Na próxima semana, será feriado no dia 2 de novembro, dia de Finados. Uma data muito significativa para as pessoas que possuem entes queridos em memória, este é o dia de relembrar os amigos e familiares e também de visitar o local onde jazem. Contudo, mesmo com a data específica no calendário, a saudade vai muito além deste dia.
Em Cosmópolis, pelo menos dois casos de saudade entre mães e filhos, laço afetivo muito forte, são exemplos de força e emoção.
Juliana Rampazzo de Brito
Juliana foi mãe aos 27 anos de idade, mas, no dia 16 de março de 2010, sofreu com a perda de sua filha Lorena Rampazzo de Brito, em decorrência de problemas de saúde com a pequena.
Como foi a gravidez da Lorena?
“Nossa filha foi planejada desde o começo, passei por consulta médica antes, tomei ácido fólico e tomei tudo que tinha que tomar três meses antes da sonhada gravidez. Assim, foi tudo tranquilo, tudo normal e não houve nenhuma intercorrência, fazendo da minha gestação uma gravidez super tranquila”.
O nascimento
“Ela nasceu de 36 semanas, em casa foi onde rompeu a bolsa. Dirigimo-nos para a maternidade e a nossa filha nasceu de cesárea. Não ficou na UTI, ela nasceu bem, com peso bom e logo já teve alta, quando veio para casa junto de mim normalmente”.
Complicações
“Ela veio para casa e vomitava muito. Também nas consultas, a pediatra constatou que ela não ganhava peso. Foram pedidos exames de refluxo, o que foi tratado, mas, mesmo assim, a Lorena não vinha ganhando peso. Inúmeras outras consultas foram realizadas, exames e inicialmente nada preocupante, nem mesmo no exame do pezinho estendido. Porém, no raio x, foi constatada uma alteração na área cardíaca após eu notar que ela ficava muito cansada depois da amamentação.
Na segunda visita ao médico, com o mesmo exame, foi constatado um derrame no pericárdio. Foi realizada a drenagem, ela passou pela cirurgia, correu tudo bem e ela voltou para casa.
Após mais uma saga aos médicos e uma consulta com a gastropediatra, a médica mandou internar novamente, visto que nossa filha já estava desidratada em consequência da falta de ganho de peso. Ela internou dia 30 de novembro e, no dia 16 de março, quatro meses depois, ela veio a falecer.
Infelizmente, nosso caso é cercado de dúvidas; mesmo com muitos exames, não temos o diagnóstico dela. Há várias hipóteses e não vimos nenhum caso parecido”.
O que mais ajudou vocês a superarem a morte dela?
“Acredito que foi depois que engravidei da minha segunda filha, a Nicoly. Tive muito medo porque, até então, acompanhando a primeira filha no hospital, eu vi muita coisa, fiquei quatro meses sem vir embora para casa, praticamente morei no hospital, tomava banho, comia, fazia tudo lá e então presenciei crianças falecerem por diversos problemas. Escutava quando me falavam para eu ter fé e isso foi o que mais tive, fé”.
Quando começaram a pensar em ter outra filha?
Na época, fiquei um pouco revoltada. Tive um médico que falava ‘Mãezinha, você é jovem, vai arrumar outro filho!’ E eu brigava, falava pra ele que não queria outro, queria ela!
Até que aconteceu tudo e nós fomos para a fila de adoção. Perdi a Lorena, mas, mesmo assim, queria muito ser mãe, tanto que estamos até hoje na fila da adoção, mesmo depois de eu ter engravidado da nossa Nicoly.
Mesmo assim, fiz terapia para termos uma nova oportunidade. Quando consegui, era incerta essa gravidez, pois, se fosse um erro inato de metabolismo, essa gravidez poderia ter problemas também, era uma incógnita…”
O que a motivou a continuar vivendo?
“O momento da segunda gravidez foi meu momento de superação. Apesar do imprevisto com uma diabetes gestacional e muita preocupação, ela desenvolveu super normal. Porém, também nasceu de 37 semanas, pois, a minha pressão subiu muito. Graças a Deus, ela veio bem e normal e é nosso motivo de felicidade”.
Vocês falam com ela sobre a irmã?
“Confesso que demorei um pouquinho para falar com a Nicoly. Depois, ela via por foto e, quando ela começou a entender as coisas, contei que ela tinha uma irmã, que se chamava Lorena. Demorei também para levá-la ao cemitério, mas, certo dia, no aniversário de morte da Lorena, a levei. Agora, se perguntam para ela, ela conta que tem uma irmã que se chama Lorena e que mora no céu”.
Tornou-se super protetora depois de tudo?
“Sim, mas, na terapia, a profissional já me preparou para isso. Hoje, consigo lidar melhor. Achei que, quando ela fosse para a escola, por exemplo, eu iria sofrer mais, com medo por receio de acontecer alguma coisa. Mas, já no primeiro dia, fui buscá-la mais cedo e ela me disse ‘Mamãe, pode ir embora porque eu não vou agora!’. Fiquei chocada, mas feliz. Ela dorme na minha mãe de vez em quando, mas, na primeira noite, foi muito difícil. Não me considero sem controle, mas sim, super protetora”.
