Inverno reduz estoques no Banco de Leite da Maternidade de Campinas

A Maternidade de Campinas está em campanha para a coleta de leite materno. Durante o inverno, há uma queda entre 30% e 50% nas doações, o que obriga o seu Centro de Lactação – o Banco de Leite Humano da Maternidade – a incentivar as mães de recém-nascidos a contribuírem para garantir o estoque. A média mensal tem sido de 133 litros, o que representa apenas 66,5% da quantidade necessária para o atendimento aos bebês prematuros.
O estoque médio ideal para suprir com tranquilidade os 40 leitos da UTI Neonatal é de 200 litros mensais. Cada litro de leite materno doado pode alimentar até dez recém-nascidos por dia. Preocupada com a queda do estoque, a Maternidade de Campinas lança a campanha para estimular as doações.

Como doar
Para ser doadora é necessário que a mãe seja saudável, que esteja amamentando o próprio filho e que tenha uma produção excedente de leite após a mamada. O contato pode ser feito diretamente com o Banco de Leite pelo telefone (19) 3306-6039 para o preenchimento do cadastro.
A coleta de leite materno não se limita às mães que tenham feito seus partos na Maternidade de Campinas. As doações também podem ser retiradas nas residências das mães que moram em outros municípios da Região Metropolitana de Campinas. Nesse caso, a coleta na residência é feita pelo motorista da Maternidade, acompanhado por uma técnica de enfermagem do Banco de Leite, de segunda a sexta-feira. Todo material para a coleta e estocagem – que podem ser feitas pela doadora em sua própria residência – é fornecido pelo Banco de Leite.
O leite doado é transportado pelo Banco de Leite em caixas isotérmicas com gelo (geloc) e com controle de temperatura feito por termômetro digital. Para ampliar essa coleta na região, o ideal seria que o hospital também tivesse um veículo exclusivo para isso. “O hospital precisa da ajuda da sociedade e da iniciativa privada para conseguir recursos para a compra de um novo veículo para esse fim”, explica o presidente da Maternidade de Campinas, Dr. Carlos Ferraz.

Exames
Para a utilização do leite doado, são solicitados exames de sangue, provavelmente já realizados no pré-natal. Sem os resultados dos exames, o leite, obrigatoriamente, é descartado. Caso a doadora não os tenha, eles são agendados na própria Maternidade de Campinas.
O hospital oferece às mães os exames de sorologia necessários para atestar a qualidade das doações. Os testes podem ser feitos às segundas-feiras, das 13h às 15h, no ambulatório do hospital. É necessário apenas fazer o agendamento prévio.
O Ministério da Saúde preconiza que é necessário realizar as sorologias de sífilis, hepatites B e C, doença de Chagas, HTLV (Vírus Linfotrópico da Célula Humana) e HIV (Aids). As crianças internadas na UTI Neonatal têm um peso extremamente baixo e precisam de cuidados especiais. Por isso, é preciso garantir a qualidade do leite – sem qualquer contaminação.

Relato de uma
‘mãe de leite’
Maria Goreti Sugwara faz seu relato como ‘mãe de leite’. “Meu bebê nasceu na Maternidade de Campinas, no dia 13 de Novembro de 2018. Foi uma cesárea eletiva, agendada, tudo certinho, porém, depois de nascer, meu filho não conseguia manter a temperatura do corpo sozinho e respirava com dificuldade. Assim, ele foi para a UTI e lá ele ficou durante 10 dias. Nesse tempo, se não fosse a ajuda das meninas do aleitamento materno, eu não sei o que seria de mim… Meu filho nasceu e eu não tinha o contato com ele, gerando uma certa frustração, mas, elas me apoiaram demais e assim eu consegui manter a serenidade.
Ensinaram-me a ordenhar o leite, que meu filho recebia através delas depois, mas, até isso acontecer, meu filho precisou de leite materno e ele recebeu leite de doação. Eu tenho muita gratidão pelas doadoras porque foi o que ajudou meu filho a receber melhor os medicamentos naquele início de vida. Ele tendo que receber tantos remédios e ainda em jejum; quando ele pôde receber o leite materno, isso salvou a vida dele e eu consegui ter leite o suficiente para o meu filho e ainda consegui doar, pois, hiperlactei e as meninas do aleitamento me apoiaram.
Mesmo com o meu filho na UTI, fiz os exames para ser doadora. Quando ele teve alta, os leites que estavam lá que ele iria receber caso continuasse na UTI, eu já doei.
Começou todo o processo da amamentação. Tive dificuldades no início, voltei lá, elas me ajudaram de novo e assim eu consegui amamentar meu filho no peito. Toda sexta-feira, elas iam em casa buscar leite para a doação. Eu tinha muito leite. Na mama que ele iria mamar, eu tirava um pouco para ele poder pegar e a outra inteirinha eu tirava o leite para doar. Depois, ele começou a mamar mais, mas, continuei doando.
Quando voltei a trabalhar, no primeiro mês, eu trabalhei durante um mês e tive que produzir leite para ele e ainda conseguia doar. Tive a sorte de conseguir tirar o leite no trabalho. Depois, tirei um mês de férias, voltei a trabalhar em outra loja e acabei ficando um pouco nervosa; por conta disso, minha produção de leite baixou muito.
De 150 ml que eu tirava por vez, eu passei a tirar 40, mas, eu precisava tirar leite para o meu filho e fiquei 1 semana sem conseguir doar. Na semana seguinte, fui à Maternidade e elas me receberam lá com o Hiro, meu filho, para ver se estava tudo bem com a mama, me aconselharam a ter mais calma – só de conversar com elas, eu me centralizei. Naquele mesmo dia, eu consegui ordenhar 160 ml no período da tarde, foi maravilhoso e voltei a doar o leite.
Com muita gratidão, eu doo, porque eu sei que salva vidas e é super importante o leite materno. Sei que têm mães que não têm consciência, não sabem que é simples e fácil doar. Tenho muita gratidão pela Maternidade de Campinas, escolhi o lugar certo para ter meu filho justamente por ter esse apoio do aleitamento materno. Meu filho é extremamente saudável graças ao apoio das meninas do aleitamento que sempre me incentivaram muito.
Como eu hiperlactei, doía demais, inflamou, passei por todo um processo e elas me ajudaram muito. Me deram conselhos que, muitas vezes, não sabemos, como, por exemplo, muito leite? Tome banho gelado ou pelo menos temperatura ambiente; se tem pouco leite, temperatura quente… Enfim, detalhes que não sabemos. Elas me ajudaram muito. Foi super importante para mim.
Hoje, o Hiro está com sete meses e ainda mama leite materno. Eu consigo ajudar muitas mães com essas dicas que as meninas me deram. Ao mesmo tempo que meu filho recebeu leite de doação, hoje eu sou uma doadora. O que seria mais maravilhoso seria que, mesmo aquela mãe que não tem filho na UTI, doasse também. Tenho duas amigas que doam leite mesmo não tendo passado por isso. É incrível. Sou muito grata por essas mulheres. Sou grata também por ser uma doadora hoje. Muito obrigada, também, por poder dar meu relato aqui na GAZETA de COSMÓPOLIS”.