Finados: entenda detalhes e compreenda sentimentos

No dia 2 de novembro, é comemorado o Dia dos Finados. Além da carga sentimental e de saudade, adata carrega muitas tradições entre famílias de pessoas já falecidas.

Inês Aparecida Kiehl Xavier costuma limpar o túmulo de seus familiaressinal de cuidado, algo que já vem acontecendo antes mesmo da data.

Em decorrência do alto número de visitas, a abertura dos portões do Cemitério Municipal se estenderá até às 18h, na sexta-feira; muitos para visitar e levar flores aos entes que já partiram, e outros para limparem os túmulos, como Inês Aparecida Kiehl Xavier, de 73 anos, costuma limpar o túmulo e lápide de seus familiares algumas vezes ao ano, sendo a época de Finados uma das datas escolhidas. Ela ainda afirma não gostar de deixar o local sujo, buscando limpá-lo sempre que necessário.
Mas, antes das tradições, há todo o processo de busca e aquisição de um espaço no cemitério; ato este que é inteiramente resolvido com o setor público do município.

Aquisição de terreno
Para o sepultamento de um falecido, o processo mostra-se um tanto burocrático. O espaço cedido dentro do Cemitério Municipal é propriedade da Prefeitura de cada cidade, que o disponibiliza por um preço em específico (em torno de R$ 1.500,00, no caso de Cosmópolis).
O processo de aquisição do espaço é feito com os responsáveis pelo Cemitério Municipal, onde as coordenadas com relação à instalação de lápides e túmulos também são dadas.
Caso o familiar não possua condições de pagar pelo espaço no momento, a Prefeitura cede o mesmo por 3 anos, gratuitamente. Ao final do prazo, os familiares podem pagar para manter o ente no local, ou ele é retirado de lá.
A instalação dos túmulos e lápides pode ser feita apenas por profissionais cadastrados pela Prefeitura dentro do serviço em questão; seja ele de pedreiro, marmoraria, etc. A compra dos utensílios para enfeite do túmulo é feita pelo familiar, este que contrata pessoas autorizadas pelo setor público para colocação do mesmo.

Decoração

Clarindo Reinaldo
Zampieri
Proprietário da
Kaká Marmoraria

Uma das buscas mais comuns para qualquer sepultamento são as lápides, já que costumam conter os principais dados do falecido, como foto, nome, data de nascimento e falecimento, e, em alguns casos, mensagens.
O proprietário da Kaká Marmoraria, Clarindo Reinaldo Zampieri, de 39 anos, conta que a pedra mais procurada, atualmente, é o mármore, por conta de sua acessibilidade econômica. “Hoje, o túmulo mais em conta sai em torno de R$ 1.050,00, no tamanho padrão do cemitério, que é 2×1 m. As cores mais procuradas são o cinza e o ocre”, explica.
E mesmo trabalhando com a parte de marmoraria, Clarindo também se sente dentro do luto de pessoas que o procuram. “Acabamos nos tornando um psicólogo, ouvindo e dando atenção total ao cliente. Esse é um momento delicado, tem que saber conversar e deixar o cliente decidir o que quer, nunca induzi-lo”, afirma.

O luto
Aspectos do luto na vida adulta
Quando a inevitabilidade da morte ocorre em nossas vidas, a dor da perda torna-se experiência, sentimentos dolorosos surgem, lembranças sobrecarregam nosso pensar – adentramos no luto.
“O luto é um processo que se inicia logo após a morte. Este momento da perda proporciona ao enlutado sentimentos de pesar e dor profunda pela morte do outro, consequentemente, sua ausência. Este contexto de reconhecer para compreender a trama do luto e seus sintomas, ainda é bastante complexo, mas, passível de reflexão, principalmente, na vida adulta”, comenta a psicóloga Abigail Melo Faria.
A especialista ainda cita que “sendo o luto vivenciado pelo enlutado de forma individual, seu enfrentamento ao sofrimento e/ou a negação da morte direciona um caminho específico para a compreensão do processo de luto. Na vida adulta, a predominância de vínculos afetivos é fortemente arraigada de sentimentos, que se conectam mutuamente com o passar dos dias, formando a realidade física e psíquica do adulto. (Souza, 2016)”
Portanto, a partir dessa realidade afetiva do adulto, quando ocorre a perda do outro, instaura-se um problema para aceitar a separação do outro que o nutria de sentimentos e, agora, não o mais. Deste modo, ao pensar sobre esse aspecto na vida adulta, surge a questão de: Como estabelecer a ideia de uma criança, se deparar com a perda e lidar com ela? Sendo que seu mundo está centrado no âmbito familiar, e quando muito, no âmbito escolar?

