Familiares de dependentes químicos também devem receber orientação

Grupos de ajuda podem auxiliar a família dos usuários a reconhecer a sua impotência perante o uso de drogas, devido à falta de conhecimento, e assim, obter ferramentas para a luta contra as drogas

O tratamento para a dependência química é importante não somente para o usuário, mas também para seus familiares porque muitos deles, ao descobrirem a dependência, adotam condutas inadequadas que pioram a situação do dependente.
“Em momentos de crise, alguns familiares, com traços agressivos, tendem a tornar-se violentos, os depressivos sentem-se culpados, os controladores aprisionam o dependente em casa, os medrosos se calam, os tranquilos esperam que seja apenas uma fase, os assustados entram em pânico. A verdade é que essas tendências de reações pouco ajudam. O amor só não basta, diálogo é ótimo, mas não resolve”, explica a psicóloga Maristela Ramos.
Devido essas complicações, a orientação dos profissionais é que se procure médicos e grupos de ajuda, como, por exemplo o “Amor Exigente.” Maristela diz que esses grupos podem auxiliar a família dos usuários a reconhecer a sua impotência perante ao uso de drogas, devido à falta de conhecimento, e assim, obter ferramentas para a luta contra as drogas”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como droga qualquer substância não produzida pelo organismo com a propriedade de atuar sobre alguns de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento.
As substâncias psicoativas alteram o estado mental e podem causar dependência. A dependência, segundo a psicóloga Maristela Ramos, é caracterizada como um forte desejo ou compulsão para consumir a substância, pela necessidade de quantidades progressivamente maiores, acentuada redução de seus efeitos, sintomas fisiológicos de abstinência, gasto de muito tempo para obtenção e utilização da mesma, abandono de atividades sociais, ocupacionais e recreativas e o uso contínuo, apesar da consciência de se ter um problema.
O uso de drogas, que é a auto-administração de qualquer quantidade dessas substâncias psicoativas, difere do abuso, que é entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências prejudiciais para o usuário. Essas consequências resultam em danos físicos ou mentais e englobam também as sociais.

O tratamento para o dependente químico
São realizadas pesquisas que buscam avaliar quais tratamentos são mais eficazes porque a dependência resulta de vários aspectos da vida das pessoas: biológico, psicológico e social. Desse modo, as intervenções devem ser diferenciadas para cada indivíduo.

Então, como escolher o tratamento e quem precisa dele?

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Maristela Lopes Ramos Psicóloga CRP: 06/136159 R. Santo Rizzo, 643 Cel: (19) 98171-8591 (FOTO: Arquivo Pessoal)

Para responder essa pergunta, a psicóloga diz que é necessária uma avaliação cuidadosa e ampla sobre quais as substâncias utilizadas, o tipo de consumo (uso experimental ou recreacional, abuso ou dependência), tratamentos anteriores, comorbidades clínicas e psiquiátricas, histórico familiar, entre outras. Quanto maior a gravidade do consumo, mais o indivíduo necessita de tratamento.
Antigamente, conforme indica a especialista, havia poucas opções disponíveis (internação, grupos de auto-ajuda, encaminhamento à especialistas), em que o objetivo final, na maioria, é a extinção do uso (abstinência).
Hoje, adota-se o conceito de “Redução de Danos”, que se constitui de uma estratégia de abordagem dos problemas com as drogas, que não parte do princípio da imediata e obrigatória abstinência, mas, formula práticas que diminuem os danos para o usuário e para aqueles que convivem com eles. O objetivo maior é preservar a vida, e é a estratégia que faz parte das políticas nacionais sobre drogas no Brasil.
Apesar dos vários tipos de tratamento, em todos eles devem ser considerados alguns fatores, como, por exemplo, a “motivação para a mudança”. Maristela conta que a psicoterapia pode ter um efeito catalisador para ajudar na liberação de forças motivacionais que poderão contribuir com a persistência em iniciar e manter comportamentos novos e mais adaptativos, como deixar o uso das drogas. Lembrando que o apoio psicológico para essa população possui como estratégias também, conselhos efetivos, feedback adequado, testes objetivos, discussões de alternativas e de objetivos, custo benefício das decisões, incentivos, entre outros.
Maristela explica, através da literatura, que as pessoas progridem por meio de estágios motivacionais, mas, a importância não está nos detalhes dos estágios, e sim, em levar a pessoa a conseguir decidir, se a mudança será boa ou não para ele. Tem como objetivo, também, explorar a ambivalência (querer e não querer ao mesmo tempo), e os conflitos internos, encorajando-os a expressarem as suas preocupações e argumentos a respeito da mudança.
O desejado é desenvolver uma discrepância ou dissonância entre o atual comportamento e os objetivos declarados pelo usuário. Para isso, a especialista estimula a reflexão “o que vale mais para ele? Acordar esperando por aquilo que o novo dia irá lhe trazer, ou acordar com ânsia de vômito, suando e procurando mais um gole ou mais um trago? Ter um emprego e viver em harmonia familiar, ou morar nas ruas por sua família tê-lo expulso de casa por ter roubado e vendido vários bens?” Mostrar ambos os lados das consequências do abuso de drogas pode convencê-los e fazer com que suas decisões sejam tomadas para o não uso.
O resultado esperado, segundo a psicóloga, é que o “indivíduo consiga vislumbrar que é sem se apoiar em substâncias psicoativas que terá que aprender a lidar com seus conflitos internos e interpessoais, para assim se autoapaziguar e regular seus afetos, sentimentos”.