Com a flexibilização na retomada, uma das dicas é não se obrigar a sair por ver que os outros saem
Depois de mais ou menos três meses de confinamento/isolamento social, consequência da pandemia da Covid-19, a flexibilização vem acontecendo aos poucos. Será que as pessoas estão preparadas para essa nova normalidade?
Muito tem se falado sobre o medo de sair de casa pós-isolamento social, mas, como saber quando o medo é normal ou patológico (doença)? O medo de um modo geral é um estado emocional que surge em uma situação de eventual perigo. No caso do medo de sair de casa na flexibilização tem sido denominado como uma angústia diante da ideia de sair às ruas e retomar o contato social. Esse medo não é uma patologia, e sim, uma realidade psicológica temporária. Vem acompanhado de alguns sintomas como letargia, desmotivação, dormir demais e outros comportamentos para fugir da situação, como compulsão alimentar ou outras adicções. (Outras situações de isolamento como expedições no Alasca, períodos longos de hospitalização, encarceramento podem causar o mesmo medo.) É como se o nosso cérebro ficasse acostumado com a rotina e aprendesse que a casa é o lugar mais seguro e de maior proteção, e com isso muitos se sentem confortáveis na quarentena e até incomodados quando ela termina.
O confinamento traz, no geral, um tempo maior para se preocupar com tudo. Para algumas pessoas, a sensação é que o confinamento está demorando muito a passar, mas, também como já dito, há aquelas que quando é flexibilizada a saída, se recusa. Ultimamente, têm se visto nas notícias (TV, internet) imagens das ruas e comércios com aglomerações de pessoas que acabam por assustar e até acabar com a vontade de sair de casa.
O isolamento social foi para alguns uma desculpa perfeita para não sair e interagir com pessoas, pois já não se sentiam confortáveis nessas situações. Preferem estar em casa que é um ambiente que acreditam ter maior controle e interagem com pessoas que já conhecem. Sair dessa situação pode causar muitos sintomas de ansiedade. Algumas dessas pessoas trazem diagnósticos de síndromes relacionadas com obsessão, fobias sociais ou agorafobia, que são distúrbios que tendem a aumentar com o relaxamento do confinamento, isso de acordo com pesquisas relacionadas à saúde mental, que pontuam sobre a possibilidade de algumas patologias, como as citadas, serem disparadas nos próximos meses.
A fronteira entre o normal e o patológico é difícil de ser delimitada claramente, mas a principal questão ou fator é a persistência. Se o medo, assim como alguns sintomas mencionados no texto, não regredirem e até aumentarem, e começarem a interferir na vida diária, como trabalho e relacionamentos, por exemplo, são motivos para buscar ajuda.
Há sim um vírus circulando, tem que haver os cuidados. Resistir em sair agora é natural, pois existe um risco real, e não quer dizer que é um medo patológico. É um medo que, de alguma forma, pode ser exemplificado como quando vamos iniciar algo que há algum tempo não realizamos, mas já é conhecido por nós (retorno ao trabalho, depois das férias). Dá aquele frio na barriga, uma angústia. Mas respira-se fundo e vai. Sente-se a segurança novamente.
Algumas dicas:
– Não precisa se obrigar a sair por ver que os outros saem. Não se compare, cada um tem seu tempo, respeite o seu.
– Mantenha uma rotina diária e vá controlando as saídas de casa aos poucos, sempre com a responsabilidade das medidas indicadas.
– Facilite o mecanismo para amenizar o medo do contágio, como ter um local externo para deixar os calçados e as máscaras até que sejam higienizados. Usar roupas e calçados fáceis de tirar.
Enfim, manter a cautela, mas não se privar do contato social e da liberdade de ir e vir, pois são pontos importantes para a saúde mental. A vida continua e não se pode deixar de sonhar. O ser humano tem grande resistência e capacidade de se adaptar. É o momento de se reinventar diante dessa nova realidade.