Espelhos cobertos na tempestade

Ao primeiro som de um trovão, lá ia minha avó apavorada pegar lençóis e toalhas, e cobria todos os espelhos da casa
Juliana Schionato, Comerciante | Instagram: @Julianaschionato

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Antigamente, bastava um trovão que mal se ouvia, e lá ia minha avó desesperada cobrir espelhos. Frequentemente, ao aproximar um temporal, ela me proibia de aproximar de espelhos. Ao primeiro som de um trovão, lá ia ela apavorada pegar lençóis e toalhas, e cobria todos os espelhos da casa.
Sempre que eu perguntava o motivo – curiosa, como toda criança – ela só falava que atraía raios para o interior da casa, e era uma tradição familiar, na década de 30, quando minha avó era criança, os mais velhos cobrirem totalmente os espelhos, além da proibição de qualquer aproximação desse objeto. Quando havia um raio, eles viam o forte reflexo causado por ele nos espelhos e achavam que isso atraía os raios.
Hoje, graças ao acesso à informação, pude saber o porquê do pavor dos antepassados em relação ao espelho. Antigamente os espelhos tinham uma moldura metálica. Esse metal da moldura, sim, trazia riscos, porque se o raio caísse muito próximo, a eletricidade poderia ser conduzida por essa moldura. À época também se atribuía ao fato da casa ser em área rural, sítios, fazendas, em área aberta, atraindo mais facilmente raios.
Outra proibição em casa era o uso de tesoura de metal. Era um trovão e pronto. Não usava mais. Se estivesse na mão tinha que guardá-la rapidamente em uma gaveta.
A mais desafiadora das proibições em tempestades elétricas era a de andar descalço. Segundo os mais antigos, também atraía raios.
Todas essas medidas eram de segurança e totalmente confiáveis àquelas pessoas da época, passadas de geração a geração. Quanto ao espelho coberto, foi provado que nos dias atuais não passa de mito. Quanto ao andar descalço há muitas controvérsias, ainda sendo válida a recomendação dos mais velhos. Para a geração jovem de hoje, com tanta informação, cobrir um espelho é algo inimaginável, bizarro, mas que décadas atrás fez muito sentido ser item necessário de cuidados.

 

Juliana Schionato,
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