Adoção
“Apesar do medo, queria muito ter mais filhos, porém, meu marido também tem receio e me disse que já temos a Nicoly e ainda esperamos o filho da adoção; decidimos assim”.
Freqüenta o cemitério em dia de Finados?
“Procuro ir um dia antes ao cemitério. Eu tento ter uma vida mais normal, mas, quando chegam natal, dia das crianças, data da morte dela e finados, eu me abalo muito. Por esse motivo, procuro ir antes, porque já acho uma data muito triste e eu chego lá, acabo encontrando pessoas na mesma situação. É muito difícil, arrumo, levo flores, mas não vou exatamente no dia 02 de novembro”.
Claudia Krebsky Galles
Mãe aos 21 anos, Cláudia teve seu primeiro filho, Gustavo Felipe Krebsky. Um menino sonhado e planejado, mas que, aos 20 anos de idade, partiu em decorrência de um fatídico acidente de moto.
Como foi gravidez do Gustavo?
“O Gustavo foi um menino desejado, eu sonhava em ser mãe. Ele é meu primeiro filho, meu primogênito. Sonhava com ele, sonhava em ser mãe e, aos 21 anos de idade, realizei esse sonho, assim que ele nasceu. Na época, não era comum o exame de ultrassom, saber o sexo, mas eu tinha certeza, Deus já havia colocado em meu coração que seria um menino loirinho, de olhos azuis.
E do jeito que eu sonhei, ele nasceu, muito lindo! Foi uma gravidez tranquila, fui uma mãe de primeira viagem, mas, Deus me capacitou, sempre dei muito amor e carinho, sempre foi um filho que não me deu trabalho, só orgulho, só elogios dos professores, muito inteligente, capaz e, como todo jovem, era sonhador, tinha grandes sonhos e acredito que ele chegaria longe se agora não estivesse fazendo parte do corpo celestial”.
O acidente
“Foi no dia 11 de setembro de 2009 a data em que meu filho partiu. Foi um baque muito grande realmente. Meu irmão mais velho faleceu em um acidente de moto também, o único filho homem da minha mãe. O meu irmão com 22 anos e o Gustavo com 20 faleceram com um episódio em comum, o acidente de moto. Agora, dia 17 de novembro, ele completaria 28 anos de idade”.
O que mais ajudou vocês a superarem a tragédia?
“A vontade é de Deus na nossa vida e eu creio que ele está bem, acredito que em tudo há propósito de Deus na nossa vida, Ele é o nosso Criador e não nos cabe questionar muita coisa, apenas aceitar. E o Gustavo morreu em Cristo, ele já tinha entregado sua vida para o Senhor Jesus, ele já havia batizado e também tinha entendimento da bíblia”.
O que a motivou a continuar vivendo?
“Eu acredito que é a força que vem de Deus. Tenho a oportunidade de esclarecer que você fica cercada de amigos, de pessoas que te amam, familiares, na época estava na igreja Nazareno e fui envolvida pelo amor dos meus pastores, das pessoas da igreja, irmãos em Cristo que deram muito apoio. Mas, eu posso dizer que você pode estar com todo mundo, pode estar envolvido naquela esfera de amor, de carinho e consolo, porém, o único mesmo e que vem em primeiro lugar para consolo e que seca as lágrimas é o Espírito Santo de Deus, é Ele quem traz paz, a certeza de onde nossos queridos estão. Eu clamava o tempo todo, abraçava as pessoas, mas, falava ‘Senhor me dá forças!’, ‘Senhor me dá forças!’, o que saía da minha boca era ‘Senhor me dá forças!’”.
Certeza de um lugar melhor
“Deus colocava em meu coração o tempo todo certo entendimento. Deus me motivava, o Espírito Santo falava em meu coração ‘O Gustavo é Meu presente para você, emprestado, mas antes de ele ser seu filho, ele é Meu, e Eu o tomei na hora certa!’. Tenho o Gustavo como um presente por 20 anos na terra em sua presença física. Mesmo após tanta dor, eu sabia que precisava tomar conta da minha família, porque eu ainda tinha meu esposo, minha casa, meus outros filhos, era envolvida na igreja e eu precisava continuar a caminhada”.
Tornou-se super protetora depois de tudo?
“Eu sou, mas, creio que Deus está sempre no controle da vida dos meus filhos e nada foge do controle dEle. Eu coloco sempre meus filhos nas mãos do Senhor, eu cuido aqui, mas, Ele cuida da parte que eu não vejo”.
Finados
“Eu vou ao cemitério, não é frequente, não há valor espiritual para mim lá, mas vivemos na sociedade, levamos os nossos queridos aos cemitérios e procuro, sim, manter em ordem sua sepultura, onde o Gustavo está junto do tio. Zelamos, cuidamos, mantemos em ordem, é uma questão de respeito. Sei que ali estão apenas os restos mortais, tenho convicção de onde meu filho está e está muito bem!”