Não é novidade para ninguém que a boa alimentação é importantíssima para nossa saúde, podendo refletir-se a pequeno, médio ou longo prazos. Para crianças, isso não é diferente, e é ainda mais perigoso porque pode afetar o desenvolvimento físico, mental e psicológico dos pequenos. Quem faz essa afirmação é o Pediatra Dr. André Arruda, que também esclarece outras dúvidas sobre a alimentação infantil.
GAZETA de COSMÓPOLIS: Qual a importância da boa alimentação na infância?
DR. ANDRÉ: “A alimentação é um alicerce essencial para o bom desenvolvimento não só físico, como mental, levando em conta crescimento, peso, estatura, saúde da pele, cabelos, além do desenvolvimento do sistema nervoso central e do sistema imunológico, que faz com que diminuam as chances de a criança adoecer e colabora com a capacidade de cognição e interação. A boa alimentação, antes da quantidade, se refere à qualidade, à variedade alimentar, para que possamos obter os diferentes nutrientes que nosso organismo precisa para funcionar. Nosso metabolismo é uma máquina muito complexa, que necessita de diferentes substâncias para manter a harmonia de suas funções.”
GAZETA de COSMÓPOLIS: Quais alimentos (e em quais proporções) podem ser prejudiciais à saúde? Quais danos eles podem causar?
DR. ANDRÉ: “Os alimentos que podem ser prejudiciais à saúde são aqueles para os quais uma determinada pessoa não apresenta boa tolerância, resposta – ou seja, alergia; então, estes alimentos que podem prejudicar o desenvolvimento da criança podem também ser um alimento essencial, como, por exemplo, leite, ou outra fonte protéica. Se a pessoa for alérgica, não deve ingerir estes alimentos específicos sob penalidade de desenvolver sintomas e sinais que possam implicar desde diarreia, dores abdominais, vômitos, e até mesmo sintomas respiratórios ou cutâneos, na pele.
Agora, existem alimentos que por si só são prejudiciais; estamos falando basicamente daqueles alimentos que têm gordura, principalmente, de origem animal, e aquela de origem saturada. Também temos que ter cuidado com açúcar e sal nos alimentos. Devemos lembrar que o sódio não é notado em todos os alimentos que o contêm, como por exemplo, muitos refrigerantes são doces, mas têm alto teor de sódio; sendo assim, consumir alimentos industrializados requer muito cuidado, porque gordura, açúcar e sal são a base que esses produtos utilizam para tornar o seu sabor mais agradável e sedutor, não só para crianças, como também para adultos.
Os danos vão desde alterações do metabolismo, onde a elevação do colesterol da taxa de triglicérides pode comprometer não a criança enquanto criança, mas sim, o adulto jovem, em idade produtiva, capaz de trabalhar, e que já poderá ter as artérias envelhecidas. Isso pode aumentar seu risco de doenças coronarianas e também de desenvolver acidente vascular encefálico, ou derrame, assim como aumento da taxa de triglicerídeos; além disso, pode ocorrer um fenômeno conhecido como esteatose hepática, que é o acúmulo de gordura no fígado, que pode ser causa de insuficiência hepática, podendo levar, inclusive, à perda da função desse órgão.
Também sabemos que o consumo excessivo de sódio pode aumentar as chances de desenvolver hipertensão arterial sistêmica. E por exemplo, citando aqui um alimento muito comum, leite integral, ou leite de caixinha: antes de um ano de idade, o consumo desses alimentos aumenta as chances de a pessoa desenvolver obesidade quando for jovem ou adulta.”
GAZETA de COSMÓPOLIS: Na escolinha, muitas vezes, as crianças são influenciadas pelos coleguinhas, que levam na lancheira alimentos muitas vezes não saudáveis. O que os pais devem fazer para que a criança não fique com vontade, mas, também não se acostume com esses alimentos?
DR. ANDRÉ: “Na escolinha, naturalmente convivendo em grupo, pode-se observar colegas levando diferentes alimentos. Se você vai encaminhar seu filho para a escola com a sua lancheirinha, dê preferência a alimentos in natura, ou eventualmente um pão, que pode ser alternado com o pão integral; como recheio, pode-se utilizar queijo, ou pouca quantidade de peito de peru e manteiga (desde que não tenha sido aquecida com o pão). Os pais também podem alternar com frutas.
O principal cuidado dos pais é de não permitir que a criança torne o consumo de alimentos industrializados uma rotina, como levar todos os dias à escola bolacha recheada, bolinhos prontos, sucos… os sucos devem ser os integrais. Naqueles que não vêm escrito ‘integral’, podem conter, às vezes, tão pouca fruta, que chegam a 10% apenas. Então, imaginemos uma caixinha de 200 ml de suco, em que apenas 20 ml é fruta, e o resto é água, corante e açúcar.
Se nós praticamos uma boa alimentação, o filho irá encarar isso com naturalidade, e vai levar para a escola aquilo que ele está habituado a comer; isso não significa que ele não irá provar a comida dos demais, mas isso não vai virar uma rotina. As crianças observam o que os adultos comem, e, muitas das vezes, o erro está dentro de casa. Se você é um adulto que come mal, como você vai exigir que seu filho se alimente de forma adequada, consumindo alimentos que têm outro valor nutritivo, se o próprio pai não tem o próprio prato colorido? Se ele consome refrigerante durante a semana? Se consome muitos lanches e alimentos industrializados? Então, se o exemplo é dado dentro de casa, mesmo que ele prove dos coleguinhas, isso não virará uma rotina.”
GAZETA de COSMÓPOLIS: A partir de qual idade pode-se oferecer chocolate e outros alimentos doces às crianças? Antes disso, o quanto pode ser prejudicial?
DR. ANDRÉ: “A oferta de alimentos industrializados não deve ser iniciada antes de um ano de idade. Então, esses iogurtes em potes pequenininhos, chocolates, doces, bolachas recheadas, gelatinas, não devem ser encorajados antes de um ano de idade, e muito menos de forma rotineira. O costume de consumir esses alimentos cria uma ideia de que, obrigatoriamente, ela terá acesso àquele alimento. Esporadicamente, para quebrar a rotina, os pais podem até oferecer um iogurte pequenino, ou até oferecer uma bolacha; sendo que você deve regular a quantidade, nunca oferecer pacotes na mão da criança, por exemplo. Se possível, elas devem ser encorajadas a pedir o alimento, e não se dirigirem sozinhas até despensas e geladeiras.
Hoje em dia, a propaganda é muito grande entre desenhos animados e programas de TV. Vemos um incentivo muito grande ao consumo desenfreado não somente de vestuário e brinquedos, mas também de alimentos, e cabe aos pais esclarecer e colocar limite nesse consumo. É claro que não devemos ser pais atrelados a uma cultura de que tudo deve ser 100% natural, e de que os filhos vão comer extremamente bem para o resto da vida. O que não podemos é permitir que a rotina da criança seja entregue ao consumo desenfreado de alimentos que têm baixo valor nutritivo, alto teor de elementos nocivos em médio ou longo prazos.”