Se a morte é um acontecimento muito difícil de ser entendido e falado para adultos, em relação às crianças isso se torna um assunto ainda mais delicado e complexo de ser entendido. Porém, a morte é um fato presente em nosso cotidiano, fazendo parte da trajetória de vida.
A psicóloga Thaís Vomero que atua com psicoterapia infantil de orientações aos pais explica que a ideia do ciclo de vida, com começo, meio e fim pode ser introduzida desde cedo, o que ajudará na melhor compreensão de futuras perdas. “O simples fato de cultivar uma plantinha já pode ensinar muito, dia após dia a criança acompanha o desenvolvimento e o declínio. O assunto pode ser abordado dentro da necessidade, seja quando houver um falecimento ou quando a criança esboçar a curiosidade. Isso, somado às pequenas mortes do dia a dia, dos insetos, plantas e pequenos animais, são um bom treino para entender a sequência da vida e facilita na hora de lidar com uma morte de alguém próximo”.
Muitos adultos se questionam qual seria a idade certa para falar com a criança a respeito do luto ou da morte, principalmente quando alguém próximo da família ou até mesmo um parente falece. A compreensão do conceito de morte vai depender da idade e do desenvolvimento psicoafetivo da criança. “Aos dois anos, a criança não consegue reconhecer a finitude. Aos três anos não entendem a morte como definitiva e irreversível, mas já conseguem perceber que a perda ocasionará ausência das brincadeiras com aquele que faleceu. Aos quatro ou cinco anos a criança começa a perceber um pouco melhor algumas relações da vida e ter maior acesso às informações. Pode ser que nessa faixa etária surja maior curiosidade sobre o assunto. Aproximadamente aos sete, oito anos conseguem entender um pouco melhor que a morte é irreversível, sendo que a partir de 12 anos esse processo pode ser entendido por completo”, orienta a psicóloga.
É normal que os adultos tenham receio em levar a criança em velórios ou enterros. “Velórios e enterros são rituais de passagem, que proporcionam a vivência da despedida. Deve ser explicado para a criança como é o velório (que ela pode se deparar com cena triste, com o corpo no caixão, com pessoas chorando, que as pessoas estão se despedindo, que o corpo no caixão já não sente mais nada, nem frio, nem fome, nem sede) e deixar que ela opte por querer ou não comparecer, sem forçá-la a nada e respeitando seu desejo em participar ou não do ritual”, explica a psicóloga Thaís.
O adequado é conversar com a criança de forma sincera e simples, com delicadeza, de acordo com a informação que a criança manifesta vontade de saber, isto é, a forma de abordar o assunto deve ser adequada às necessidades da criança e com uso de uma linguagem apropriada à sua idade. “O ideal é explicar com exemplos concretos, por exemplo, ’igual acontece com a plantinha, que nasce, cresce e morre’. O contexto deve ser seguro e de troca de afetos. Esconder da criança pode gerar perda na confiança do adulto, insegurança, sentimento de exclusão familiar. Livros infantis que abordam o assunto podem auxiliar bastante”, orienta Thaís.
Além disso, é muito comum que os adultos inventem histórias para as crianças, como por exemplo, dizer que a pessoa que morreu foi viajar, ou então, que virou uma estrela ou foi morar com Deus. A psicóloga explica que isso pode confundir a criança e fazer com que ela crie esperanças que a pessoa irá voltar. “Vale ressaltar que a criança tem o pensamento concreto e o fato de dizer ‘virou estrelinha’ pode fazer com que ela queira virar estrelinha também, ‘papai está dormindo no céu’ pode gerar medo da criança dormir. A criança acredita no que fantasia como verdadeiro, por isso a importância de explicar de forma clara e objetiva. Os pais ou responsáveis devem deixar claro para criança o que realmente aconteceu, explicar que a pessoa não irá voltar, que é natural sentir-se chateada ou triste por isso. Vale ressaltar também que o mais importante é o acolhimento que será dado para essa criança, dando suporte e respondendo as suas necessidades”, finaliza a psicóloga.