Durante as Olimpíadas Rio 2016, na modalidade ginástica olímpica, alguns telespectadores ficaram perplexos com a fratura do ginasta francês Samir Ait Said. Porém, o Ortopedista Dr. Raul Casagrande afirma que essa é a fratura mais comum de ossos longos em humanos e não causa espanto algum aos ortopedistas experientes. “Geralmente, as lesões são causadas por acidentes de trânsito, principalmente, envolvendo motociclistas; porém, também estão relacionadas às atividades esportivas, fato comprovado pelo ginasta francês e pelo famoso lutador de MMA Anderson Silva, que também apresentou uma fratura semelhante anteriormente”, explica ele.
O especialista respondeu algumas perguntas da equipe do Jornal GAZETA de COSMÓPOLIS a respeito da tíbia e suas possíveis lesões.
GAZETA de COSMÓPOLIS: O que é a tíbia? Qual é sua localização e função?
DR. RAUL: A tíbia é um osso longo e tubular que, juntamente com a fíbula, constitui a estrutura óssea da perna. É o segundo maior osso longo do corpo. Tem como principal função a sustentação do peso corporal e a transmissão das forças musculares para os joelhos e tornozelos.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Quais são os tipos mais comuns de fratura que podem acometer a tíbia?
DR. RAUL: As fraturas da tíbia podem ser causadas por traumas diretos, quando ocorre impacto na própria tíbia, ou por mecanismos indiretos, no caso de entorses.
As características das fraturas nas radiografias demonstram qual foi o mecanismo de trauma. Geralmente, as entorses promovem uma fratura em espiral, os traumas diretos culminam em traços transversos.
Quando existe um elevado grau de energia, como em acidentes de trânsito, a fratura é cominuta, ou seja, em vários fragmentos ósseos.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Quais são os sintomas de uma fratura de tíbia?
DR. RAUL: O paciente apresenta dor, deformidade na perna, às vezes, com exposição óssea (fratura exposta) e incapacidade de apoiar o peso do corpo.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Através de quais exames o médico pode definir qual foi a lesão?
DR. RAUL: Através do exame físico do paciente, um ortopedista bem capacitado já consegue sugerir uma fratura dos ossos da perna; porém, sempre é necessária a realização da radiografia da perna do paciente. Essa radiografia deve incluir tíbia e fíbula em sua totalidade, além de contemplar a articulação do joelho e tornozelo. Lesões ligamentares podem estar associadas às fraturas e devem ser investigadas através de um bom exame físico realizado por ortopedista e de ressonância nuclear magnética para confirmação.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Quais são os tratamentos para cada tipo de lesão?
DR. RAUL: Em crianças, ainda existe espaço para o tratamento com imobilização gessada; porém, a tendência atual é que fraturas desviadas devem ser tratadas cirurgicamente para conseguirmos um arco de movimento precoce de tornozelo e joelho, evitando, assim, rigidez articular.
Cada caso deve ser avaliado individualmente. Contudo, em fraturas diafisárias, ou seja, no “meio” da perna, o padrão ouro é a fixação com haste intramedular bloqueada de tíbia. Essa fixação permite que o paciente caminhe normalmente já no pós-operatório imediato, além de permitir livre movimentação de joelho e tornozelo.
GAZETA de COSMÓPOLIS: O que uma fratura na tíbia pode trazer como consequência à estrutura e saúde física da pessoa que a sofreu?
DR. RAUL: Geralmente, quando os casos são bem conduzidos e a cirurgia é realizada por ortopedista capacitado, a consolidação completa da fratura ocorrerá em, aproximadamente, 2-3 meses.
As complicações que podem ocorrer, apesar de raras, são: retardo de consolidação, dor residual, sobrecarga nas articulações do joelho e tornozelos e infecção óssea.
O nível de satisfação dos pacientes no pós-operatório é bem elevado e o sucesso cirúrgico ocorre na maioria dos casos.