Lar Arco-Íris e Lar dos Idosos são as únicas instituições a funcionar durante a pandemia e passam por dificuldades

Por se tratarem de ‘residência’ das crianças e dos idosos, medidas de isolamento total foram tomadas

Diante da pandemia que assola o mundo, a maioria das organizações, empresas e entidades tiveram suas atividades interrompidas. Contudo, algumas entidades se tratam não somente de um espaço de recreação, mas, do lar de muitas pessoas. Em Cosmópolis, é o caso do Lar dos Idosos Irmã Rosália, a residência de 15 idosos; e o Lar Arco-Íris, a residência de 13 crianças, entre bebês e adolescentes. Nestas duas instituições, os trabalhos não podem parar e os cuidados são redobrados.

Ieda Maria dos Anjos
Auxiliar Administrativa do Lar dos Idosos

No Lar dos Idosos
De acordo com Ieda Kawano, assistente administrativo do Lar, algumas atividades foram instituídas para ajudar os vovôs e vovós a passarem o tempo. “Escutam música, assistem televisão, fazem pintura de desenhos e continuamos com nossas comemorações de aniversário com os idosos e a equipe de funcionários”, afirmou ela.

Visitas suspensas
“No momento, está suspensa a entrada até mesmo dos familiares. Eles conversam por vídeochamada e, quando a saudade aperta demais, permitimos que venham até o portão para que possam conversar, mas, mantendo a distância indicada para a proteção dos idosos. Infelizmente, é um momento difícil e precisamos protegê-los por serem mais vulneráveis”, confirmou Ieda.

Cuidados com os idosos
redobrados
Ieda afirmou que uma série de cuidados vem sendo tomada para evitar qualquer contágio. “As visitas foram suspensas, fazemos higienização das mãos o tempo todo, uso de máscaras quando necessário e muito álcool gel. As funcionárias também não entram na instituição com a roupa que veem de casa, fazendo a troca antes de realizarem suas atividades e também fazendo a higienização necessária. Na entrada da instituição, colocamos um recipiente com cloro para passar os sapatos e um de álcool em gel. Na higiene da casa, aumentamos o uso de cloro e álcool”, pontuou Ieda.

Esperança de dias melhores
Assim que acabar a pandemia, segundo a coordenadora, os vovôs já sabem como comemorar. “Eles pedem baile, festa, muita guloseima, querem visitas. Com certeza, vamos fazer uma bela festa, com a permissão de Deus, quando tudo isso não passar de uma batalha vencida! Devido a pandemia, nós não tivemos como realizar eventos, que mantêm a maior parte dos nossos gastos e, neste momento, estamos passando por uma situação muito delicada. Estamos, sim, precisando de ajuda!”, desabafou ela que listou alguns itens de necessidade básica que a população pode ajudar.

Pedido de ajuda
“Para podermos passar por esse momento crítico, com certeza, precisamos da ajuda da população de Cosmópolis, que sempre foi muito gentil com nossa entidade. Ajuda financeira também será muito bem-vinda. Os itens de necessidade da entidade hoje são leite, café, molho de tomate, frutas, feijão, vinagre, óleo, fralda, papel higiênico, desinfetante, água sanitária, detergente, amaciante, palha de aço, bucha de cozinha, rodo, vassouras e baldes”, finalizou.

Ezequiel Viana Augusto dos Santos – Lar Arco-Íris

No Lar Arco-Íris
Sete meninos e seis meninas são o número de acolhidos no Lar. Contudo, esse número pode mudar a qualquer momento, com novos acolhimentos. De acordo com Ezequiel Augusto Viana dos Santos, presidente do abrigo, vale lembrar que o abrigo atende não apenas a criança e o adolescente acolhido, mas também o seu grupo familiar. “Temos o atendimento / acompanhamento do grupo familiar dos egressos nos últimos 06 meses. Os acompanhamentos dos familiares são realizados junto aos demais equipamentos da rede de proteção e sistema de garantia de direitos”.

Para passar o tempo
Totalmente isoladas, Ezequiel relata o que é feito para passar o tempo e entreter as crianças. “Procuramos manter a rotina de um lar comum, com horário para as refeições, brincadeiras no quintal, sessões de cinema, atividades de culinária, bem como tempo para a televisão e internet. Graças à doação de uma voluntária, conseguimos aumentar a velocidade de nossa internet, e ganhamos um videogame de outro doador. Também comemoramos os aniversários e até promovemos uma festa junina na semana passada – tudo isso, é claro, apenas com as crianças e funcionárias do plantão”, relatou ele.

Rotina escolar alterada
“Tivemos que disponibilizar uma funcionária para auxiliar as crianças e adolescentes na realização das tarefas escolares, o que sobrecarrega o serviço por demandar tempo. Temos crianças e adolescentes de demanda especial com grande dificuldade cognitiva. Não tem sido fácil a articulação para manter a execução do serviço neste caos social que estamos vivendo. Mas, estamos orgulhosos dos nossos acolhidos e a maneira como a maioria vem se saindo frente ao distanciamento social. O bem-estar deles é o nosso termômetro de que estamos, na medida do possível, atingindo o nosso objetivo”, desabafou ele.

