Nesta semana, a GAZETA de COSMÓPOLIS entrevistou Roberta Cruz, uma mulher que enfrentou preconceitos, dificuldades e muitas mudanças em sua vida. Ela veio de Belém (PA) diretamente para Cosmópolis em 2009, com um filho de quatro anos. A missão dela era gerenciar uma empresa, que na época se situava em Paulínia. Após conquistar sua casa própria e sair da empresa na qual trabalhava, decidiu realizar seu sonho de criança, ser cabeleireira. Depois disso, teve que fechar o salão e seguir novamente a vida profissional em outra empresa. Hoje, com dois filhos, ela conta sobre suas realizações pessoais e sobre seus sonhos e desejos para o futuro.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Você é de Belém, correto? Veio para Cosmópolis quando?
Roberta Cruz: Eu vim para cá em 2009, fui convidada por uma empresa para auxiliar no início de uma operação. Ficaria somente 15 dias, mas, depois, fui convidada a ficar na empresa. Na época, meu filho tinha quatro anos e aceitei o convite para vir, fiquei aqui cinco meses morando em hotel. Eu fiz a opção de morar em Cosmópolis pelo custo de vida e por indicação de pessoas daqui.
Acho que a fase mais difícil foi essa, porque eu vim para gerenciar uma empresa e, por ser uma mulher que veio do norte, senti que não fui muito bem aceita pelas demais pessoas da empresa, que eram majoritariamente do sul e sudeste. Não posso falar que foi tudo lindo e maravilhoso, tive uma recepção bastante hostil. Mas, fiquei por um bom tempo, o trabalho deu certo, trouxe a criança para cá e consegui montar minha casa.
Continuei um bom tempo na empresa, acompanhei quando foi para Piracicaba, só que lá a franquia não foi tão bem e eu decidi sair. Foi aí que optei por voltar para Cosmópolis.
GAZETA: Você acabou seguindo uma carreira autônoma. Nos conte um pouco sobre isso.
Roberta: Não é meu perfil ficar parada, sem trabalhar. Então, decidi realizar um sonho que tinha desde criança, me tornar cabeleireira.
Minha formação acadêmica é de assistente social, fui seguindo por esse caminho e depois me tornei gerente administrativa. Entretanto, o sonho de criança continuava em mim.
Fiz o curso, montei o salão, e, por questões pessoais, não pude manter o salão, mas, o sonho eu consegui realizar. Então, hoje, eu posso dizer que tudo que eu planejei na vida consegui concretizar.
GAZETA: Falando nisso, ainda tem algum desejo em executar um trabalho na área de assistência social?
Roberta: Acredito que isso ficou um pouco mais distante. Mas, a formação de assistente social, na minha opinião, dá base para argumentar, contra- argumentar, discutir e criar em qualquer setor do mercado de trabalho. As áreas de atuações para um assistente social são muitas. O que hoje eu introduzi na minha vida como gerente administrativa, que foram quase 15 anos, foi com base do que eu fiz na faculdade, acabo atuando indiretamente.
GAZETA: Você comentou sobre a hostilidade com que foi recebida. De lá para cá, você sente que isso mudou?
Roberta: Ainda falta muito. Acredito que, muitas vezes, a leitura e o conhecimento, até mesmo geograficamente, sobre norte e nordeste são muito equivocados. Então, quem convive, conhece e frequenta minha casa, minha rotina, consegue sentir um pouco mais e aí eu realmente sinto uma mudança de comportamento. Acredito que isso acontece porque a pessoa conseguiu ter um pouco mais de informação. Entretanto, no primeiro momento, não sinto isso. É chocante o que a gente ouve.
Quando eu falo que existe uma melhora é em função das conquistas que eu tive ao longo do tempo. Então, quem precisou responder foi o tempo, para todo mundo. À medida que eles foram percebendo que uma pessoa de fora veio gradativamente conseguindo, conquistando, e os resultados são bons e positivos, eles começam a ter uma visão diferente.
Mas, se você fizer uma pesquisa no geral, infelizmente, vai notar que existe uma divisão; até mesmo no cenário político é possível visualizar.
GAZETA: Você sente saudade da sua cidade natal? Foi visitar lá? Como é sua relação?
Roberta: Então, é algo que eu sinto, algumas pessoas podem até ficar chateadas com o que eu vou falar, mas meus conceitos relacionados a valores de cultura, raízes e família, eu não consegui sentir aqui. Eu preservo muito minha cultura, meus parentes.
Costumo dizer que aqui, para você receber algo de alguém, tem que pagar; completamente oposto da minha terra. A receptividade da minha terra é de pessoa para pessoa. Eu consigo me dar bem, lidar bem, respeito a posição e cultura de todos, porque eu consigo compreender que é algo de região e cultura.
Até mesmo na questão do desenvolvimento dos meus filhos, eu tenho um conceito muito diferenciado e priorizo coisas que eu acho que faltam aqui. Mas, a cultura é de todo mundo, não entro em conflito com isso. Só entro em conflito se alguém falar mal da minha terra, o amor que tenho por ela é visível em qualquer comentário que eu fizer sobre a região.
GAZETA: O que você deseja para o futuro?
Roberta: Eu posso falar que todos meus projetos de vida, que não são deslumbrantes ou deslumbrados, são de um universo simples, eu fiz, pratiquei e planejei.
Hoje, meu projeto é em função dos meus filhos. Eu decidi ficar aqui por conta da logística da região metropolitana. Hoje, consigo dar uma educação mais completa do ponto de vista da logística, porque em cinco minutos eu o levo a um lugar, mais 10 em outro e depois vai para o inglês, por exemplo. Então, hoje, o que me mantém aqui, além dos laços familiares que tive aqui, é o desenvolvimento educacional dos meus filhos, formação técnica e acadêmica.
A minha meta e ambição é desenvolver meus filhos e manter minha família em harmonia, principalmente, manter a ótima convivência que tenho com meu marido, Décio Marangoni, com o qual hoje estou trabalhando junto.