Mercado de trabalho está muito receptivo a pessoas aposentadas

“Com experiência e vontade de trabalhar, elas são bem-vindas em cargos que exigem estratégias e melhoramento de habilidades...”

A cada dia ano que passa, é maior a dificuldade sentida pelas pessoas mais velhas em se adequarem aos novos conceitos e à tecnologia em seus trabalhos. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE em 2017, cerca de 4,5% dos postos de trabalho na época, eram ocupados por idosos. Com a crise financeira se agravando desde então, estima-se um número maior na taxa de aposentados que acabaram precisando procurar emprego.
Odair Camargo, Headhunter e Coaching, conta que outros países já têm programas muito bem elaborados para o grupo da terceira idade.
“A idade vem chegando e, com ela, chega o desemprego para o pessoal da chamada 3ª Idade. Em um País onde não para de crescer a taxa de desemprego, agravada com a pandemia, o Brasil segue a passos lentos na retomada da economia. E ainda em época de eleições, onde o futuro do Brasil é incerto e a renda do brasileiro é péssima, cada vez mais, as pessoas têm que se reinventar para buscar uma recolocação. Se para um jovem já está difícil uma colocação, para o público idoso as chances diminuem bastante.
Antigamente, no Brasil, quando a pessoa atingia a idade de 40 anos, já estava ‘velha’ para trabalhar. Hoje, esse índice etário subiu um pouco, oscilando na casa dos 50 a 55 anos. Acima dessa idade, realmente o brasileiro começa a sentir uma grande dificuldade de recolocação.
Muitos, por não conseguirem uma recolocação, acabam migrando para o mundo do empreendedorismo, abrindo seu próprio negócio, visto que esses profissionais carregam uma grande bagagem profissional.
Segundo recentes pesquisas, para o profissional que tem um alto nível de escolaridade, com um curso superior, a chance dele se recolocar em cargos mais altos ajuda muito a ser contratado pelas empresas; isso já não acontece com as pessoas com um nível baixo de escolaridade, levando sempre a procurar subempregos e, muitas vezes, sem registro em carteira.
A informalidade é enorme no Brasil. É muito grande o número de pessoas que não têm registro em carteira e, consequentemente, não contribuem para o INSS, ficando sem um amparo social.

Estatuto do Idoso
O Estatuto do Idoso, que trata sobre questões relativas a trabalho e renda, protege a população da terceira idade e garante direitos a uma vida digna. Entre eles:
• desconto de 50% em atividades culturais, esportivas e de lazer;
• programas educativos sobre envelhecimento nos meios de comunicação;
• penalidades para quem mostrar imagens que desrespeitem as pessoas mais velhas;
• sanções a quem abandona idosos sem assistência, entre outros.
Porém, em um País onde existem leis e não são cumpridas à risca, o Estatuto, infelizmente, não é a realidade para muitos e não é respeitado.

Outra visibilidade
Mas, existem diferenciais, nem tudo está perdido. Muitas empresas estão buscando responsabilidade social, ou seja, estão preocupadas com a sociedade.
Nesse sentido, elas mantêm programas de inclusão da terceira idade, fortalecendo o employerbranding ou marca empregadora. Essas empresas têm uma visibilidade muito grande no mundo dos negócios, até a nível mundial, visto que outros países já têm programas muito bem elaborados para o grupo da terceira idade.
As pessoas na faixa dos 50 anos acima não têm mais as condições físicas de um jovem de 20 ou 30 anos, mas carregam uma extensa carga de conhecimentos e habilidades não encontradas em um grupo mais jovem. Os profissionais mais ‘idosos’ são muito bem-vindos em cargos que requerem estratégias para um melhoramento de habilidades técnicas dentro da empresa.
As condições adequadas para esses colaboradores da 3ª Idade seriam:
• carga horária adequada;
•funções e atividades compatíveis;
• acesso e movimentação no ambiente de trabalho, sempre respeitando a limitação física que a idade impõe.
O idoso, hoje, está galgando projetos bem maiores na sua vida e, quando encontra empresas comprometidas com o ‘ser humano’, independente da idade e respeitando toda sua bagagem profissional, o casamento é certo, onde trabalhador e empresa sempre ganham.
Mas, em um País onde a desigualdade de cor, raça, idade e outros é relevante, o Brasil ainda se encontra longe dos ideais corretos para a valorização do profissional ‘idoso’.
Mas, desistir jamais de buscar a valorização do profissional, independente da idade”.

Experiência: 53 anos de trabalho ininterruptos
Oscar do Carmo Silva Neto, aposentado, de 69 anos, é morador de Cosmópolis há 35.
Confira o depoimento sobre sua experiência profissional e sua visão sobre o mercado atual.
“A aposentadoria é um dos almejos de quem trabalha tantos anos na esperança de um dia desfrutar de todo aquele recolhimento que fazemos durante nossa caminhada profissional.
Eu completei, neste mês de maio último, 53 anos de trabalho ininterruptos, tendo apenas alguns dias na mudança de um emprego para outro.
Comecei como Patrulheiro Mirim em Campinas. Trabalhei por diversos anos no Serviço Público Estadual e Federal. Hoje, trabalho no Setor Funerário da Prefeitura Municipal de Cosmópolis, onde me aposentei há mais de dez anos.
Na maioria dos empregos, foi sempre alternando em horários diurno e noturno. Quando me aposentei, cheguei a pensar em me desligar de tudo, mas, depois, pensando bem, como gosto e amo o que faço, preferi fazer diferente de alguns que vão a passeio, à beira de rios para pescar ou a praças e jardins para se encontrarem com outros aposentados, para jogarem cartas e participar de uma boa prosa.
Achei que isso nada combinaria comigo… Primeiro porque tenho fobia de ficar um dia ocioso, sem ter o que fazer e outro motivo é continuar na ‘engrenagem’ de uma vida que fiquei há tantos anos.
No meu trabalho, desde quando estava no Estado, como oficial de administração, achei que não me adaptaria à nova tecnologia que chegava nos anos noventa. A substituição das máquinas de datilografia por computadores até me apavorou, mas, hoje, não consigo viver sem um celular e um notebook ao meu lado.
Na Área do Rádio, que faço há quase trinta anos, foi também muito difícil me adaptar.
Eu vejo que o mercado de trabalho está muito receptivo a pessoas aposentadas com experiência de vontade de trabalhar. Basta querer que encontra, sim. Sempre que os mais ousados me dizem que eu deveria ficar em casa e ceder lugar para os mais novos, acho isso um verdadeiro preconceito.
Gosto do que faço; apenas deixarei de trabalhar quando meu empregador me disser que estarei dispensado, aí sim me afasto, mas não necessariamente para ficar esquentando grandes sofás ou frente a telas de TVs.
Meus filhos já estão encaminhados na vida e não precisam de mim financeiramente, diferentes de muitos outros que necessitam da renda dos avós na criação de seus filhos. Não que eu trabalhe apenas por não ter o que fazer. Uso meu dinheiro em passeios nos meus dias de folga com familiares e com quem gosta de estar comigo. As minhas idas e vindas à minha terra natal me dão também muito prazer”.

Odair Camargo Consultor RH Headhunter / Coaching

Oscar do Carmo Silva Neto Aposentado Radialista Agente Funerário