‘Kiko Cabeleireira’ deixa saudade

Aos 51 anos, dedicou 33 anos de sua vida aos trabalhos de cabeleireira e maquiadora

Dori Garcia, mais conhecida como ‘Kiko Cabeleireira’, faleceu na quinta-feira, dia 22 de setembro, após meses de luta contra o câncer. Dori (Nome Social) era uma das principais figuras da comunidade LGBTQI+ na cidade.
Apaixonada pela Gazeta de Cosmópolis, afirmava que o jornal lembrava o café da manhã dela. “Sem o jornal, meu café não tem graça”, dizia.

Homenagem
Na edição de 4 de maio de 2018, a Gazeta de Cosmópolis publicou uma matéria sobre o casamento entre Dori e o aposentado Macabeus Rodrigues dos Santos, que a acompanhou até o final de sua vida. No mesmo ano, na edição de 29 de junho, a cabeleireira participou do quadro ‘Minha Vida, Uma História’.
Acompanhe trechos das publicações:

UNIÃO
Cabeleireira Dori e Macabeus vão se casar no próximo dia 19
A cabeleireira Dori Edson Garcia, de 48 anos, e o aposentado Macabeus Rodrigues dos Santos, de 41 anos, estão noivos e prestes a se casar no dia 19/05.
Acompanhe um pouquinho da trajetória dos dois noivos.
“Estamos juntos há 15 anos. Nos conhecemos muito por acaso”, começam.
“Há 15 anos, fui dar uma volta, parei em um barzinho e vi o Macabeus sentado sozinho. Ele era tão lindo que não conseguia tirar os olhos dele. Pedi pra ele sentar comigo e nos demos muito bem. A conversa foi fluindo e a hora passava tão rápido que nem víamos”, explica Dori.
Macabeus acrescenta que “eu estava muito triste, havia acabado de ser traído por minha ex-esposa e foi a Dori que me ajudou com tudo isso. Realmente, eu estava desacreditado nas minhas esperanças e me sentia completamente enganado”.
Dori já era assumida ser homossexual desde quando era pequena e afirma nunca ter tido nenhum tipo de relacionamento com mulher. “Eu sempre brincava com bonecas”, confidencia. Mas, ela deixou claro que nunca a julgaram por ter seguido outro caminho: “Minha mãe aceitou tranquilamente, ela me dava bonecas para brincar. Nunca vi rejeição da parte da minha família. Mas, houve um tempo que cheguei para minha mãe e falei: ‘Mãe, quero tocar a minha vida, seguir o caminho que eu quero’. Saí da casa dela, aluguei uma casa e fui morar sozinha porque não queria trazer os ‘meus problemas’ para meu pai e para a minha mãe porque eles são firmes na religião deles”, esclarece Dori.
(…)
“É um sonho nosso fazer esse casamento, com tudo que temos direito. Um casamento tradicional e marcante. Estamos super ansiosos e não paramos de contar os dias! É uma realização muito grande para nós dois”, finalizam.
O casamento ocorrerá em um sábado, dia 19 de maio”.

MINHA VIDA,
UMA HISTÓRIA
Dori Garcia é a personagem do quadro “Minha Vida, Uma História” desta semana.
A cabeleireira, de 48 anos, conta que sempre morou em Cosmópolis e que nunca sequer saiu daqui.
“Nasci em Cosmópolis, meus pais e todos os meus irmãos também, mas, ao contrário de muita gente e deles, não tive a oportunidade de morar na Usina Ester. Todos – até hoje – falam que aquele lugar era maravilhoso para se viver. Meus pais contam que, assim que eu nasci, sendo mais específica (risos), depois de 3 dias do parto da minha mãe, eles resolveram se mudar da Usina porque meu pai havia se aposentado e a Usina não podia ficar com aposentados lá. Foi assim que viemos para a cidade, que foi onde eu cresci”, começa Dori.
A cabeleireira conta que, desde pequena, brincava com suas vizinhas, pois sua mãe não permitia que ela e os irmãos brincassem lá fora. “Mesmo a cidade tendo fama de ‘segura’, minha mãe não nos deixava brincar na rua. Ela achava perigoso e preferia que eu fosse brincar na casa de minhas vizinhas e elas na minha. Desde pequena, minha mãe notou que eu tinha um diferencial em meu gênero, por isso, eu preferia brincar com as meninas”, esclarece.
Dori ainda acrescenta que “com 21 anos, eu me assumi como homossexual. Fui a primeira a se assumir publicamente, a pegar um vestido e sair na rua. Acredite ou não, antes, as pessoas eram menos preconceituosas que hoje. Antes, não existia essa de bater, xingar, etc., as pessoas só pensavam e respeitavam, mas, hoje é ao contrário. Mudei de gênero, agora eu sou oficialmente do sexo feminino. Me casei com um homem espetacular e estou feliz com minha vida. Não tenho nada a reclamar”.