“Pensemos uns nos outros a fim de ajudarmos todos a terem mais amor e a fazerem o bem…”
Hebreus 10:24,25
Logo, o ato de evitarmos aglomerações (não apenas na igreja) me parece ser um fruto de amor ao próximo, ato de cidadania e exemplo de responsabilidade social. Então, ao realizarmos cultos online estaríamos pecando?
A resposta é óbvia, não! Em Hebreus 25, “deixar de congregar” não é apenas o lugar, mas o ato, além do que a advertência do autor se refere à negligência voluntária. Em nosso caso, não vejo negligência, mas incapacidade e impossibilidade por razões justificadas. Desconheço pastores que ficaram felizes por poderem “descansar” de suas obrigações pastorais durante esse período, ou algum crente que esteja satisfeito por poder ficar em casa sem “culpa” já que a igreja está fechada.
Se não estamos nos reunindo na igreja, é apenas porque estamos realmente impossibilitados. É preciso reconhecer que o culto a Deus não é prerrogativa do templo e deve, portanto, transcender as quatro paredes – ou alguma coisa está errada em nossa espiritualidade. Se dependemos de reuniões públicas para manter a nossa comunhão com o Senhor, isto significa que nossa vida espiritual não vai bem.
Obviamente, não é saudável que alguém se sinta confortável de não estar em comunhão presencial com outros irmãos, contudo, este é um tempo em que o verdadeiro significado de congregar será conhecido apenas nos corações.
Mesmo antes da pandemia, nossa vida espiritual não deveria se limitar apenas à igreja. Sempre houve e sempre haverá necessidade de cultuarmos a Deus fora da igreja, em nossa casa, com nossa família. A vida cristã progride numa lógica conjugada “quarto x igreja”, “público x privado”, “individual x coletivo”.
De toda forma, a fé de ninguém deve ser examinada ou medida pelo comportamento diante de determinada circunstância, como por exemplo, esse vírus. Os cristãos, antes de tudo, fazem todas as coisas para a glória de Deus (I Cor 10:31). Frequentamos a EBD (Escola Bíblica Dominical) aos domingos de manhã para a glória de Deus, nos reunimos para cultuar todos os domingos à noite para a glória de Deus e glorificamos a Deus ao nos submetermos às autoridades governamentais e de saúde. Não promovermos aglomerações (cultos) durante esse tempo glorifica a Deus porque observamos as recomendações do apóstolo Paulo: “Obedeçam às autoridades, todos vocês. Pois nenhuma autoridade existe sem a permissão de Deus, e as que existem foram colocadas nos seus lugares por Ele. Assim quem se revolta contra as autoridades está se revoltando contra o que Deus ordenou, e os que agem desse modo serão condenados” – Romanos 13:1, 2.
Existe aqui lugar para a desobediência civil? Não. Os governos não proibiram ninguém de cultuar ou questionaram a fé de alguém. Apenas em nome do bem estar da população adotam estratégias, orientações sanitárias e de afastamento social para preservação da vida e retomada das atividades socioeconômicas. Se o governo, no exercício de suas funções, nos leva a pecar contrariando ou desafiando a autoridade de Deus, aí sim devemos desobedecer a essas autoridades humanas. Não é o caso agora! Se com a suspensão das atividades presenciais na igreja pudermos evitar nos contaminar ou contaminar alguém com esse vírus, isso é uma demonstração de submissão consciente e legitima as autoridades, além de caracterizar um ato de amor.
Finalmente, devemos evitar acusar de falta de fé aqueles que defendem a manutenção do isolamento ou de irresponsabilidade aqueles que defendem a manutenção do culto presencial. Tudo que é tratado com mansidão e sabedoria tende a alcançar bom termo. É tempo de oração e de confiar em Deus para prosseguir com a vida, ainda que sejam necessárias adaptações de rotina e lugares. Só não é tempo de dividir o Corpo de Cristo com discussões acerca de um tema secundário e, principalmente, tão pontual.
Edwil Vagner Borçatto – Pr. Local da Igreja Cristã da Trindade