Aspectos do luto na infância e formas de enfrentamento

Abigail M. Faria
Psicóloga
graduada pela Universidade Paulista – UNIP,
CRP 06-140725.
Contato: 19-99356-0327
E-mail: bigafaria@yahoo.com.br.

Abigail explica que, se para o adulto instaura-se um problema, para a criança não é diferente. Embora seu psiquismo esteja em formação, a criança tem a capacidade de observar e sentir tudo ao seu redor; por vezes, utiliza a fala para expressar a dor, quando não se isola e passa também pelo processo de luto.
“Na maioria das vezes, há dificuldades em relatar sobre a morte com a criança por parte do adulto, negando o direito da criança saber sobre a ausência de um alguém para sempre, gerando perturbação quanto a elaborar discurso de como sucedeu a morte”, pondera.
Neste conflito existente, tanto na vida do adulto quanto na infância, podem se destacar algumas fases do luto comuns a ambos, como:
– Negação: período de recusa da morte, total inaceitabilidade temporária, grandes aflições.
– Raiva: sentimento perturbador, revolta, a pessoa tenta encontrar culpados, fase de muitos questionamentos sobre a morte.
– Barganha: tentativa de negociar a dor, entre desespero e angústia, a percepção da perda é mais forte.
– Depressão: reorganização interna dos sentimentos, momento para repensar e processar a perda.
– Aceitação: aceitabilidade da falta, sentimento forte de saudade, porém, o retorno à rotina diária. (Kubler-Ross apud Souza, 2016).
Essas fases para cada indivíduo, seja adulto ou criança, se manifesta de maneira intrínseca quanto à experiência de morte.

Importância da família
“Tanto para o adulto quanto para a criança, o apoio familiar é imprescindível para o enfrentamento do luto, mas, esta tarefa familiar não é fácil. Em suma, a família exerce a função essencial na vida de uma pessoa, pois seus vínculos são fortes e eternos. Assim sendo, é relevante para a família se unir ao abordar o assunto, mesmo que a dor seja o sentimento real que os conecte neste momento”, comenta a psicóloga.
Para a criança ainda mais, pois o ambiente familiar é o núcleo, em essência, simbólico e fundamental para seu desenvolvimento. Por estar em formação, o fator da idade pode afetar a percepção da criança sobre a perda devido aos aprendizados decorrentes a cada faixa etária. Sintomas e sentimentos podem ser vivenciados de maneiras diferentes, mas, a conversa é um meio eficaz para a elaboração da perda.
“Não existem fórmulas secretas para o enfrentamento, quanto mais informações verdadeiras sobre a morte do objeto e/ou indivíduo amado forem passadas para a criança, ressaltando a impossibilidade de retorno, torna o caminho mais fácil para a elaboração. (Souza, 2016)”, cita.
“Falar com a criança de forma simples e objetiva, numa linguagem acessível para compreensão, é essencial. Quanto à família, não se preocupar em ter dúvidas de como se expressar ao tentar explicar, demonstre. Para a criança, essas dúvidas desenvolvem a personalidade, o entendimento de que as coisas não são fáceis”, aconselha.
A especialista ainda alerta para que haja permissão para que a criança questione sobre a situação, assim amplia-se na criança a possibilidade de compartilhar e adquirir apoio emocional da família.
“Não invente, diga a verdade sem medo!”, pondera.
Para esclarecimentos e orientações, profissionais psicólogos são capacitados para abordar o tema e auxiliar na busca da elaboração através de psicoterapia individual e/ou familiar.