Visitas suspensas
“No atual momento de pandemia e distanciamento social como medida de enfrentamento a COVID-19, nós temos seguido os decretos das esferas municipal, estadual e federal, bem como, orientações do Ministério da Saúde e normativas específicas para os serviços de acolhimento institucional. O Serviço de fortalecimento de vínculos hoje é mantido através de vídeochamadas com supervisão técnica. São realizadas visitas “domiciliares” virtuais e o serviço de orientações psicossociais também por meio virtual. Estamos preparados para participar de audiências concentradas virtuais. (Ganhamos um aparelho celular para uso com as crianças e adolescentes e está tendo muita utilidade). Tem dia e horário marcado para o contato com familiares, mas, percebemos que as crianças sentem mais falta é dos voluntários que visitam a casa e realizam atividades diversas, mas que, infelizmente, não estão podendo frequentar o lar”, desabafou Ezequiel.

Cuidados redobrados
“Desde março, suspendemos todas as visitas e atividades no abrigo. Todas as funcionárias receberam máscaras, luvas e foram orientadas quanto ao reforço nos cuidados de higiene como meio de prevenção. É medida a temperatura antes do início do turno de trabalho, evitam sair para horário de almoço. É realizada a troca das máscaras de uso interno na instituição durante o período do turno de trabalho. Também reforçamos o uso de cloro e álcool gel conforme orientações de higienização; atenção e encaminhamento ao centro de saúde no caso de identificação de mais de um sintoma. Orientações às crianças e adolescentes da importância da distância de segurança, dos cuidados redobrados de higiene. A instituição, com a ajuda de voluntários, tem disponibilizado: luvas, máscaras, cloro e álcool gel”.

Pedido de ajuda Lar Arco-Íris
“A primeira ação será dar um abraço bem apertado em todos eles. Assim como todos nós, eles estão carentes do contato social mais humano e caloroso com muito abraço e colo. Em seguida, vamos levá-los na praça aqui perto para correrem, pegarem na terra, soltarem pipa e andarem de bicicleta. Eles estão sentindo muita falta dessas atividades tão simples”. Contudo, uma das maiores dificuldades neste isolamento continua sendo admnistrativa, conforme relata Ezequiel. “Quero aproveitar este espaço para fazer um esclarecimento, pois, infelizmente, muitas pessoas ainda não conhecem o trabalho aqui desenvolvido. Nós recebemos a Merenda Escolar fornecida pela Prefeitura Municipal, por exemplo, mas é a mesma comida servida nas escolas. As tias, muito carinhosamente, tentam um preparo diferente para mudar e não ser sempre a mesma coisa. Nesse período de suspensão de aulas escolares, não temos essa preocupação em repetir a mesma alimentação que já comeram na escola, mas, a Prefeitura não consegue fornecer frutas e legumes, por exemplo. É importante compreender que eles moram aqui. É um lar provisório que, às vezes, a estadia se estende. São crianças e adolescentes como os nossos filhos, que, às vezes, pedem um alimento diferente, seja uma linguiça, uma muçarela, um iogurte, uma bolacha recheada, um refrigerante, guloseimas, etc.
É importante que as pessoas tenham conhecimento disso para que não vejam de uma forma pejorativa. Somos obrigados a fornecer cesta básica para as cuidadoras, um direito garantido por lei. E não temos condições de adquirir as cestas prontas, são montadas com doações da comunidade que literalmente abraça a nossa causa. Cuidamos de pequenos seres humanos que estão em formação, que já foram vítimas de toda sorte de abuso e negligência. Então, se me pedem um iogurte e não podemos comprar, vamos às redes sociais pedir sim.
Graças a Deus, a generosidade grita mais alto que a crítica, e toda vez que pedimos algo, nossos amigos abraçam a causa e doam em fartura. Dessa forma, só temos a agradecer a colaboração de todos os voluntários, amigos e comerciantes da cidade por sempre abraçarem nossa causa. Nosso apelo, então, é ao poder público de um modo geral.
Embora haja muita ajuda, ela não é suficiente. Somos a única instituição que ainda paga aluguel neste município; somos a única entidade que atende crianças e adolescentes vítimas; que funciona 24h por dia nos 07 dias da semana, de maneira ininterrupta, e está funcionando nesta quarentena com 100% de suas atividades, acrescidas das dificuldades advindas do caos social e cenário nacional.
Somos responsáveis por material escolar, medicação, transporte, vestimenta, calçados, atividades de lazer… tudo. E fazemos isso com muito amor. É gratificante cada vida que ganha um novo significado através do nosso trabalho, assim como é extremamente frustrante ver a falta de conhecimento de algumas pessoas sobre o trabalho realizado pela instituição Lar Arco-Íris, principalmente, quando são pessoas que ocupam posições políticas e que deveriam somar e agregar a todo trabalho social do município”, finalizou.