O quadro ‘Entrevista’ desta semana é com Paulo Roberto Armelin, conhecido como Paulinho. Nascido em Americana, Paulinho já quis ser padre e, hoje em dia, é proprietário da Papelaria Aquarela.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Onde você nasceu?
Paulo Roberto Armelin: Nasci aqui na região, em Americana. Nasci depois do morro da Usina. Se eu subisse no telhado da minha casa, eu via Cosmópolis.
GAZETA: Por que você veio para Cosmópolis?
Paulo: Vim para cá em 1980, com quase 20 anos, para ser padre. Família religiosa, influência dos pais e Cosmópolis tinha uma casa onde moravam os estudantes de Filosofia que pleiteavam ser sacerdotes. Assim, eu e mais um grupo de 12 moços viemos para cá. Dia 18 de Dezembro de 1980, eu desci numa Kombi antiga. Nunca tinha vindo para Cosmópolis, mesmo morando perto. Era uma cidade muito pequena.
GAZETA: Você foi bem recebido em Cosmópolis?
Paulo: De verdade, fiz os meus maiores e mais importantes amigos da minha vida. Foi uma cidade que foi muito boa e muito legal.
GAZETA: Desde criança, você queria ser padre? Por que você quis ser padre? E por que não seguiu sendo padre?
Paulo: Não, de verdade, não. Sou Contador de formação e Administrador de Empresas. Eu era Contador, era do setor de custos de uma empresa de Santa Bárbara. Tinha terrenos em Santa Bárbara. São momentos na vida da gente. Quando somos jovens, queremos mudar o mundo de alguma forma. Naquela época, havia muito sofrimento e muita dor.
Minha família era muito religiosa, eles eram muito de igreja e eu via na igreja um canal de oportunidade de fazer com que as pessoas fossem melhores. Era um sonho meu. É complicado. É uma carreira muito exigente. Tem muita coisa que não podemos mudar. Uma das minhas crises é a questão do amor. O sacerdote tem que fazer voto de celibato, mas não tem jeito. Quando a gente se apaixona por alguém, dá um trabalho e, quando o amor toma a gente, ficamos meio baqueados. Eu tinha certeza que não conseguiria seguir o voto do celibato. Brinco que a culpa de eu não ser sacerdote é de Deus por fazer mulheres bonitas (risos). Precisa ter muito equilíbrio. Saí por respeito à instituição.
GAZETA: Por que resolveu abrir uma papelaria?
Paulo: Quando saí de casa e fui fazer Filosofia, me envolvi muito com sindicato e partidos políticos. Então, estava muito envolvido com isso. Cosmópolis tinha o Aquarius, um grupo ecológico muito importante para o meio ambiente. E com jeito revolucionário, ninguém contrata a gente. Eu era de esquerda, gostava de sindicato, queria justiça, e eu fiquei muito deslocado; por acidente, abri uma livraria em Cosmópolis.
Vendia todos tipos de livros. Junto com o livro, comecei a vender alguns cadernos, lápis, canetas, tudo bem modesto. Era diferente o mundo naquela época. Vi que o material escolar começou a dar mais lucro e ficamos só com a papelaria.
GAZETA: Quais são as maiores dificuldades em ser autônomo?
Paulo: Hoje, o modelo econômico é muito complicado, ele dá certo, mas só pra quem é rico. Então, se eu tenho um poder de compra grande, eu compro barato; caso contrário, fica muito complicado. Pequenos negócios não conseguem competir nesse meio. O maior problema é no seguimento de vendas de produtos. Se eu fosse começar de novo, partiria para o campo de serviços. Competir com vendas é complicado.
GAZETA: Quais dicas você deixa para quem está começando agora?
Paulo: Indico sempre o SEBRAE. É um segmento que orienta mesmo. Ele é um grande parceiro. Procure um técnico do SEBRAE para que ele possa te ajudar. O empreendedorismo no ramo de serviços é o melhor; no ramo de vendas fica complicado.
GAZETA: Deixe sua mensagem:
Paulo: Minha mensagem é que quanto mais eu envelheço, mais eu amo viver. A vida é a coisa mais simples do mundo. Para a vida, basta respirar, beber um copo da água e comer um pedaço de pão. Essa simplicidade de viver que perdemos. Quais as dores que temos? De não ter aquilo que não preciso daquilo que enferruja, mas a vida não. Quanto mais eu envelheço, maior meu amor à vida. É bom viver. Não é bom sofrer por coisas que não são da vida. Se você não tiver vida hoje, você não tem nada. É preciso amar a vida, gostar de si e não sofrer por nada que não seja o ar, o pão e a água.