“Não me interessa nada a respeito de outros professores, mas esta é a minha aula e tem que ser a melhor!”
Frases eram frequentes vindas de Seu Samuel. Embora de uma estatura média, braços finos, Seu Samuel não se importava se tínhamos um pai grandalhão, uma mãe que podia “xingá-lo”, em até vários idiomas, mas aqueles que não se comportavam bem na sala de aula, recebiam o que mereciam: Castigo!
Muitas vezes, sua mão firme levantava o aluno pelo cotovelo e o conduzia até a diretoria para uma conversa pessoal. Ao contrário de outros professores, seu Samuel nunca pensava em pedir reforços ou ajuda para conter a classe. Em suas aulas, todos os alunos ficavam silenciosos, prestativos, que nem acreditávamos.
Éramos alunos noturnos, filhos de pais pobres, muitos trabalhando durante o dia. Ele reconhecia essa importância. Cheguei a acreditar que as crianças ricas eram superiores. Seu Samuel tirava isso de nossa cabeça com cuidado.
Seu Samuel tinha uma forma de entrar em contato conosco que transcendia as diferenças de idade e cultura. Entendia a necessidade de sermos ouvidos e nos ouvia. Ele foi o mestre que nos desafiou alcançarmos objetivos. Foi um dos poucos corajosos que invadiram nossa escuridão fazendo investimentos no futuro dos adolescentes, como eu. Ensinou-nos, que, apesar das diferenças de raça, cor e classe social. Por trás das aparências, as pessoas eram apenas pessoas.
Trinta anos depois, fui procurar Seu Samuel. Encontrei-o numa escola do interior.
Com muita saudade, sabendo como ele receberia qualquer um de nós, cheguei.
Era um dia de aula, andando pelos corredores, me deparei com ele no meio de um grupo de alunos. Seus cabelos já estavam mesclados de fios brancos. Quando ele me deu atenção, aproximei-me:
– Bom dia professor Samuel…
– Bom dia! Em que posso ajudá-lo? – Ele respondeu com aquela mesma voz.
Fiquei paralisado. Meus pensamentos e palavras ficaram entorpecidos.
– Professor, sou eu!
Ele hesita educadamente e não reconhece. Dou um risinho nervoso.
– Não está me reconhecendo, Professor? – provoquei-o.
– Oh! Não acredito! – O velho sorriso ilumina seu rosto – É você?
Sua voz foi embargada enquanto me abraçava. Rimos e choramos de uma forma calorosa. Sentamos ali perto para trocarmos informações sobre o tempo.
Pegou-me, mais uma vez, pelo cotovelo e me levou a Diretoria, mas desta vez para me apresentar e falar sobre nós. Esperei que ele terminasse a aula para irmos até sua casa. Disse aos alunos que estava recebendo uma visita especial.
Não fico surpreso ao saber que ele acompanha alguns de nossa classe. Lamenta por aqueles que foram envolvidos com a marginalidade como se fosse o próprio filho. Exalta os que formaram e os que conseguiram, como eu, constituir família. Ficou orgulhoso de mim. Apresentou-me a família toda como seu eu fosse realmente muito especial. Passamos algumas horas maravilhosas juntos! Conscientizei-me, então, que seu Samuel não mudara nem um pouco. O tempo apenas se incumbiu de moldá-lo em um homem mais velho, capaz de dar muito orgulho aos seus alunos.
Diante de sua família, através dos olhos de um pai, eu disse:
– Seu Samuel, muito obrigado! É de professor como o Senhor que nossos filhos e netos precisam…