Ultimamente, em especial de madrugada, tenho pensado sobre a vida e seus traumas; sobre as coisas que vêm pra nos pregar uma peça, dar uma rasteira e que nos deixam espiritual e emocionalmente por um fio.
Mas, nesses pensamentos, durante minhas orações e “discussões” com Deus, o que Ele ministrava em meu coração, era mais sobre a maneira como reagimos aos problemas, do que a medição do tamanho dos problemas, propriamente ditos.
Há pessoas que vivenciam a morte inexplicável de entes queridos e não conseguem superar isso. Há outros que não superam a dor de uma traição, de um abandono. Há ainda aqueles que não superam a falência financeira. Há os que não superaram uma paixão não correspondida, ou abusos, ou humilhações… Mil coisas!
Mas, em relação aos meus problemas, enquanto buscava, Deus me fez lembrar de Davi e sua história toda com Bate-Seba. Uma história que envolveu adultério, vivido por um homem de Deus. O desenrolar disso gerou um pecado tão grande que Ele permitiu tornar-se exposto através da gravidez de Bate-Seba. Como Davi por si mesmo foi se afundando em culpa, tentando consertar um erro com outros erros ainda maiores, sem confessá-los, Deus enviou o profeta Natã para dar a sentença: você poderia ter tido todas as mulheres, mas preferiu uma mulher casada com um de seus fiéis soldados e, por causa dessa paixão, ainda provocou a morte dele.
Você nunca mais verá paz dentro de seu lar por isso. Embora Eu já o tenha perdoado, a criança que Bate-Seba espera não sobreviverá. (Um resuminho meu, de acordo com o texto bíblico)
As coisas não ficaram fáceis para Davi a partir de então. Ele estava condenado às consequências de seus atos, estava “em baixa” com Deus, e ainda teria que ver morrer o bebê a quem, provavelmente, tanto ele quanto a nova esposa, já se haviam apegado. Acredito que havia várias camadas de sofrimento, misturadas à culpa, medo, vergonha etc.
Davi chorou, lamentou, jejuou, intercedeu. Aqueles que o acompanhavam de perto ficaram agoniados, preocupados com a reação do rei quando a criança viesse a morrer, já que ele se encontrava naquela situação estando ela ainda viva. Mas, quando a morte aconteceu, elas ficaram surpresas com a reação de Davi.
Quando soube que a criança morreu, “Davi levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se e trocou de roupa. Depois, entrou no santuário do Senhor e adorou. E voltando ao palácio, pediu que lhe preparassem uma refeição e comeu. Seus conselheiros lhe perguntaram: “Por que ages assim? Enquanto a criança estava viva, jejuaste e choraste; mas, agora que a criança está morta, te levantas e comes! “ Ele respondeu: “Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei e chorei. Eu pensava: ‘Quem sabe? Talvez o Senhor tenha misericórdia de mim e deixe a criança viver’. Mas agora que ela morreu, por que deveria jejuar? Poderia eu trazê-la de volta à vida? Eu irei até ela, mas ela não voltará para mim”. 2 Sm 12:20-23
Alguns devem ter achado Davi frio demais. Mas, a verdade é que ele tinha duas opções: superar e seguir em frente, ou passar o resto da vida se lastimando, se encolhendo, definhando em remorsos, culpas e saudades. Ele ainda tinha outros filhos para criar, tinha um reino para comandar e um relacionamento com Deus para reconstruir.
Alguns de nós temos grande dificuldade de superar até mesmo palavras. E isto é terrível! É lixo desnecessário acumulado em nossa vida; é “desmaiar” por qualquer coisa, é tornar-se frágil diante da vida.
Sem querer menosprezar o tamanho da dor e do trauma de ninguém, meu conselho para hoje, como faca de dois gumes, servindo para cortar tanto quem escreve quanto quem lê, é que deixemos de lamber tanto as nossas feridas, lamentar os lutos, as perdas, ou mesmo nossos pecados, que já foram perdoados por Deus!
Se ficarmos prostrados, muitos até entenderão e respeitarão nossa dor. Passarão o resto da vida com pena de nós (ou não), mas…
Se nos levantarmos e prosseguirmos, inspiraremos outros a fazerem o mesmo. Viveremos coisas que perderíamos, se ficarmos presos ao luto eterno.
Talvez hoje seja um dia excelente para levantarmos, nos lavarmos, comermos algo (espiritual) ou até uma comida saborosa que nos conforte, ungir nossas cabeças, vestir de novo nossas vestes reais como filhos do Rei e seguir em frente!
O que está feito, está feito. O que foi perdido e não se pode mais achar, deve ser superado. O que passou, passou. Mas o futuro está intacto.
“Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” Fp 3:13-14
Abraço e paz!
Vitor José de Mattos