Mar de losna

A botânica bíblica é muito rica. Através dela, encontramos mensagens riquíssimas que, da mesma forma, enriquecem nosso viver cristão de tal forma que podemos enriquecer outros e outras repartindo o que recebemos de Deus. Das imagens dos profetas às figuras utilizadas nas cartas dos apóstolos, passando pelas parábolas de Jesus, os exemplos que utilizam coisas da natureza e, em especial, as plantas, são magníficos e muito pedagógicos. Revelam conhecimentos profundos sobre Deus e também de Sua criação. Uma destas ilustrações proféticas é a LOSNA.
Planta que em Hebraico se chama “laanah” e em grego “apsinthos”, em português “absinto”, “alosna” ou simplesmente “losna”. Na bíblia, ela aparece por 9 vezes. 8 no Antigo Testamento e uma no Novo Testamento (está no Apocalipse). É símbolo de: INJUSTIÇA = “Vós que converteis o juízo em alosna, e deitais por terra a justiça” (AMÓS 5.7); de PUNIÇÃO = “Portanto, assim diz o SENHOR dos Exércitos, Deus de Israel: Eis que darei de comer losna a este povo, e lhe darei a beber água de fel.” (JEREMIAS 9.15); e de SOFRIMENTO “Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do fel.” (LAMENTAÇÕES 3.19). Sob estes três enfoques aparece ainda em outras 6 passagens bíblicas: Deuteronômio 29:18= “Para que entre vós não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo, cujo coração hoje se desvie do SENHOR nosso Deus, para que vá servir aos deuses destas nações; para que entre vós não haja erva venenosa e amarga (losna)”; Provérbios 5:4 = “Mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois gumes”; Jeremias 23:15 = “Portanto assim diz o SENHOR dos Exércitos acerca dos profetas: Eis que lhes darei a comer losna, e lhes farei beber águas de fel; porque dos profetas de Jerusalém saiu a contaminação sobre toda a terra”; Lamentações 3:15 = “Fartou-me de amarguras, embriagou-me de absinto.”; Amós 6:12 = “Porventura correrão cavalos sobre rocha? Lavrar-se-á nela com bois? Mas vós haveis tornado o juízo em fel, e o fruto da justiça em alosna”. E o único texto do Novo Testamento, Apocalipse 8:11 = “E o nome da estrela era Absinto, e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas”.
Sem desmerecer as qualidades medicinais da LOSNA, que também é parte da criação de Deus, e que quando, devida e orientadamente utilizadas podem curar e trazer vida e saúde, pelas passagens bíblicas acima, o Pai Se utiliza dela, para, no destaque ao amargor da LOSNA, exemplificar o mal que acompanha, muitas vezes, o seu povo, os seus filhos e filhas. A profecia de Amós é um exemplo disso. O povo andava errante.
A mensagem divina que Amós deveria trazer a Israel está bem clara: “chegou o fim” (confira as visões proféticas em 7.1-8, 8.1-2 e 9.1-4). “Javé” tinha, com certeza, motivos muito fortes por trás: as transgressões do povo (cf. 2.6-8, 3.9-12a, 12b-15, 4.1-3, 5.7-11, 8.4-7), as de ordem social (2.8, 3.14, 4.4-12, 21-25, 5.10-12) e as de deturpação do culto (5.18-20, 6.1-7, 8-13,13-14), fruto de uma falsa segurança proporcionada por uma má compreensão da eleição. Ou seja, os ouvintes da Profecia de Amós pareciam mostrar-se seguros frente ao anúncio de juízo contra eles. Porém, estavam agarrados a uma falsa ideia. Tinham já experimentado toda a proteção de Javé, que proporcionou vida a eles. Já tinham feito a experiência de que a prática do bem, o seguir os mandamentos, o buscar a Javé haviam trazido vida a eles. Mas, agora, era visível que uma parte deles estava se lembrando somente da promessa de vida e esquecendo de preocupar-se em fazer o bem.
E isso estava muito visível: – praticavam o comércio, tendo muitos lucros, porém, ilícitos e exploradores; – luxuosidade, grandes casas de marfim e soberba estavam presentes; – viviam em grandes festas de muita comida e bebida; – eticamente, a imoralidade não estava ausente; – relações sexuais ilícitas, maus-tratos de um para com o outro estavam à vista; – não faltavam os que eram falsos em sua religiosidade e que, ao lado de oferendas, dízimos e sacrifícios, visitavam templos pagãos; – injustiças no tratamento dos pobres; – alguns acumulavam tesouros para si, fartavam-se, não se lembrando do necessitado; – tratavam injustamente os pobres nos tribunais, levando à culpa pessoas inocentes.
Para os endereçados da profecia, não restou senão uma remota esperança: uma radical conversão ética talvez levasse a que a compaixão de Deus se revelasse ao menos para uma parte desse povo. Assim, entendemos o mar de LOSNA em que o povo de Deus estava envolvido.
Parece-me uma perfeita imagem para os nossos dias atuais no Brasil. Nadamos atualmente em um RIO DE FEL e que, pelo visto, ainda desembocará num MAR DE LOSNA. Oremos para que a profecia bíblica de Amós seja “lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos” (Sl 119.105) e que a CONVERSÃO aconteça em breve.

Evandro Jair Meurer
Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Cosmópolis