Especialistas caminham para comprovar as sequelas da Covid-19 no cérebro

Alguns sintomas podem se tornar crônicos se não tratados, como a depressão

As manifestações neurológicas de pacientes acometidos por Covid -19 chamam a atenção de cientistas de todo o mundo e são motivo de diversos estudos científicos, a maior parte deles ainda em andamento, com o um objetivo único: entender a relação do vírus com o cérebro humano.
Uma live realizada na quarta-feira, dia 19, reuniu diversos especialistas que debateram acerca dos efeitos da doença no cérebro humano.

Os efeitos da Covid no cérebro
Em todo Brasil, milhares de pessoas que sobreviveram à doença se queixam das chamadas ‘sequelas do Covid’ ou ‘Covid longa’, com sintomas diversos, que vão desde perda de paladar e olfato até dificuldades para resgatar informações no cérebro, concentração e atenção.
Os trabalhos publicados até agora sugerem mais as dificuldades com atenção, concentração, dificuldades com memória operacional, que é a capacidade de manter dados e trabalhar com funções executivas, mais do que memorização, mas é possível também que estas dificuldades com atenção e concentração também afetem a memorização.
Então, se você não está conseguindo prestar atenção em um artigo de jornal que você está lendo você vai ter dificuldade para memorizar, no entanto, a maior parte dos trabalhos não dá destaque a memória, mas, sim, a dificuldades na atenção e disfunção executiva”, pontou Mônica Yassuda, mestre e doutora em desenvolvimento humano pela Universidade da Florida (EUA).
O neurologista assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Adalberto Studart Neto diz: “Em fevereiro, foi publicada uma revisão sistemática com vários trabalhos em conjunto. Este estudo com vários países, a maioria deles do Canadá, observou 644 pessoas contaminadas e identificou que 77% delas apresentaram algum grau de prejuízo cognitivo.
Neste levantamento, o delírio foi a condição mais comum: desorientação, incapacidade de pensar com clareza e prestar atenção e flutuações do nível de consciência, com possíveis causas associadas a alteração na atenção e na memória operacional e funções executivas.
Alguns pacientes talvez precisem também de reabilitação cognitiva, mas hoje existem vários recursos que são aplicados em larga escala, desde software, jogos, que podem ser úteis neste processo de recuperação”, explicou Mônica.

Isso vai passar?
O principal alerta dos especialistas no pós Covid é para a permanência de sequelas que podem se tornar crônicas.
“A maior parte dos pacientes tem queixas que tendem a melhorar, principalmente, sintomas de ansiedade. Porém, alguns sintomas podem se tornar crônicos se não tratados, como a depressão. Já a ausência de olfato e paladar, é bem variável, tem pessoas que demoram semanas, tem pessoas que demoram meses, mas, a princípio, todos recuperam sim”, disse o médico.
A maioria dos pacientes tende a melhorar. Quando não melhoram, é importante investigar a causa porque pode ser que a Covid acelere a manifestação de algo que já estava no cérebro”, alertou.

Neuroplasticida de reserva cognitiva
A reserva cognitiva é um conceito científico baseado na capacidade do cérebro de suportar ataques quando ele possui um ‘armazenamento de conexões’, algo construído ao longo da vida.
Este tipo de reserva, ainda difícil de ser quantificada, segundo a doutora Mônica, tem sido também decisiva na resposta de pacientes a casos graves de doenças graves, hoje em especial a Covid-19.
“Quando uma pessoa tem uma reserva cognitiva elevada, se ela é acometida por uma doença degenerativa, como o Alzheimer, por exemplo, ela deve suportar mais a doença, demorar mais tempo para manifestar sintomas, porque essa reserva foi construída e o cérebro consegue responder a um ataque.
A literatura nos diz que alguns pontos podem nos ajudar na construção desta reserva: estudar muitos anos, ter uma educação de qualidade ao longo de toda a vida, uma boa alimentação e a prática de atividades físicas.
Assim como nós tratamos a saúde de vários órgãos, precisamos cuidar da saúde do cérebro, contribuindo com a formação dessa reserva cognitiva”, disse Mônica.
Método Supera
R. Expedicionários, 1275
F. 3872-3512/ 99250-1636