobre relações pessoais e empatia.
Em Franciso Morato, as pessoas eram muito carentes, mas de uma humanização surreal. É claro que tive problemas, mas fui aprendendo a lidar.

GAZETA: Ter trabalhado em um colégio com 2600 alunos te ajudou a lidar melhor com a condição que a escola Célio Rodrigues se encontrava?
Maria José: Sim, trabalhei no Célio, mas antes, eu havia trabalhado no Munhoz, em Artur Nogueira. Quando efetivei aqui, vi o caos que era e tive vontade de pegar meu rastro e voltar a pé para Artur (risos). Era uma verdadeira loucura. Havia cavalos pastando na quadra, buracos no chão, esgoto passando em frente as salas, falta de porta. Foi assustador.
Minha estadia em Francisco Morato foi primordial para que eu soubesse como lidar com tudo aquilo, a quem recorrer. Além disso, contei com a ajuda da professora Viviane Rolfsen Mortari e, depois, da dona Valquiria Itner Galhardi. Ambas foram grandes parceiras e nós sempre falamos a mesma língua.
Dia após dia, foram lutas e conquistas. Fui uma diretora rigorosa, mas, em compensação, consegui ver o que sempre sonhei: alunos trabalhando, se formando em faculdades, interagindo de forma correta com a sociedade. Sinto-me orgulhosa por tudo o que fiz e por todos que estiveram comigo nestes 12 anos.

GAZETA: Em algum momento, acreditou que, de assistente de gerência de um banco, se tornaria diretora escolar?
Maria José: Não, em momento algum. Tanto que, quando minha mãe, hoje falecida, disse que eu iria fazer o magistério, eu não quis. Mas acabei cedendo e indo estudar em Campinas, e as mudanças me levaram para lá. No fim de tudo, era o meu destino.