Após cerca de duas semanas, do acidente que vitimou Fabrizio Moretti, o outro motociclista, envolvido no acidente, conta sua versão dos fatos.
Acompanhado da Sra. Marta Lucas Moretti, mãe de Fabrizio, Kleber Conservani Corrêa afirma que, mesmo após duas semanas, ainda sente dores no peito, decorrentes do acidente.
Gazeta de COSMÓPOLIS: Kleber, como foi no dia do acidente? De onde vocês estavam vindo?
Kleber Corrêa: Nós fomos em cinco motos para Holambra. Fomos a um encontro lá, beneficente. Pagava um quilo de alimento ou R$ 5,00, apenas para ajudar o pessoal.
Por volta das 15h30, viemos embora. Nós fomos para lá por volta das 12h30.
Só que as outras três motos, que foram com a gente, ficaram lá ainda. Eles estavam com as esposas e namorada, eles estavam comendo ainda. Decidimos vir embora antes porque tínhamos um compromisso à noite.
Viemos de Holambra, pegamos a Vicinal. Quando estávamos na linha reta, chegando em Cosmópolis, aliás, já tinha até desacelerado a moto, veio esse Citröen C3. Ia entrar ali no Canaã. Ele indo daqui para lá (de Cosmópolis a Holambra), converteu à esquerda. Disse que deu seta, eu não vi. Como eu estava um pouco mais atrás, eu vi o carro. Ele pegou o Fabrizio na minha frente, na minha faixa. O Fabrizio tentou ‘limpar’ um pouquinho para a direita e deu de frente. Eu segurei, tentei desviar dele, mas ainda dei uma resvalada nele e saí para o acostamento.
Gazeta: Então, você viu todo o acidente?
Kleber: Vi. Três pessoas viram o acidente. Únicas três pessoas que viram o acidente foram quem estava no carro um pouco à frente da nós, que tinha duas pessoas que me socorreram. Foram elas que me socorreram. Inclusive, o Márcio [que estava no carro] viu pelo retrovisor. Ele escutou o barulho, olhou, viu minha moto saindo e eu tentando ‘limpar’ do carro; me viu caindo no mato e minha moto caindo na pista. Aí, ele retornou para me pegar. Ele parou uns cinquenta metros de distância porque estava saindo muita fumaça da minha moto e achou que ia pegar fogo. Ele me viu saindo do mato e a mulher dele desceu, já me pegou, colocou dentro do carro. Eu queria ir lá para pegar o Fabrizio, mas ela falou que não, que já tinha gente lá. E me levou para o hospital.
Gazeta: Quando você chegou ao hospital, você já sabia que o Fabrizio tinha falecido?
Kleber: Não. Depois de o médico me interrogar, me fazer repetir um monte de perguntas: O que aconteceu? Onde eu estava? Quem eu era? Que moto era a minha? Diversas vezes, ele me perguntou. Aí, ele percebeu que eu estava lúcido, voltou e me contou. Mas, na hora, eu fiquei na dúvida. Só mais tarde que caiu a ficha.
Gazeta: Você tinha seguro da moto?
Kleber: Não. Tinha rastreador. Aquele rastreador antirroubo. Tem um aplicativo no meu celular, para acompanhar onde está a moto. O registro de velocidade aqui do rastreador, na hora da queda, 15h59, dá uma variação, e deu 81 km/h. Eu acredito que o Fabrizio estava na mesma velocidade.
Nós já estávamos chegando na cidade, já tinha tirado a mão do acelerador. Já tinha até arrumado a camisa. Normal dar uma ‘relaxada’ quando está chegando, tem uma lombada na frente. De repente, aconteceu tudo isso.
Gazeta: Vocês sempre passavam por aquela estrada?
Kleber: Sempre. É o caminho para Serra Negra, Holambra, Jaguariúna, onde íamos bastante. Direto. Sabemos que ali é perigoso. Já vi gente falando que entrou cavalo na frente; entrou capivara na frente. É perigoso alguém sair de um sítio, trator.
Mas, a gente ia por aqui porque é mais perto.
