Esta semana, a GAZETA de COSMÓPOLIS realizou uma entrevista com a psicóloga Maristela Ramos, de 44 anos. Formada há alguns anos, Maristela conta como a psicologia surtiu efeito em sua vida.
GAZETA de COSMÓPOLIS: É de Cosmópolis mesmo? Como foi o período de juventude?
Maristela Teresinha Lopes Ramos: Sim. Nasci em Cosmópolis e sempre vivi por aqui. Morei em uma casa que ficava ali na Santa Gertrudes. Quando me casei, continuei na mesma rua (risos).
Casei-me aos 16 anos, pois estava grávida.
GAZETA: No âmbito financeiro, como você e seu marido viviam no começo do casamento?
Maristela: Ele é três anos mais velho, por isso, sustentava a todos na casa. Ele não tinha nenhum patrimônio, fomos construindo juntos ao longo do tempo.
GAZETA: Como e quando decidiu seguir a carreira de psicóloga?
Maristela: Sempre tive o sonho de estudar psicologia, mas nunca tive oportunidade. Só pude me formar quando meu filho já estava mais crescido e meu marido estava estabelecido no comércio dele. A verdade é que parte do que aconteceu na minha vida é motivo para minha escolha de tornar-me psicóloga. Tive muitas dificuldades com relação à saúde mental.
GAZETA: A psicologia é uma profissão um tanto complicada. É necessário ter estruturas para ouvir o que outro tem para dizer, e, de alguma forma, ajudar. Você enfrentou muitas dificuldades nesse âmbito?
Maristela: Eu acredito que para ser psicólogo deve-se ter o dom de ouvir. Muitos imaginam que o psicólogo é alguém que dá conselhos, mas é muito pelo contrário. Nós buscamos caminhar junto com o paciente para que ele consiga encontrar as suas soluções
Eu não encontrei dificuldades em lidar com essa parte, mas sim, em lidar com o início. Depois que me formei, precisava de um norte, pois estar por conta própria é assustador. O mercado de trabalho não está muito aberto, é necessário lutar muito pelo próprio espaço. Convênios também são complicados de aderir, é necessário ter alguns anos de exercício na profissão.
GAZETA: Você já possui a sua clínica. Como foi o processo de abertura da mesma?
Maristela: Eu trabalhava como auxiliar administrativo. Pedi minha dispensa e, com o dinheiro que recebi, consegui montar meu consultório. Tive alguns receios, sim, mas entrei de cabeça. É sempre uma luta constante.
GAZETA: Qual a sua especialização e a sua abordagem?
Maristela: Sou especializada em psicologia clínica sob a abordagem da psicanálise.
GAZETA: A psicologia abre muitos leques. São diversas abordagens e que seguem linhas completamente diferentes. Como descobriu que era psicanálise que queria seguir?
Maristela: São muitos ramos de fato, mas, quando se acredita que o comportamento e até mesmo a personalidade das pessoas são regidos pelo inconsciente, você pode ter certeza que é a psicanálise que deve seguir.
GAZETA: Quais as dicas que você gostaria de deixar para quem deseja seguir a psicologia e quer ter certeza que está na profissão correta?
Maristela: O principal é gostar de ouvir as pessoas, estar sempre aberto a se desprender dos seus julgamentos e princípios. Não buscar encontrar soluções, e sim, apenas ouvir e incitar a pessoa a buscar a solução para o próprio problema.
GAZETA: A psicologia é uma profissão difícil?
Maristela: Sim. É uma profissão que demanda muito tempo, dedicação e gosto pela leitura. São muitos ramos, como já dissemos, e é necessário conhecê-los para descobrir qual te define mais.
GAZETA: O que a psicologia fez por você?
Maristela: Eu consegui ver muitas coisas de outra maneira. Consegui ressiginificar muitas coisas do meu passado, além de trabalhar questões familiares.
Às vezes, não entendemos por que nossos pais agiram de certa maneira conosco e, no fim, acabamos culpando-os por algo ruim que aconteceu em nossas vidas. Estudando a psicologia, pude perceber que eles também trazem cargas de suas respectivas criações, o que justifica muitos atos que os mesmos possam ter cometido. Quando consegui entender isso, passei a perdoar. Você consegue ressiginificar o seu passado. Em terapia, esse é o principal ponto. Você passa a olhar para as coisas de forma diferente.
GAZETA: Qual a importância dessa ciência para a vida das pessoas?
Maristela: Eu me sinto até triste em imaginar que as pessoas achem que a psicologia é coisa de “loucos”. Na verdade, seria essencial se todos pudessem ir ao psicólogo, pois, em toda nossa vida, nos deparamos com conflitos e problemas.
Conversar com um amigo ou com um familiar não é a mesma coisa. Ele irá te aconselhar e, muitas vezes, te julgar por isso, coisa que, em terapia, não irá acontecer. Não existirá julgamento, além de sempre haver grande sigilo, um verdadeiro ponto positivo.
GAZETA: De certa forma, a área clínica enfrenta muitas dificuldades na questão financeira. É necessário ceder bastante para conseguir se estabilizar nesta área. Você já se sente estável? A psicologia clínica pode ser o suficiente para construir uma vida confortável?
Maristela: Eu ainda não estou segura financeiramente na área, mas conheço muitos profissionais que vivem da psicologia clínica. É obvio que demora um pouco, é necessário procurar o seu lugar e se tornar experiente, mas é possível.
GAZETA: Apesar de tudo, você se sente satisfeita, principalmente, por ter alcançado sua profissão dos sonhos?
Maristela: Com toda certeza do mundo, sim! É uma realização pessoal. Eu amo a psicologia, amo tudo relacionado à psicologia. Quando estou cansada e estressada e sento na minha poltrona para escutar alguém, é como se eu esquecesse dos meus problemas. Naquele momento, tenho toda paciência do mundo. É amor, sem dúvidas!