Gazeta: Você sempre teve moto?
Kleber: Sempre. Nunca caí. Nem encostei moto no chão. Nunca na vida. Primeiro tombo meu foi esse.
A Senhora Marta, mãe do Fabrizio, acompanhou toda a conversa com o Kleber e também quis falar sobre o seu filho.
Ela disse como recebeu a notícia do acidente de Fabrizio.
Marta: Eu acho que mãe pressente. Eu estava muito preocupada com ele nesse dia. Porque ele veio, me abraçou, me beijou e falou: ‘Mãe, sabe que eu te amo? Já falei hoje?’. A gente tinha esse costume. E, nesse dia, ele fez um gesto diferente, e eu fiquei com aquilo.
Quando eu recebi a notícia, eu estava no salão. Quando o celular tocou e eu vi que era o telefone dele, já estranhei. Eu comecei a tremer. Porque, quando eu atendia, ele já perguntava do pai dele, ou falava outra coisa. E, dessa vez, foi a voz de uma mulher, perguntando se eu era mãe do Fabrizio. Eu perguntei: ‘por que? Aconteceu alguma coisa com ele?’. E ela falou que tinha acontecido um acidente, de um carro com uma moto e que era para eu ir na delegacia. Aquilo, para mim, eu já tive um pressentimento de que não era uma coisa boa. Só que, na hora, eu nem pensei em perguntar o lugar, que guarita?
Aí, eu não conseguia mais falar. Eu não estava nem ouvindo mais o que a mulher estava falando. Minha amiga pegou o celular da minha mão e começou a perguntar. A mulher falou para ela que o Fabrizio já tinha entrado em óbito, mas, ela não passou para mim. Ela só gritou para o marido dela me levar porque eu não tinha condições de ir.
Eu fui até a delegacia. Chegando lá, já fui falando, perguntando onde estava o Fabrizio, que eu era mãe dele. O homem que estava lá [atendendo no plantão], me deu a notícia.
Quando eu cheguei lá, só tinha visto o carro. Um policial segurou em mim e pedia calma… Para mim, meu filho estava ali, embaixo das ferragens. Aí, eu fui querendo ver e vi o corpo coberto.
Kleber também falou sobre o motorista do veículo, envolvido no acidente.
Segundo Kleber, “Ele não entrou em contato. Ele não deu assistência nenhuma até agora. Todos os telefonemas meus, ele não atendeu. Um só ele retornou, que outra pessoa atendeu, disse que ele estava em uma reunião, que logo ele me ligava. Depois de uns vinte minutos, ele me mandou uma mensagem, de texto, para entrar em contato com o corretor de seguros dele. Me passou o nome e o número do corretor. Eu queria perguntar como ele estava.
Ele ficou o tempo inteiro internado comigo no hospital, até às 22h10. Eu saí às 22h10 e ele saiu às 22h30. Ele não teve a capacidade de perguntar como eu estava. Eu falei para minha esposa: Vai lá e pergunta como ele está. Ele respondeu que estava mal e que estava doendo. Mas, em nenhum momento, ele falou: É você do acidente?? Nada, nada. Muito estranho.
Dona Marta, mãe de Fabrizio, emocionada, deixa uma mensagem para todos que prestaram apoio no momento de dor.
“Eu quero agradecer as pessoas que eu nem imaginava conhecer. A quantidade de pessoas que estiveram no velório do meu filho foi muito grande. Pessoas, que eu nem lembro, às vezes, delas e falavam o meu nome. Porque eu estudei aqui, eu trabalhei aqui, eu sempre morei aqui. Eu nem sabia que eu era tão conhecida.
Eu quero agradecer essas pessoas pelo apoio no momento de dor que eu estava passando. Por estarem lá. Por terem acompanhado esse momento. Eu quero deixar o meu agradecimento. Nesse momento, vi que as pessoas estavam sentindo a mesma dor que eu estava”.
O inquérito policial, que apura as causas do acidente, continua na Delegacia local. Os laudos, do Instituto de Criminalística ainda não foram expedidos.
Testemunhas serão ouvidas até a conclusão do inquérito.